Entidade afirma que um sindicalista, um agricultor e dois vereadores sofrem ameaças de madeireiros e fazendeiros; polícia diz desconhecer o caso.
A Federação dos Trabalhadores na Agricultura (FETAGRI) afirma que um sindicalista, um agricultor e dois vereadores sofrem ameaças de madeireiros e fazendeiros; polícia diz desconhecer o caso. As vítimas mais recentes do latifúndio no campo também estavam marcadas para morrer, denunciaram as ameaças e não foram protegidas pelas forças de segurança.
Um sindicalista, um agricultor e dois vereadores de Nova Ipixuna, no sudeste do Pará, seriam os novos integrantes de uma lista de cabras marcados para morrer na região, segundo denúncia feita nesta terça-feira (31) pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri). A entidade afirma que madeireiros e fazendeiros disseminaram um "clima de terror" no assentamento Praialta/Piranheira, onde foram mortos a tiros o casal de ambientalistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, na última terça-feira (24) e, no sábado (28), o agricultor Erenilton Pereira dos Santos.
A polícia mantém vinte homens na região e recebeu ajuda da Polícia Federal, por ordem do Ministério da Justiça. Segundo a Fetagri, os quatro ameaçados de morte seriam o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Ipixuna, Eduardo Rodrigues da Silva; o presidente da Associação do Assentamento Praialta/Piranheira, Osmar Cruz Lima, além de vereadores do município, os petistas João Batista Delmondes e Valdemir de Jesus Ferreira. Eles entraram na relação por denunciarem grilagem de terras e extração ilegal de madeira.
A polícia diz desconhecer as ameaças e garante que nenhum dos citados pela federação procurou a delegacia local para comunicar o fato.
Famílias apavoradas
O vereador João Batista acredita que não faz parte da lista, embora admita que já sofreu "ameaças de morte" durante um período de sua vida em que morou em Marabá. Para o coordenador da Fetagri, Francisco Solidade, a lista foi encaminhada aos órgãos policiais, mas "ninguém tomou providências" para dar proteção aos ameaçados. Solidade acrescenta que outras lideranças da região também estariam recebendo avisos, recados e telefonemas anônimos para parar de denunciar crimes ambientais ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
"As famílias do assentamento estão apavoradas e nem dormem mais direito. Quando aparece alguém de carro ou motocicleta na comunidade, elas pensam logo que se trata de pistoleiros armados para matar", disse Solidade. Por conta das ameaças, Eduardo Rodrigues foi aconselhado a sair por uns tempos do assentamento. Ele estaria protegido por amigos em Marabá.
Devastação
Fiscais do Ibama e agentes da Polícia Federal, durante operação realizada no sábado, no assentamento Praialta/Piranheira, comprovaram um cenário de devastação de espécies nobres de madeira, como angelim, ipê roxo, ipê amarelo e castanheira, árvore cujo corte é proibido por lei em razão de correr risco de extinção. Com o apoio de um helicóptero, eles localizaram extensas áreas de floresta desmatadas para a retirada ilegal de madeira.
Para prosseguir o desmatamento, a grilagem de terras e outras atividades ilegais, os fazendeiros e madereiros não vacilam em assassinar os trabalhadores e lideranças que denunciam seus abusos e lutam em defesa do meio ambiente e da reforma agrária. O crime prospera num clima de notória impunidade e não raro com a cínica cumplicidade dos poderes públicos.