Quinto aumento consecutivo da Selic compromete crescimento econômico do país

Faltou coragem ao Comitê de Política Monetária (Copom) para enfrentar a chantagem do mercado financeiro e não ceder à pressão por novo aumento dos juros da economia…





Contraf-CUT

Faltou coragem ao Comitê de Política Monetária (Copom) para enfrentar a chantagem do mercado financeiro e não ceder à pressão por novo aumento dos juros da economia. Na reunião encerrada no início da noite desta quarta-feira (20), o Copom anunciou outro reajuste de 0,25% da taxa Selic, passando-a de 12,25% para 12,50% ao ano.

"O quinto aumento consecutivo da Selic em 2011 é um grave equívoco que está comprometendo o crescimento econômico deste ano, com implicações negativas na geração de emprego e na renda do trabalhador", critica o presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro.

Para ele, "aumentar os juros não se trata de uma decisão técnica ou uma escolha para não desapontar o mercado, mas trata-se de uma medida que afeta o emprego, o salário, as políticas públicas e sociais da população brasileira, duramente atingida a cada aumento da taxa".

"Se a justificativa do processo de elevação da taxa é o controle da inflação, a decisão vai na contramão dos principais indicadores econômicos", observa o dirigente sindical. Dados divulgados pelo IBGE, nesta quarta-feira, apontam que o IPCA-15 voltou a desacelerar no mês de julho e tem a menor taxa em 11 meses: 0,10% este mês, ante 0,23% em junho, na menor taxa desde agosto do ano passado (-0,05%), sendo a terceira desaceleração seguida.

Outros dois índices apontam para a mesma tendência de deflação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) ficou em 0,22% em junho, abaixo do índice registrado em maio, que foi 0,57%.

O Índice do Custo de Vida (ICV), calculado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no município de São Paulo, registrou em junho a primeira deflação em mais de três anos: -0,34%. O Dieese chama a atenção para a queda da taxa anualizada dos dois últimos meses, de 7,33% em abril para 7,21% em maio e 6,82% em junho.

Segundo o Dieese, "não há uma disseminação da inflação", que é constituída basicamente pelos "aumentos nos preços públicos e/ou administrados, e por alguns itens de mercado que normalmente são reajustados apenas uma vez ao ano e já sofreram tais altas. Há uma reacomodação dos preços após surtos sazonais, sobretudo nos produtos agrícolas".

"O Copom ignorou todos esses indicadores e se baseou unicamente na pesquisa Focus, divulgada ontem pelo Banco Central, que projeta elevação da inflação e conspira contra o crescimento sustentável do País, buscando o lucro a qualquer custo", lamenta Carlos Cordeiro.

A alta da Selic é um problema e deve ser combatida, pois penaliza os mais pobres na medida em que significa transferência de renda para os detentores de títulos públicos. "Cada ponto percentual da Selic representa aproximadamente R$ 19 bilhões no crescimento da dívida pública. Esses recursos deveriam ser destinados para investimentos em programas que levem ao desenvolvimento econômico e à geração de emprego e renda", propõe Carlos Cordeiro.

Para o dirigente da Contraf-CUT, além das metas de inflação, o BC deveria fixar também metas sociais, como o aumento do emprego e da renda dos trabalhadores e a redução das desigualdades sociais do país. "Para isso, é fundamental ampliar o Conselho Monetário Nacional, de forma a contemplar a participação da sociedade civil organizada na discussão dos rumos da economia", destaca.

"É preciso acabar com esse nefasto programa de transferência de renda da sociedade brasileira. Quebrar essa lógica é uma obrigação do governo eleito pelas forças populares e democráticas. Essa política do Copom concentra riqueza, freia o desenvolvimento e empobrece a nação", diz Carlos Cordeiro.

O histórico de elevações das taxas neste ano revela aumentos em janeiro (de 10,75% para 11,25%), em março (para 11,75%), em abril (para 12%), em junho (para 12,25%) e agora em julho (para 12,50%).