Iniciada no dia 08 em Paulínia, onda de paralisações chegou a outras cidades e é a mais longa da categoria no país. Trabalhadores querem o fim dos bloqueios injustos e aumento da taxa mínima que recebem das empresas
[Com informações do Coletivo Passa Palavra e da CUT | Foto: Passapalavra.info]
Entregadores de aplicativos de várias cidades do interior do estado de São Paulo estão em greve e prometem manter o breque dos apps até que as empresas respondam à pauta de reivindicações. Eles trabalham para empresas como iFood, Uber Eats, Box Delivery, Rappi e James Delivery. O movimento começou na última sexta-feira (08/10), em Paulínia, e se amplia em ondas pelo interior de São Paulo.
Aproveitando a alta demanda por entregas no Dia das Crianças, os entregadores escolheram o feriado prolongado para protestar. Eles reivindicam o aumento na remuneração, a implementação de um código de segurança em todas as entregas para evitar bloqueios de contas indevidos e o fim do sistema de dupla coleta.
A categoria é uma das mais impactadas pela disparada dos combustíveis, por conta da política de preços abusivos da gestão da Petrobrás, que segue a lógica do Preço de Paridade de Importação (PPI). Só este ano, o preço médio do litro da gasolina nos postos já subiu 35,5%, segundo levantamento da subseção do Dieese na FUP.
Desde a noite do dia 08/10, os entregadores interrompem a retirada de pedidos nos principais estabelecimentos do município. No dia 09, a greve ganhou corpo com a adesão dos motoboys de Jundiaí, que desde então se reúnem diariamente nas docas de delivery dos dois shoppings da cidade. Aos poucos, a luta foi se irradiando pelo estado: ao longo da semana, entregadores também se mobilizaram em São Carlos, Bauru, São José do Rio Preto e Rio Claro. Enquanto isso, fora de São Paulo, motoboys também paralisaram as entregas em Maceió no dia 10.
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— Galo (@galodeluta) October 15, 2021
Apoio da população
“Conforme as cidades sentiam os efeito da paralisação, a população passou a se solidarizar com os entregadores. Em Jundiaí, um grupo evangélico se organizou para doar alimentos e água aos trabalhadores nos piquetes. Em Paulínia, o movimento recebeu uma reportagem de um youtuber popular da cidade. Os grevistas também organizam uma campanha virtual para arrecadar doações através de um Pix“, informou o Coletivo Passa Palavra .
Justiça x exploração
As operadoras de aplicativos, em nome da modernização e da prestação de serviços, criaram novos sistemas de entrega, aumentaram o leque de opções aos clientes. Se por um lado, o cliente tem mais comodidade, por outro lado, o preço é pago pelos trabalhadores.
Mas, a Justiça do Trabalho vem dando decisões favoráveis aos trabalhadores em vários estados brasileiros, reconhecendo a exploração da mão de obra.
Confira algumas decisões favoráveis aos trabalhadores:
A decisão unânime acompanhou o voto da relatora, Carina Rodrigues Bicalho, que entendeu que na Uber estavam presentes os elementos que configuram vínculo e apontou a existência de relação de subordinação, ainda que em outro formato.
Em setembro, a 8ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT-4) reconheceu o vínculo de emprego entre um motorista e a Uber do Brasil e ainda condenou a empresa ao pagamento de indenização no valor de R$ 1 milhão por danos sociais.
No despacho, o relator da ação, desembargador Marcelo Ferlin D’Ambroso, disse que a forma de prestação de serviços não altera a essência da relação de emprego, “fundada na exploração de trabalho por conta alheia. Por outras palavras, não há nada de novo nisso, a não ser o novo método fraudulento de engenharia informática para mascarar a relação de emprego”, completou.
Em julho, no Ceará, a Justiça Ceará obrigou a Uber a pagar direitos trabalhistas a motorista do aplicativo.
Em abril, Justiça do Rio Grande do Sul mandou Uber assinar carteira de motorista e pagar salário de R$ 3 mil por mês.