Dados comprovam que salário não é o "vilão"…
Escrito por Isaías Dalle, Leonardo Severo e Luiz Carvalho
A seguir, a economista da subseção Dieese da CUT, Patrícia Pelatieri, contestou a recente afirmação da diretoria do Banco Central de que o salário é “um risco muito importante para a inflação” e que, portanto, seria necessário arrefecer as campanhas salariais do segundo semestre.
Diz textualmente o relatório do BC: “um aspecto crucial em ciclos como o atual é a possibilidade de que o aquecimento no mercado de trabalho leve à concessão de aumentos reais dos salários em níveis não compatíveis com o crescimento da produtividade”.
Patrícia contesta esta visão expressa na “opinião hegemônica divulgada nos meios de comunicação e de analistas, de que existe uma inflação de demanda, causada principalmente pelo aumento dos salários acima da inflação”. “Eles querem combater a inflação com a compressão da demanda, via redução dos salários. Assim, buscam tirar consumidores do mercado. Mas não há nenhum indício de inflação de demanda. O que existe é um aumento dos preços das commodities, que vêm sendo usadas para especulação no mercado internacional”, explicou.
Conforme a economista, o que é fato, é a existência de uma “defasagem gigantesca entre o que foram os ganhos de produtividade e o que foram os ganhos salariais, em torno de 60% na última década”. Ou seja, se não houver ganhos reais acima do aumento da produtividade, “significa que não haverá nenhuma mudança, significa consolidar este parâmetro concentrador de riqueza. Ganhos salariais têm de ser acima da produtividade, pois temos uma das piores distribuições de renda do mundo”.
Reforma política já –Artur também citou a necessidade do governo ter maior agilidade e poder de decisão para não ser atropelado pelo parlamento. “Estamos discutindo com a secretária-geral da Presidência da República a terceirização, enquanto o projeto do deputado Sandro Mabel, que amplia a prática, já foi aprovado na Comissão de Trabalho do Senado.”
Diante disso, o presidente indicou a necessidade da reforma política. “Sem essa mudança, estamos cada vez mais fadados a ter gente do agronegócio, do capital, de quem fica na Avenida Paulista, fazendo a lista dos candidatos que serão apoiados e eleitos pelo poder econômico. E, diante desse cenário, a chamada base aliada demonstra que não é tão aliada porque defende interesses que muitas vezes não são os nossos e, em outras, sequer do governo”, acrescentou.
A ausência da reforma política afeta até mesmo o Judiciário, onde avança cada vez mais a judicialização da política e a politização do Judiciário. “Vemos vários casos de ações no STF (Supremo Tribunal Federal) para acabar com o que o Congresso acabou de decidir. E com o parlamento não tem tido competência e nem agilidade para voltar os artigos da Constituição não regulamentados, o TST (Tribunal Superior do Trabalho) vai legislando”, avaliou.
Combate ao modelo derrotado
“As velhas normas do FMI e do Banco Mundial não servem. Na Grécia, eles querem pegar umas ilhas, a Acrópole, e pagar a dívida. Chegamos ao cúmulo de ter propostas deste tipo discutidas. Por isso os trabalhadores gregos responderam com uma greve de 48 horas”, afirmou o dirigente.
O desmonte do Estado, da privatização e do arrocho, alertou o presidente cutista, tem levado a uma sucessão de derrotas dos governos na Europa, que vêm repetindo os mesmos descaminhos que conduziram à crise de 2008, afundando seus países na miséria.
Diferente disso, lembrou, é preciso construir um projeto nacional de desenvolvimento com base nas nossas potencialidades. Por isso, frisou, governos progressistas da América Latina têm buscado formar um bloco contra-hegemônico e construir, conjuntamente, experiências como a da Alba, da Unasul e do Mercosul, embora ainda não tenham conseguido conformar um modelo. Daí, a importância da reflexão e da ação sindical para pressionar por avanços, fazendo o necessário “enfrentamento com a direita e com parte da mídia, que tentam impor a agenda derrotada nas eleições por dentro do governo Dilma”.