Pode haver categoria profissional tão politizada e informada quanto a dos petroleiros. Mais, é difícil. Isso é o que comprovam os resultados das assembléias que fortaleceram o indicativo da FUP e do NF de realização de Greve com duração de cinco dias, com parada de produção, no mês de julho.
Os trabalhadores entendem o ambiente de disputas políticas na Petrobrás e sabem que precisam tomar posição. Como em tantos outros embates históricos, a questão é ideológica, muito mais que técnica.
A Petrobrás possui um traço identitário curioso: ao mesmo tempo em que é fruto de muitas lutas populares e tem uma presença simbólica simpática junto à população, mantém aspectos conservadores em sua administração — fruto da mão de ferro com que foi gerida no período da Ditadura Militar, quando havia até hasteamento de bandeira toda manhã para o presidente da empresa entrar no Edise.
A tensão entre uma Petrobrás militarizada, vertical na relação com seus trabalhadores e indiferente na relação com a sociedade, e uma Petrobrás aberta, democrática e envolvida com as questões comunitárias, sempre esteve presente.
Quando, agora, se discute o PCAC, este pano de fundo ideológico se manifesta. Todos sabemos que o verdadeiro problema do Plano não está nos números. Se fosse, a empresa não teria dificuldade para resolvê-lo.
A questão está na forma como a empresa vê a sua relação com os empregados. Sob a ótica dos setores conservadores ainda presentes na companhia, os funcionários devem ser tutelados, mantidos sob constante ameaça, à mercê do poder imperial dos gerentes. Sob a ótica dos trabalhadores, a produção e o envolvimento com a empresa aumentam quando os empregados gostam do ambiente de trabalho, atuam com prazer, e têm perspectiva de ascenção por mérito, e não por apadrinhamento.
Cruzar os braços, parando a produção, como farão os petroleiros, por questões aparentemente tão abstratas, é uma prova de maturidade política que, infelizmente, poucas categorias profissionais podem dar. Isso aumenta a responsabilidade dos petroleiros sobre as suas lutas e as dos demais trabalhadores brasileiros.
Vamos, mais uma vez, à luta companheiros!