Entidades da Plataforma Operária e Camponesa da Água e Energia e do Movimiento de Afectados por Represas participaram de debate sobre cenário energético internacional e fizeram ato contra privatização da Eletrobras
[Da Comunicação do MAB, com adendos da Comunicação da FUP]
A Plataforma Operária e Camponesa da Água e Energia (POCAE) promoveu nesta sexta-feira, 29, um seminário preparatório para a Cúpula dos Povos/Rio+30. O evento – que aconteceu em formato híbrido (presencialmente no Rio de Janeiro e ao vivo pelo Youtube) – teve como objetivo discutir o tema “Energia para Soberania dos Povos” a partir da análise das políticas energéticas que estão em curso no continente latino-americano.
Participaram do evento representantes e ativistas de organizações do Brasil, Chile, Uruguai e Estados Unidos, que fizeram uma análise crítica da Política Energética no contexto mundial, latino-americano e brasileiro. Nesse sentido, os palestrantes apontaram as disputas em torno do modelo de produção, comercialização e consumo de energia no mundo. Também avaliaram os riscos dos projetos neoliberais de privatização e os aumentos abusivos dos preços das contas de energia e do barril de petróleo no Brasil.
Durante o encontro, as organizações também debateram sobre estratégias para fortalecer a soberania e o controle energético popular. Neste contexto, as entidades que integram a POCAE organizaram ainda um Ato Político Cultural contra a privatização da Eletrobras, que aconteceu em frente à sede da empresa, no Rio durante o período da tarde.
As disputas em torno da energia
Em sua fala, a representante do MAB, Sonia Mara Maranhão, destacou os principais fatores que influenciam no setor energético a nível internacional a partir da perspectiva POCAE e do Movimiento de Afectados por Represas – MAR, que envolve organizações de toda a América Latina. De acordo com a dirigente, as principais potências econômicas mundiais que pretendem se apropriar das mercadorias, dos recursos naturais e do capital financeiro do mundo estão estrategicamente ligadas à questão energética.
“Quem possui as bases naturais de alta lucratividade no mundo hoje? Água, gás, energia, sol, minério, petróleo, carvão? O que vemos é que os países centrais e imperialistas consomem como alcoólatras esses recursos naturais, mas não detém nos seus territórios. Quem possui esses insumos são os países da periferia, especialmente da América Latina. Parte da Europa e África (Oriente Médio) também tem bases energética como petróleo e gás. Isso é o que desencadeia uma guerra pelo controle dessas bases energéticas estratégicas, uma base de alta lucratividade”, destacou Sonia.
Na sequência, a pesquisadora chilena Ximena Quadra Montoya falou sobre as dimensões sociais e ambientais da política energética em seu país onde, segundo ela, o modelo energético é um dos mais neoliberais do mundo. De acordo com a Montoya, o país tem se utilizado do contexto da crise climática pra implementar “soluções” sob a ótica do capitalismo verde que aprofundam desigualdades sociais em comunidades tradicionais como as dos indígenas mapuche.
“Quem controla as crises climáticas também controla a economia verde. Um exemplo são os protocolos de Quioto e o Acordo de Paris, que tinham o objetivo de reduzir as emissões de efeito estufa, através de tecnologias que não promovem justiça econômica, territorial e climática, mas, pelo contrário, aprofundam desigualdades. Estão criando falsas soluções ambientais pra lucrar a partir da crise climática”, afirmou.
Quem paga a conta é o povo
O ex coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Zé Maria Rangel, coordenador do Sindipetro-NF e pré-candidato a Deputado Federal pelo PT , afirmou: “A questão da energia vai ser um dos temas centrais na eleição deste ano. Seja pela tentativa de privatização da Eletrobras ou pelo preço dos combustíveis, que é o que está na boca de todo mundo hoje, todo mundo está indignado com o botijão a 160 reais, a gasolina a 8″. Lula fala em abrasileirar o preço dos derivados. Para isso, vamos ter que além de eleger o Lula eleger uma bancada de deputados alinhada com o projeto do presidente, porque senão aquilo que já é difícil, vai ficar mais difícil ainda”.
Zé Maria acrescentou: “A gente está falando desde o primeiro dia que quem ia pagar a conta do golpe era o povo. E o resultado está aí, a população cada vez mais penalizada, desemprego e inflação nas alturas, a fome batendo a nossa porta e o governo tentando privatizar empresas fundamentais para o desenvolvimento do nosso país. Um país como o Brasil não pode abrir mão de empresas com o potencial da Petrobrás e a Eletrobrás”.
Privatização da Eletrobras
Outra participante do seminário, Fabíola Antezana, diretora do Sindicato dos Urbanitários no Distrito Federal (STIU-DF), denunciou a falta de transparência do processo de privatização da Elerbras que coloca em risco a soberania energética nacional.
Ela também apontou que a aprovação do projeto de privatização no Senado foi baseada na compra de votos com a promessa do investimento em termelétricas no país, na contramão do movimento mundial. “E nós sabemos que, além da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, a energia térmica tem um custo muito mais alto para a população”, avalia Fabíola.
No ato em frente a Eletrobras, trabalhadores ligados aos sindicatos do setor elétrico também denunciaram a precarização e a violação dos direitos dos funcionários, além do potencial impacto econômico que a operação vai causar para o país.