Na vida pública, foi agente na retomada do processo de redemocratização do país, iniciado com o movimento Diretas Já!, entre 1983 e 1984…
Rede Brasil Atual, com informações da Agência Brasil
A morte do jogador Sócrates Brasileiro Sampaio de Sousa Vieira de Oliveira na madrugada deste domingo (4), em São Paulo, representa não apenas a perda de um ídolo esportivo, mas de um cidadão com postura política reconhecidamente democrática. O "doutor Sócrates" deixou sua marca no futebol por sua reconhecida genialidade e pelo engajamento no processo que levou à Democracia Corintiana. Na vida pública, foi agente na retomada do processo de redemocratização do país, iniciado com o movimento Diretas Já!, entre 1983 e 1984, que pedia eleições diretas para a Presidência da República.
Sócrates com Lula em entrevista à TV Gazeta, em 1983, na luta pela redemocratização do país
A presidenta Dilma Rousseff disse que Sócrates foi um gênio do futebol e campeão em cidadania. Em nota, divulgada no site da Presidência da República, ela afirmou que o Brasil “perde um de seus filhos mais queridos, o doutor Sócrates”.
“Nos campos, com seu talento e seus toques sofisticados, foi um gênio do futebol, a ponto de ser considerado o melhor jogador sul-americano de 1983, e ser escolhido pela Fifa [Federação Internacional de Futebol], em 2004, como um dos 125 melhores jogadores vivos da história. Como jogador do Corinthians, deu muitas alegrias à torcida”, lembrou a presidenta.
Na nota, Dilma Rousseff diz ainda que, além de ter sido ídolo do futebol, Sócrates foi um campeão da cidadania. “Fora dos campos, nunca se omitiu. Foi um brasileiro atuante politicamente, preocupado com o seu povo e o seu país."
O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, cuja paixão pelo Corinthians sempre foi notória, também lamentou o ocorrido e por nota declarou: "O doutor Sócrates foi um craque no campo e um grande amigo. Foi um exemplo de cidadania, inteligência e consciência política, além de seu imenso talento como profissional do futebol”. Lula também salientou que “a contribuição generosa de Sócrates para o Corinthians, para o futebol e para a sociedade brasileira jamais será esquecida”.
Em nota, o Corinthians também lamentou a perda de seu ídolo. “Hoje, que seria um dia apenas de alegria pela decisão do Brasileirão, começou triste para o futebol brasileiro, principalmente para os corinthianos”. Para o Corinthians, o jogador foi “um dos maiores ídolos da história do Timão”. “O Sport Club Corinthians Paulista e toda a sua fiel torcida se despedem com tristeza do Magrão [apelido de Sócrates], mas também ficamos agradecidos pela honra de ter visto um dos maiores jogadores da história do futebol vestindo o manto alvinegro por tantos jogos. Obrigado pelos lindos gols, pelos toques geniais, pelo futebol magistral”.
Nos últimos quatro meses, o ex-jogador foi internado duas vezes. A primeira, no final de agosto, devido a um quadro de hemorragia digestiva, provocada pelo mal funcionamento do fígado. Ao sair do hospital, em entrevista, Sócrates admitiu que era viciado em álcool e cigarro. Na segunda vez, em setembro, poucos dias depois da alta da primeira internação, uma artéria se rompeu e Sócrates teve nova hemorragia.
Jogador com uma trajetória que extrapolou o futebol, Sócrates começou sua carreira esportiva no Botafogo de Ribeirão Preto (SP), em 1974. De 1978 a 1984, integrou o time do Corinthians, onde liderou um movimento que tomou proporções políticas conhecido como Democracia Corinthiana.
Ao lado de jogadores como Casagrande, Wladimir e Zenon, Sócrates começa a defender a abertura política e chega a subir no palanque ao lado de políticos pelo movimento Diretas Já! Sócrates jogou pelo Corinthians até 1984. Foram 297 disputas em que marcou 172 gols e venceu três Campeonatos Paulistas (1979, 1982 e 1983).
Nos comentários dos narradores esportivos, o ex-jogador era sempre elogiado pela elegância dentro e fora do campo e uma das marcas de seu desempenho nas partidas era o toque de bola com o calcanhar. Natural do Pará, nascido em Belém, Sócrates tinha 57 anos de idade. Depois da experiência político-esportiva, partiu para a Itália, onde defendeu a Fiorentina. Em seu retorno ao Brasil, ele foi jogar no Flamengo, onde ficou por dois anos. Além disso, integrou a emblemática equipe da Seleção Brasileira de 1982, que disputou a Copa do Mundo da Espanha. Apesar de não ter levado o título, a equipe, que tinha Sócrates como capitão, é considerada pelos especialistas como uma das melhores de toda a história do futebol brasileiro.