Portugal vive uma crise econômica sem precedentes, assim como todo o continente europeu.
Já virou dito popular por aqui que “se a situação é grave, a solução é greve”. Foi esse o entendimento dos portugueses nesta quarta-feira (24). O país viveu a sua maior greve geral dos últimos anos. Segundo os organizadores do movimento, a greve envolveu mais de três milhões de trabalhadores e foi uma resposta às medidas do governo, que promovem a recessão econômica e o retrocesso social, o agravamento da exploração dos trabalhadores, o empobrecimento generalizado da população e do país.
Portugal vive uma crise econômica sem precedentes, assim como todo o continente europeu. Como é dos países mais subdesenvolvidos da região, é dos que mais sofre as consequências da integração capitalista causada pela criação da União Europeia. Uma agência de classificação financeira rebaixou nessa quarta-feira a condição o país em um grau, para BB+ de grau especulativo, ou "lixo", conforme o jargão financeiro.
Os líderes das principais centrais sindicais do país, CGTP e UGT, que pela segunda vez organizaram em conjunto uma greve geral, avaliaram que a paralisação envolveu mais de três milhões de trabalhadores e por isso configurou-se um grande “êxito”. Em entrevista coletiva dada à imprensa para avaliar o movimento, as centrais fizeram um balanço da ação no país inteiro e apontaram os rumos para "dar continuidade à luta travada contra as medidas do governo de direita de Passos Coelho".
Mudança
O secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva, considerou que a greve geral pode dar origem a uma mudança e apresentar políticas alternativas às que estão sendo implementadas. “Temos a certeza que a forte consciência social será lastro de consciência política e que nascerá na sociedade e que há de sustentar uma alternativa”, afirmou o líder sindical.
Já o líder da CGT, João Proença, considerou que esta foi a maior greve geral já feita em Portugal. Proença valorizou a unidade construída entre as centrais e disse que esse é um exemplo que deve ser seguido daqui em diante. Avaliou que a paralisação superou todas as expectativas.
Comunistas
O secretário-geral do Partido Comunista Português, Jerônimo de Sousa, valorizou a mobilização em diversos setores e empresas e a ampla expressão de rua que a greve geral alcançou. “Os trabalhadores se mobilizaram em milhares de piquetes por todo o país, pontos de informação, concentrações e manifestações que fizeram desta jornada de luta uma imponente obra coletiva”, destacou Jerônimo.
O comunista afirmou que a greve contribuiu para o crescente isolamento “dos que roubam o povo e afundam o país e coloca uma nova fase no desenvolvimento da luta de massas que, mais cedo do que tarde, derrotará os objetivos do governo e do grande capital”.
A paralisação alcançou em alguns setores números realmente extraordinários. No setor de transporte, por exemplo, o envolvimento foi quase total. O Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Setor Ferroviário registrou uma adesão à greve de 98%, excluindo os que foram indicados para garantir os serviços mínimos decretados pela justiça. O setor rodoviário e de aviação teve paralisação praticamente total.
Manifestações
Greve em Portugal é mais que um dia de paralisação, é um dia de intensas mobilizações. E assim foi a quarta-feira portuguesa. Milhares de trabalhadores tomaram as ruas do país inteiro. Quem aproveitou também o dia para se manifestar nas ruas foi o movimento que ficou conhecido como dos “Indignados”.
Concentrados principalmente em Lisboa, os manifestantes, notadamente jovens, marcharam da Praça Marques de Pombal até a Assembleia da República. O que estava previsto para ser uma manifestação pacífica, acabou ocasionando uma confusão com forças policiais.
Com a subida do governo de direita em Portugal, as manifestações recentes no país têm sido reprimidas e desta vez não foi diferente. Quando a manifestação chegou em frente à Assembleia da República, houve uma ofensiva da polícia, que causou uma grande confusão, com a prisão de sete manifestantes e o ferimento de um policial.
Mídia
Como forma de desgastar o exitoso movimento grevista, a velha mídia deu grande destaque ao confronto, o que obrigou os líderes sindicais da CGTP e da UGT se diferenciarem do ocorrido e afirmarem que a greve ocorreu em todo o país de forma pacífica e com características do que chamam de "civismo". Carvalho da Silva afirmou que a estrutura que dirige "não teve nada a ver com isso" e garantiu que "estas situações não favorecem os trabalhadores".
Como consequência da greve, os secretários-gerais das centrais sindicais desafiam o governo e o patronato a abrir um verdadeiro clima de diálogo social. "Querem clima de diálogo ou conflitualidade social?", questionaram. "Não queremos, mas se o governo nos empurrar, faremos outra greve geral", concluiu João Proença.