Os trabalhadores de unidades do Sistema Petrobrás de quatro bases sindicais da FUP estão em greve desde o último dia 05, quando os petroleiros da Refinaria Landhulfo Alves (Rlam) retomaram a greve na Bahia. A partir de então, a categoria vem atendendo ao chamado de paralisações feito pelos sindicatos no Amazonas, no Espirito Santo e em São Paulo. O movimento, que completa 14 dias nesta quinta-feira, 18, denuncia os impactos das privatizações no Sistema Petrobrás, como a precarização das condições de trabalho, os riscos de acidentes e o avanço da Covid-19 nas instalações da empresa.
Na Bahia, a greve avança com a participação dos petroleiros dos campos terrestres e do Terminal Madre de Deus, que também sofrem os impactos das privatizações. Na quarta-feira, 17, o Sindipetro iniciou “ações de lockdown da classe trabalhadora” na Rlam, convencendo os cerca de 1.500 trabalhadores próprios e terceirizados a retornarem para casa.
A refinaria, assim como outras unidades operacionais da Petrobrás, está tendo surtos seguidos de Covid-19. Só entre os trabalhadores próprios da Rlam, o sindicato já contabilizou cerca de 90 contaminados e duas mortes nas últimas semanas em decorrência da doença. “Apesar deste cenário tenebroso, o gerente geral da Rlam continua agindo de forma irresponsável, sem tomar as devidas medidas de segurança que nós estamos cobrando desde o ano passado. Além disso, omite dados de Covid relacionados ao trabalhadores terceirizado, que são os que mais se contaminam nas unidades operacionais. Esse é, inclusive, um dos pontos de pauta da categoria que a gestão se nega a atender”, explica o coordenador da FUP e também funcionário da Rlam, Deyvid Bacelar.
Nesta quinta, cerca de 400 trabalhadores próprios e terceirizados do ativo Fazenda Bálsamo, área de produção terrestre da Petrobrás no interior da Bahia, atenderam ao chamado do sindicato e também retornaram para casa, aderindo à greve.
Na Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Minas Gerais, onde a greve também foi aprovada, o Sindipetro MG continua exigindo a suspensão imediata das paradas de manutenção, em função do aumento de trabalhadores infectados pela Covid. Segundo o sindicato, foram confirmados nesta última semana mais de 78 casos de contaminação por coronavírus a Regap, entre trabalhadores efetivos e terceirizados. Somente em março, mais de 200 trabalhadores testaram positivo para Covid-19 na refinaria e mais de 10 trabalhadores, entre próprios e terceirizados, estão internados.
No Espírito Santo, onde os trabalhadores da UTG-C, dos campos terrestres e das plataformas vêm participando das mobilizações, a greve foi ampliada para a UTG-SUL. Para protestar contra as péssimas condições de trabalho, os petroleiros iniciaram na terça-feira, 16, uma “greve de alimentação”, com boicote produtos fornecidos pela Petrobrás. “Essa situação extrapolou o limite do aceitável após o novo contrato de llimentação da Unidade, onde as cozinheiras precisam fazer mágica com os produtos de péssima qualidade oferecidos pela empresa. Diante dessa situação, estamos pagando a alimentação desses trabalhadores, incluindo o lanche da tarde”, afirma o coordenador do Sindipetro-ES, Valnisio Hoffmann, informando que o sindicato já enviou diversos ofícios para a empresa, com relatos dos trabalhadores reclamando da alimentação, mas a gerência continua omissa.
Na Refinaria de Manaus (Reman), no Amazonas, a greve contou com o reforço dos trabalhadores da Liga, empresa terceirizada que presta serviços de manutenção para a Petrobrás. Cerca de 70 trabalhadores cruzaram os braços em protesto pelo não pagamento dos salários. A Reman está em processo acelerado de privatização e sucateamento. Por conta disso, a gestão mantem a unidade em carga mínima, com apenas uma das três unidades de processamento em atividade.
Na Usina de Xisto (SIX), no Paraná, a greve pode ser deflagrada a qualquer instante, pois a gestão da unidade se negar a negociar com o Sindipetro e não respondeu a pauta de reivindicações aprovada pelos trabalhadores. A categoria iniciou nesta quinta-feira, 18, assembleias para decidir sobre o início da greve.
A greve também movimenta também as bases operacionais representadas pelo Sindipetro Unificado de São Paulo, onde estão sendo feitas mobilizações a cada dia em unidades diferentes.
Em Pernambuco, os trabalhadores da Refinaria Abreu e Lima também aprovaram a greve e têm participado de mobilizações preparatórias para o movimento.
Combustíveis a preços justos
Os sindicatos da FUP continuam intensificando as ações solidárias de descontos para a população na compra de combustíveis, mobilização iniciada em 2019 para debater com a sociedade a importância da Petrobrás enquanto empresa estatal e a urgência de uma política de Estado para o setor de óleo e gás, que garanta o abastecimento nacional de derivados de petróleo, com preços justos para os consumidores.
Nesta quinta, a ação do Sindipetro Amazonas beneficiou 100 taxistas e 50 mototaxistas que pagaram R$ 3,50 pelo litro da gasolina em um posto de Manaus, onde a atividade foi realizada. Foram distribuídos 2.500 litros de gasolina. A ação ocorreu em parceria com o Sindicato dos Taxistas do Amazonas (Sintax-AM) e com o Sindicato dos profissionais Mototaxistas de Manaus (Sindmoto).
No Espírito Santo, os petroleiros distribuíram ontem (17/03) mais 200 cupons de desconto de R$ 2,00 para motoristas de carros e motocicletas que abasteceram os veículos com gasolina em um posto de Vitória. Ao todo, foram subsidiados 3 mil litros do combustível.
Na Bahia, as ações estão ocorrendo ao longo de toda a semana, com venda subsidiada de 12.300 litros de gasolina em quatro municípios do interior e na capital do estado. O litro da gasolina está saindo por R$ 3,50, quase metade do preço praticado no mercado, em função da política preço da Petrobrás que tem por base a paridade de importação (PPI).
Essa política foi implementado em outubro de 2016, durante o governo de Michel Temer e mantida pelo governo de Jair Bolsonaro, impondo sérios prejuízos aos consumidores brasileiros, pois vincula os preços dos derivados nas refinarias às variações do dólar e do barril de petróleo no mercado internacional. Por conta disso, a cada 15 dias, em média, a Petrobras anuncia um novo aumento nos preços. Só este ano, a gasolina subiu seis vezes, acumulando um aumento de 54,3%.
Veja as fotos do 14º dia de greve:
[Da imprensa da FUP]