Ocupação, chamada “Acampamento de Refugiados Primeiro de Maio”, reúne famílias carentes de Itaguaí, da Zona Oeste do Rio e de outras regiões do estado. Movimento é um protesto contra a falta de moradia, de comida e de vacina, e também contra a política de preços dos combustíveis da Petrobrás
Cerca de 300 pessoas ocupam desde ontem (1º/5) parte de um terreno da Petrobrás destinado à instalação de um complexo petroquímico em Itaguaí, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Outras 1.200 pessoas são esperadas para ocupar o espaço durante esta semana.
Chamada de “Acampamento de Refugiados Primeiro de Maio”, a ocupação protesta contra a falta de moradia, de comida e de vacina contra a Covid-19, bem como contra a política de preços dos combustíveis adotada pela gestão da Petrobrás, baseada desde 2016 no Preço de Paridade de Importação (PPI). Por isso o movimento escolheu o terreno ocioso da petroleira, que seria usado para instalar o Polo Petroquímico e a Zona de Processamento e Exportação de Itaguaí, o que nunca ocorreu.
A ocupação é liderada pelo Movimento do Povo, com apoio da Federação Única dos Petroleiros (FUP), do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), do diretório do Partido dos Trabalhadores (PT) de Itaguaí, do Movimento dos Sem-Terra (MST) e da Central Única das Favelas (Cufa), entre outras organizações sociais e movimentos sindicais. Além de barracas para abrigar as famílias, o local recebeu uma cozinha improvisada, e o Sindipetro-NF está fornecendo água potável, máscaras faciais e álcool em gel para as pessoas.
Organizada pelo Whatsapp desde janeiro, a mobilização arregimentou 1.500 pessoas nos últimos dois meses, divididas em seis grupos, compostas, na sua maioria, por famílias sem moradia da Zona Oeste do município do Rio, de outras regiões do estado e de Itaguaí.
Veja vídeo da ocupação:
“É um terreno da Petrobrás e, portanto, da União. Logo, é um terreno do povo brasileiro, por isso criamos esse acampamento aqui. Em vez de as pessoas morarem na rua, elas têm de ter acesso a terra e comida. Essa mobilização quer chamar atenção da sociedade para a importância da Petrobrás no desenvolvimento econômico e social do Brasil e denunciar a política covarde de reajustes dos combustíveis que a gestão da empresa aplica desde 2016, com apoio do governo federal. Nessa crise social e econômica provocada pela pandemia, algo nunca antes visto neste país, muita gente está usando lenha e álcool para cozinhar, isso quando tem comida, porque o gás de cozinha está caríssimo. Quem lucra com isso são os acionistas da Petrobrás e quem está pagando a conta é a população mais pobre, o trabalhador e a trabalhadora”, explica Alessandro Trindade, diretor do Sindipetro-NF que está dando apoio à ocupação.
Para o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, o Acampamento de Refugiados Primeiro de Maio é uma resposta à incompetência do governo federal em garantir à população brasileira condições mínimas de sobrevivência neste período tão difícil. E ao ocupar um terreno ocioso da Petrobrás, mostra ainda como a empresa pode investir na geração de emprego e renda, equilibrando sua necessidade de ter bons resultados financeiros e seu papel social na indução do crescimento econômico do país. Mas, pelo contrário, a Petrobrás vem sendo privatizada aos pedaços e privilegiando o lucro no curto prazo.
“São 19 milhões de pessoas com fome, mais de 14 milhões de desempregados, fora os cerca de 6 milhões que desistiram de procurar emprego. Mais de 400 mil brasileiros e brasileiras perderam a vida para a Covid-19. Todos esses números poderiam ser bem menores. Mas o governo brasileiro mostra que tem um projeto de extermínio da população, sobretudo da população pobre, negra, indígena e idosa. E a Petrobrás, como a maior empresa de capital misto do país, controlada pelo Estado, poderia assumir um protagonismo na geração de emprego e renda, no apoio a movimentos sociais, na oferta de combustíveis a preços justos à população. Mas, infelizmente, a Petrobrás vem sendo privatizada aos pedaços. Estão vendendo negócios lucrativos para a empresa, como a BR Distribuidora, as refinarias, ativos de gás natural e de energia elétrica, inclusive de fontes renováveis, um caminho que as grandes petroleiras do mundo vêm seguindo, enquanto a Petrobrás vai na contramão global. A empresa vem se tornando uma mera exportadora de petróleo cru, e quem paga esta conta é a sociedade brasileira”, diz Bacelar.