Na Tunísia, país árabe do norte da África, o ano de 2011 começou marcado por uma mobilização popular enorme que já provocou a fuga do país, em 14 de janeiro…
Na Tunísia, país árabe do norte da África, o ano de 2011 começou marcado por uma mobilização popular enorme que já provocou a fuga do país, em 14 de janeiro, do ditador Ben Ali, com a constituição de um governo provisório encabeçado por ministros e membros do seu partido (RCD) Durante semanas, a mobilização da juventude, dos trabalhadores e da população, se dirigiu contra o regime e suas instituições.
Em 17 de dezembro um jovem vendedor ambulante suicidou-se (imolando-se com fogo) em protesto contra a apreensão pela política de suas mercadorias. Foi um estopim para revoltas em várias cidades entre 3 e 10 de janeiro contra a alta de preços e a opressão do regime, contra o desemprego e as precárias condições de vida e trabalho neste país de 11 milhões de habitantes, cujo governo era apresentado como “modelo” pelo FMI poucos meses antes da insurreição popular que desembocou numa verdadeira revolução.
Em sua mobilização, o povo procurou apoiar-se nos sindicatos e na União Geral de Trabalhadores da Tunísia (UGTT), central sindical histórica..
Nos bairros da capital Túnez e em várias cidades do interior formaram-se comitês populares que organizaram a defesa da população contra a repressão policial e que se reúnem, em sua maioria, em locais sindicais. A situação levou o Exército a pedir ao tirano Ben Ali que abandonasse o poder, que passou às mãos de seu primeiro;ministro Gannuchi (do mesmo partido RCD) que convocou setores da oposição legal a constituir um governo provisório.
Num primeiro momento três partidos de oposição e a própria direção da UGTT indicaram ministros para este governo provisório, mas as massas populares continuaram nas ruas com palavras de ordem como “o ditador foi embora, é preciso acabar com a ditadura”, exigindo que todos os membros do RCD fossem embora também e o partido, que controlava todo o aparelho de Estado, dissolvido.
Em alguns lugares, como em Kasserin, cidade mártir da repressão, a administração e a polícia foram substituídas por comitês populares que controlam a vida cotidiana. .
UGTT rompe com o governo provisório
O governo de Ben Ali e do RCD era um dos principais aliados do Estado de Israel na região e aplicava os planos exigidos pelo FMI e pelos acordos de associação com a União Européia, os mesmos que levaram a população á revolta. Iniciada com a palavra de ordem “Pão, água, não Ben Ali!”, o movimento revolucionário continua levantando a exigência de “Fora o RCD”
A proclamação do toque de recolher, o deslocamento do exército (permitindo a retirada da polícia, milícia do regime e responsável pelas mortes), a nomeação do primeiro-ministro como presidente interino, seu convite para reunir-se com os partidos de oposição (uma parte deles só existe no estrangeiro), em nome da “transição constitucional”, expressa a busca da preservação do regime. .
Nesta situação, inúmeros sindicatos de base e uniões regionais da UGTT tomaram posição contrária à manutenção do RCD no poder, o que levou a sua direção executiva a reunir-se em 18 de janeiro e adotar um comunicado, firmado pelo seu secretário geral Abdel Salam Jarad, no qual propõe, entre outras, as seguidas medidas de urgência: :
“- Exigir o congelamento das contas bancárias do antigo presidente (Ben Ali) e de sua família, a nacionalização de seus bens,
– Dissolução do partido Reagrupamento Constitucional Democrático (RCD) de Ben Ali,
– Considerando que o governo de coalizão não corresponde a nossas idéias e exigências e tampouco à aspiração do povo e trabalhadores em todos seus componenentes, decide a retirada de nossos representantes do governo, a demissão de nossos sindicalistas eleitos da Assembléia nacional, da Assembléia do conselho e dos conselhos municipais e a suspensão da participação da UGTT no conselho econômico e social,
;- Recusar qualquer intervenção estrangeira nos assuntos internos de nosso povo pois ele derrubou um presidente que o reprimia, logo o povo decidiu sua própria sorte sem ingerência estrangeira,
– Exigir a constituição de uma assembléia constituinte através de eleições livres e democráticas que reflitam a vontade do povo.”
A situação na Tunísia segue instável e essas posições adotadas pela UGTT merecem o apoio do conjunto do movimento sindical internacional e da CUT, pois apontam uma saída conforme a vontade expressa do povo tunisiano de livrar-se do corrupto regime imposto pelo RCD e decidir soberanamente o seu futuro, sem intervenção estrangeira. O partido de Ben Ali, o RCD, fazia parte da Internacional Socialista, da qual foi excluído após a eclosão da revolução. Já a UGTT é uma central sindical filiada à CSI.
Todo apoio à luta do povo da Tunísia pela democracia e pela justiça social!
Solidariedade com os companheiros da UGTT na luta por uma assembléia constituinte soberana!
Nenhuma intervenção estrangeira na Tunísia, cabe ao seu povo decidir o seu destino!