A exploração do gás de xisto: o Brasil na contramão do resto do mundo

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Por José Maria Rangel – diretor da FUP e Coordenador Geral do Sindipetro NF

Se o mundo inteiro busca resistir fortemente à exploração do gás de xisto, o Brasil tenta iniciar a exploração desse recurso energético. De modo praticamente obscuro e sem debater com a sociedade – que pode ser a principal atingida pelos efeitos negativos desse processo –, o governo brasileiro pretende leiloar as áreas de reservas de gás de xisto. Além de não existir uma legislação e um aparato regulatório claramente definido, os riscos ambientais e sociais desse gás não estão claros.

Embora não haja uma definição sobre os impactos, alguns estudos têm apontado para a existência de grandes impactos ambientais trazido pelo gás de xisto. Além disso, já existem evidências de exposição da saúde dos trabalhadores ligados a exploração do gás de xisto, bem como a contaminação de lençóis freáticos de certas regiões dos Estados Unidos. Não é por o acaso que vários líderes nacionais têm encarado com grande preocupação a exploração desse gás, chegando inclusive a proibir sua produção. O presidente francês, François Hollande, em entrevista recente como divulgou a Folha de São Paulo, afirmou categoricamente: “enquanto eu for presidente, não haverá exploração de gás de xisto na França”. Todavia, não são apenas os líderes nacionais que tem reagido de forma contrária à exploração do gás de xisto.

A população de várias regiões ao redor do mundo também tem ido às ruas para questionar e tentar inviabilizar a sua exploração em seus países, como mostrou o blog do Luis Favre em um post publicado em julho deste ano. “De todas as pessoas que se opõem à controvertida prática de fraturar rochas em solo profundo para a extração de gás natural, a princesa Brianna Caradja pode ser a única que alega ser descendente de Vlad, o Empalador. Mesmo assim, essa ancestralidade apavorante não a impediu de ser jogada em um camburão da polícia durante uma manifestação ocorrida em Bucareste em março contra os planos do governo de levar o processo de fratura hidráulica (”fracking”) para a sua Romênia. A prisão foi parar nas manchetes dos jornais, o que segundo a princesa foi algo que “ajudou bastante”.

Uma semana depois, do outro lado do mundo, ônibus lotados de fazendeiros australianos gritando palavras de ordem circularam pelas ruas de Brisbane para desafiar as companhias de gás que pretendem perfurar suas terras. Na semana seguinte, manifestantes marcharam pela Cidade do Cabo contra o fracking no árido platô de Karoo, na África do Sul – um plano que vem enfrentando a oposição de outra aristocrata, a princesa Irene da Holanda, dona de terras no país, e de Jonathan Rupert, o bilionário de Richemont do setor de artigos de luxo. Assim vem sendo a reação contra a disseminação global do fracking na exploração do gás de xisto e outros recursos naturais não convencionais.”

Diferentemente desses países, o governo brasileiro mantém a nossa sociedade alheia a essa discussão. Ademais, os especialistas do assunto, dentro do governo, somente têm ressaltado as “fantásticas” benesses econômicas oriundas do gás de xisto. Se a exploração desse gás é tão benéfica, porque não envolver a população nessa discussão? Porque, ao contrário do governo, a sociedade brasileira não irá à contramão do resto do mundo, isto é, não deverá concordar com essa irresponsabilidade, denominada exploração do gás de xisto!