Em reunião com a gerência de Recursos Humanos da Refinaria Paulínia (Replan), nesta terça-feira (24), o Sindicato Unificado dos Petroleiros de São Paulo (Sindipetro-SP) criticou a falta de transparência que têm marcado o processo de mudança de ênfase na companhia.
Durante o encontro por meio de videoconferência, o gerente de RH confirmou que “não dão publicidade a critérios de gestão”, mas que consideram fatores como “liberação de empregados e estratégia da companhia.” Segundo ele, “não é possível informar os parâmetros utilizados pelo RH”, mas estariam em acordo com o mercado.
Com a cobrança do Sindipetro, o representante da direção afirmou que avaliará o ofício encaminhado pelo sindicato a divulgação do padrão de procedimento corporativo com regras sobre as mudanças de área de atuação dos petroleiros.
Coordenador da regional Campinas da entidade, Gustavo Marsaioli, apontou durante a conversa que muitos trabalhadores se sentiam enganados por abrirem mão de um plano de cargos com nível de avanço em melhores condições pela promessa de possibilidade facilidade de mudança de ênfase.
O fator foi fundamental, ressaltou, para que os trabalhadores aderissem ao plano de carreiras e remuneração (PCR) como substituto ao plano de classificação e avaliação de cargos (PCAC).
“A maior parte dos trabalhadores que resolveu aderir ao PCR assumiu o prejuízo da mudança porque entendeu que ficaria mais fácil trocar de ênfase. Mas neste momento em que a oferta de vagas internas é a maior dos últimos 10 anos, há uma total falta de transparência fazendo com que muitos funcionários sequer tenham a possibilidade de participar do processo”, criticou.
O Banco de Interesses, vinculado ao Mobiliza Contínuo, é um dos principais pontos de conflito.
“Ele não existia no momento da criação do PCR, dando entender que vagas criadas seriam apenas por meio de Mobiliza. No procedimento que fala da sua criação, diz que os critérios de seleção devem ser claros, mas o que ouvimos da empresa é que esses parâmetros não serão divulgados. No mínimo, precisamos saber o número de vagas e o critério para seleção, porque há pessoas que não são entrevistadas e algumas que são não recebem retorno”, cobrou.
Leia também: Banco de interesses é símbolo da falta de transparência que tomou conta da Petrobrás
Em resposta, o RH ressaltou que os trabalhadores ‘apenas’ não sabem “como ficou o ranking do processo seletivo, os critérios utilizados e porque não estão indo para as próximas etapas”. Trata-se, segundo ele, de uma “questão de gestão que precisa equilibrar essa engrenagem (da refinaria)”.
Ele admitiu ainda que nem todos os inscritos às vagas receberam retorno, mas que serão informados e que o impedimento tem sido o grande número de proponentes.
Entenda o conflito
Em 2018, a Petrobrás apresentou o PCR como um substituto ao PCAC. O pacote de mudanças trouxe um fator novo, o Mobiliza Contínuo, um programa criado para intermediar a transferência para as vagas já disponíveis.
Segundo a companhia, o objetivo era facilitar o fluxo interno e buscar alternativas para a ausência de trabalhadores em determinados setores por conta da falta de concursos públicos e desligamentos através de aposentadoria ou planos de demissão voluntária.
O novo plano trazia um tempo maior de mudança de nível na carreira dentro da empresa. Se no PCAC essa progressão ocorria em no máximo 18 meses, caso o trabalhador atingisse as metas estabelecidas, e 24 meses no caso de não atingimento, o novo modelo impôs 60 meses como período a ser cumprido para ter acesso a um avanço de nível automático.
Em contrapartida, a empresa garantia a possibilidade ampla de mudanças de ênfase dentro do Sistema Petrobrás.
De acordo com as novas regras, bastaria ao petroleiro ter optado pelo PCR, atender a critérios como formação técnica e se inscrever para a vaga disponível. Caso aprovado no processo seletivo, apenas teria de negociar o prazo de liberação com o gerente, sendo proibido o veto do responsável pela área cedente.
Porém, os parâmetros mudaram no decorrer do caminho e, o que deveria ser para todos, passou a priorizar o que a empresa chama de ‘liberação de empregados’. Trata-se da absorção do pessoal corporativo de áreas que sofreram com o desinvestimento, nome palatável para a privatização que se aprofunda durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Portas fechadas por excesso de competência
Apesar de haver garantia de que não seria possível o veto do gerente da área de origem para a mudança, a direção de RH apontou que, entre os critérios subjetivos para seleção dos candidatos está o que chamou de ‘gestão de efetivo’ e inclui a análise curricular e a importância do trabalhador na atividade da refinaria.
Na prática ocorrem situações como a recente inscrição de 38 trabalhadores da manutenção da Replan sendo selecionados apenas 3 técnicos de instrumentação para concorrerem a apenas
uma vaga na operação. Os demais 35 foram vetados pelo gerente.
“Falam em não poder desfalcar a manutenção. Mas se as aposentadorias nesse setor já eram previsíveis, a saída era inevitável, por que o RH não se preparou para esses desfalques?”, questiona o diretor do Sindipetro.
[Da imprensa do Sindipetro Unificado SP]