A eleição de um negro ao cargo de presidente dos Estados Unidos


O ano de 2008 ficará na história universal, pois na comemoração do sexagenário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, tivemos a oportunidade de acompanhar a eleição do primeiro negro ao cargo de presidente da República dos Estados Unidos da América, uma das maiores potências mundiais.

Isso demonstra que a luta de Martin Luther King, há 40 anos não foi em vão. Ele plantou a semente e dela nasceu seu fruto, Barack Obama, que foi ofertado aos EUA, após o arado da terra e o seu cultivo, às expensas do sacrifício e determinação de milhões de negros daquele país.

Tem-se que os países da América Latina possuem em comum nas relações raciais o Tráfico dos Navios Negreiros oriundos da África do Sul. Por isso, não se pode afirmar que a luta de um povo não deve ser aplicada ao outro, tampouco, os sistemas e/ou políticas que beneficiam a população negra.

Nesta esteira, referencia-se o grande líder Nelson Mandela, que após vários anos na prisão, foi eleito presidente da África do Sul. E, em momento algum, do seu cárcere privado, deixou de refletir sobre a Liberdade, Igualdade, Justiça e Paz.

Face a este cenário, tem-se mudanças sociais no mundo inteiro, principalmente, a desconstituição do mito da soberania do branco ao negro.

Sublinhe-se por oportuno que, Barack Obama foi eleito pelos americanos não pela sua cor – negra, mais sim, pelas suas idéias propositivas e pela busca de melhores condições de vida para a população daquele país, diante da atual conjuntura econômica e social.

Acresce-se ainda que, um dos pilares de sustentação de sua vitória é a sua família, composta pela sua mulher, a advogada Sra. Michelle e suas filhas Sasha e Malia. Elas são a base da sua existência e sobrevivência, posto que um homem vitorioso e bem sucedido profissionalmente, não será feliz se a sua vida pessoal e social  não tiver o equilíbrio familiar.

Ademais, Michelle Obama não é simplesmente esposa e mãe dedicada à família – suas qualidades e habilidades a torna uma mulher multifuncional. Com forte personalidade, senso de humor, inteligência e elegância, ela se apresenta como uma primeira dama totalmente diferente das que já passaram pela Casa Branca, principalmente, pelo pensamento voltado para auxiliar na governança dos EUA e olhares voltados para os demais países.

A eleição de um homem negro ao cargo de presidente da República dos Estados Unidos da América e que tem ao seu lado uma mulher também negra e de grande potencial profissional, é um momento de reflexão para todos os países, em especial o Brasil.

Muitos alegam que no Brasil não há racismo, sendo considerado uma ‘democracia racial’, sobretudo com o argumento da mestiçagem. Sabe-se que isso faz parte da nossa história, em razão da imigração, mas não se pode negar o problema da sociedade brasileira, onde o racismo é totalmente mascarado.

Diante deste grande acontecimento, o Brasil necessita de mudanças nas relações étnico-raciais. Equivoca-se diametralmente quem diz que não devemos comparar o Brasil com os EUA. Lá o racismo é assumido, enquanto aqui, grande parte da população não acredita na existência dele, por total ignorância. Portanto, é de meridiano conhecimento que há racismo, com histórias diferentes.

Recentemente, os debates sobre ações afirmativas saíram dos livros e estão sendo trazidos à baila. Porém, ainda de forma muito excipiente, em razão da resistência dos grandes meios de comunicação falada e escrita, bem como da elite branca.

O Brasil já quebrou um paradigma com a reeleição de um Presidente da República nordestino e metalúrgico, que tem procurado equilibrar o nível social do país, e, com a nomeação de alguns negros para cargos representativos na política brasileira, em especial, no Poder Judiciário, tais como: o Dr. Joaquim Barbosa, Ministro do Supremo Tribunal Federal e o Dr. Benedito Gonçalves,  Ministro do Superior Tribunal de Justiça.

Ocorre que, isso é pouco, se levarmos em conta a representativa de quase 50% dos negros na população do país, segundo os dados do IBGE, os quais são impedidos de ascensão por falta de educação, cultura e oportunidades.

Desta forma, com este marco mundial, espera-se que as "Ações Afirmativas" sejam implementadas em todos os setores do país e que o "Sistema de Cotas", que na prática já é um sucesso, seja votado e aprovado pelo Congresso Nacional, com a conseqüente sanção presidencial e se torne LEI, por ser totalmente constitucional.