A conjuntura política internacional: multipolar, mas incerta, tensa e perigosa







O atual período na política internacional está rico em acontecimentos marcantes, de forte crise capitalista, repleto de conflitos políticos e diplomáticos, de agressões imperialistas, de lutas de classes, lutas populares e nacionais.

Em seu conjunto, tais acontecimentos impulsionam as contradições nacionais e sociais, questionando que a atual geopolítica não pode continuar, pois se tornou um freio ao desenvolvimento da humanidade. Vivemos num mundo mais instável, incerto e perigoso.

Essa realidade atual, de profunda crise capitalista, ao mesmo tempo em que ameaça o padrão civilizatório da humanidade, dialeticamente cria tendências que rompe com o perverso unilateralismo predominante nos últimos vinte anos.

Tendências à multipolarização, uma conquista da luta dos povos.

Está em curso uma transição do quadro de dominação unipolar que marcou o imediato pós-guerra frio desde 1991. Ela se intensifica com o surgimento de tendências à multipolarização, uma conquista da luta dos povos e do avanço da consciência da classe trabalhadora.  Esse processo alcança maior velocidade com a crise capitalista em curso e desmascara a tese daqueles que em poucos segundos atrás – historicamente falando – apregoavam ter o mundo atingido o fim da história.

A nova a estrutura econômica mundial revela essas importantes alterações. Sem contabilizar o Japão, as economias asiáticas respondem por quase 43% da produção global, enquanto em 1973 representava 16,4%. Os Estados Unidos e a Inglaterra, que juntas respondiam por 26,3% em 1973, representam atualmente 21,5%. Essa inversão sinaliza a configuração de uma nova divisão internacional do trabalho assentada na desindustrialização de um antigo centro e a industrialização de outros.

Um império em declínio relativo e progressivo

Os deslocamentos dos centros dinâmicos do mundo sempre foram acompanhados de conflitos bélicos, pois os pólos que se decompõem não aceitam pacificamente suas desidratações econômicas.

Nessa direção os Estados Unidos em séria agonia econômica apela para a guerra como tentativa de manter sua supremacia mundial. Para isso, instrumentalizam desavergonhosamente órgãos como a ONU e a OTAN que sob o falso pretexto de proteger os direitos humanos, atacam o Afeganistão, o Iraque, a Líbia, a Síria, o Paquistão, e termina por agredi-los covardemente.  A mídia reacionária vai criando “novas” condições que tentem justificar, segundo suas artimanhas, o Irã como novo alvo a ser atacado.

Portanto, essa transição tem uma essência marcada pelo declínio relativo, mas progressivo dos EUA e pela rápida ascensão da China socialista. Além dessa nação, o Brasil, Rússia, Índia e África do Sul (BRICS), países em desenvolvimento, vêm protagonizando o dinamismo econômico global e fortalecendo essa tendência multipolar. No entanto, essa realidade não delineia ainda uma nova correlação de forças capaz de alterar a ordem capitalista mundial.

América Latina e Caribe protagonizam uma nova agenda política

Na América Latina e no Caribe, principalmente na América do Sul, as forças progressistas e revolucionárias no atual estágio têm alcançado êxitos. Estas frentes, considerando a singularidade de cada processo, conquistaram os governos através de eleições nos marcos institucionais e vêm produzindo importantes mudanças nas ainda difíceis vidas de seus povos.

Projetos como a ALCA foram rejeitados. Os novos líderes optaram por um caminho de integração latino-americana sem EUA e Canadá, criando a CELAC- Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, a ALBA, a UNASUL, fortalecendo o MERCOSUL e buscando caminhos alternativos e soberanos de desenvolvimento.

Consideramos importante a integração física e comercial de nosso continente, mas precisamos de uma consolidação que promova uma zona integrada economicamente, politicamente, socialmente e com forte capacidade de dissuasão. São condições indispensáveis para superarmos nossos gargalos estruturais históricos, as adversidades da crise capitalista e as contradições da nova configuração econômica e comercial no mundo.
A crise capitalista em gravíssimo recrudescimento

A crise capitalista contemporânea continua em seu desenvolvimento. Agora em 2011, além de persistir nos Estados Unidos ela se agrava na União Européia e Japão, e continua dominando a dinâmica mundial em todas as suas dimensões.

O deus mercado como auto-regulador de um sistema produtivo – desregulamentação e liberalização de mercados – constituem-se como os elementos causais mais próximos da crise. São fenômenos típicos de um sistema que engendra suas próprias crises.

Os países centrais, em particular, os europeus estão com pesados endividamentos públicos – foram trilhões de dólares injetados no ápice entre 2008/2009 para salvar os bancos e que agora limitam suas ações – desaceleração, estagnação e recessão econômica, protecionismo e desemprego crescente e degradação dos direitos sociais da classe trabalhadora. A transferência de recursos dos Estados para tentar salvar o sistema desde agosto último já somava US$ 12,4 trilhões.

Na Europa sob o pretexto de fazer frente à crise de sua dívida, governos impõem amargos programas que sob a batuta do FMI e se efetivá-los plenamente, irão gerar um retrocesso sem paralelo em sua história. Essas iniciativas não são apenas uma resposta a esse quadro, mas uma diretriz que visa reduzir o custo do trabalho para enfrentar a concorrência estrangeira, sobretudo a asiática.

A classe trabalhadora reage, mas eles continuam no comando

Com movimentos de ocupações de praças e vias, iniciadas em Wall Street, EUA, os “indignados” denunciam os efeitos da crise. Na Europa a luta está mais intensa. Na Grécia já foram realizadas 15 greves gerais desde 2010. Em Portugal, Espanha, Itália, França, Inglaterra e em outros a classe trabalhadora protagoniza fortíssimos enfrentamentos.

No que pese a resistência dos povos, sobretudo as lutas até heróicas dos trabalhadores e das trabalhadoras, os ultraneoliberais responsáveis pela crise continuam à frente do comando político das grandes potências. Obama se curva nos Estados Unidos e no velho continente apresentam-se falsos tecnocratas, que na verdade nada mais são do que síndicos do sistema financeiro.  Grécia, Itália e Espanha exemplificam isso.

As lutas acumulam energia e perspectivas

Essa hegemonia condiciona as tendências e os desdobramentos desse quadro atual. Os bolsões neonazistas é uma expressão de uma possibilidade trágica.  Embora com descontentamentos e revoltas sociais e trabalhistas, o que se percebe é a ausência de uma alternativa política com concepções e projetos alternativos ao neoliberalismo.

Entretanto, no que pese esse estágio da realidade objetiva, as lutas acumulam energia e consciência. E num cenário contaminado por instabilidades e riscos de grandes proporções, no qual o império estadudinense cada vez mais recorre às armas, as contradições daí geradas, podem criar as condições para um novo acúmulo de caráter mais estratégico rumo a uma nova ordem socialista.