Direção da Petrobrás esconde casos de covid-19 na Refinaria Landulpho Alves

A partir de informações cedidas por uma fonte fidedigna do SMS da Petrobrás no Rio de Janeiro, o Sindipetro Bahia conseguiu traçar um mapa de trabalhadores diretos da Petrobrás contaminados pela covid-19, na Refinaria Landulpho Alves (Rlam), localizada no município de São Francisco do Conde, distante 58 km de Salvador.

Nos meses de abril e maio, somente na Rlam, havia 24 casos de trabalhadores diretos que testaram positivo para o novo coronavírus. Alguns apresentaram sintomas, mas outros eram assintomáticos, o que é um grande perigo, pois indica que o nível de contaminação pode ser ainda maior. Soma-se a isso o fato de que os resultados de testes feitos em muitos trabalhadores ainda não haviam sido liberados pelo laboratório.

Em reportagem publicada no dia 17/06, o jornal Estado de São Paulo, tratou sobre a grande quantidade de infectados nas unidades do Sistema Petrobrás, revelando que teve acesso a relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) que foram enviados ao governo federal alertando sobre o avanço da pandemia de covid-19 na Petrobrás. De acordo com o jornal, os documentos somam 950 páginas e revelam que, em um intervalo de apenas nove dias, 872 trabalhadores foram infectados em unidades da empresa.

No dia 20/06, o Jornal Correio da Bahia, também publicou matéria abordando o aumento de casos de covid-19 na Petrobrás, mostrando que houve crescimento do número de trabalhadores infectados na Refinaria Landulpho Alves. A reportagem ouviu o coordenador geral da FUP e diretor do Sindipetro Sindipetro Bahia, Deyvid Bacelar, o Siticcan e a Petrobrás.

Falta de transparência

A subnotificação e a falta de transparência em relação ao número de empregados infectados pelo novo coronavírus no ambiente de trabalho da estatal têm sido uma constante na relação da empresa com os sindicatos, a Federação Única dos Petroleiros, (FUP), com a imprensa e com as CIPAS (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), pois a Norma Regulamentadora (NR5) e cláusulas do Acordo Coletivo de trabalho da categoria petroleira,  que obrigam a direção da empresa a fornecer à CIPA informações sobre os dados epidemiológicos dos trabalhadores estão sendo desrespeitadas.

Em reunião que aconteceu no dia 08/05, a CIPA da Rlam convocou o preposto da refinaria e solicitou a divulgação dos dados epidemiológicos dos trabalhadores, o que foi negado pela empresa. No dia 02/06, a assembleia da CIPA elaborou e aprovou um documento que foi endereçado ao Gerente Geral da Rlam no dia 17/06, solicitando que  todas as informações epidemiológicas (a partir dos dados estatísticos) sejam apresentadas e entregues pela empresa formalmente à CIPA, para que a Comissão possa participar ativamente das medidas de prevenção.  De acordo com a Comissão até o momento não houve resposta da Petrobrás.

O Sindipetro Bahia também enviou oficio à Petrobrás, no dia 26/03, notificando a empresa e solicitando adequação do ambiente de trabalho da categoria e empresas terceirizadas para combater a instalação e o avanço do novo coronavírus nas unidades da empresa. Nesse mesmo dia enviou outro ofício solicitando uma reunião virtual com a empresa para  tratar sobre esse assunto.

Como não obteve resposta, o Sindipetro  denunciou ao  Ministério Público (MP)  a falta de transparência em relação ao número de trabalhadores infectados pela covid-19 nas unidades da empresa.  O MP intimou a Petrobrás a prestar esclarecimentos, o que foi feito.  No dia 28/04,  o MP encaminhou ao seu setor técnico os documentos enviados pela estatal e no dia 03/06,  determinou que fosse comunicado ao setor pericial “para observar a ordem de perioridade em relação a esse feito, considerando tratar-se de medida de prevenção a contaminação pelo COVID-19 no âmbito da RLAM”.

Já no dia 22/05, o Sindipetro enviou à Petrobrás outro documento solicitando informações sobre o número de trabalhadores infectados para que a entidade possa pautar sua atuação perante a categoria, auxiliando na prevenção e combate ao covid-19. As informações foram solicitadas levando em conta as seguintes considerações: “o quadro de pandemia global causada pela Covid-19 e o claro agravamento da pandemia no Brasil, o grande quantitativo de trabalhadores que integram os quadros funcionais da companhia, a diversidade de atividades, ambientes e condições de trabalho, bem como o relato desses trabalhadores dos problemas por eles enfrentados nas suas unidades de trabalho, o que fica evidente que a política de combate ao Covid-19 adotada pela companhia é insuficiente”.

Negligência

Desde que a OMS decretou a pandemia mundial pelo novo coronavírus que o Sindipetro Bahia e a FUP buscam travar diálogo com os gerentes da Petrobrás no sentido de proteger os petroleiros diretos e terceirizados com a adoção de regras e protocolos de segurança que evitassem a contaminação desses trabalhadores e, consequentemente, de suas famílias.  Mas foi em vão.

Como não conseguia informações da Petrobrás, o Sindipetro Bahia divulgou endereço de e-mail e número de telefone para que os trabalhadores pudessem denunciar a  situação nas unidades da estatal, de forma anônima. Desde o mês de março, o sindicato vem recebendo denúncias de trabalhadores.  O sindicato também já recebeu fotos de banheiros sujos, sem sabão ou toalha de papel, de relógios de pontos e de refeitórios com aglomeração de trabalhadores terceirizados. Além de relatos de falta de álcool gel e de máscaras e de ônibus circulando com a lotação completa.

Para Alden Carlos, diretor do Sindipetro Bahia e trabalhador da Rlam, a Petrobrás vem agindo de forma diferente com os seus trabalhadores próprios e os terceirizados. “Para os primeiros há algum tipo de suporte e acompanhamento. Já os terceirizados estão entregues à própria sorte.  Desta forma, fica muito difícil prevenir e  conter a pandemia nas unidades da empresa, pois isso só será possível se os cuidados com a prevenção atingirem toda a força de trabalho”.

Já para o  Coordenador Geral da FUP, Deyvid Bacelar, que é baiano e oriundo da Rlam, “a negligência com a saúde dos trabalhadores tem sido uma marca da Gestão Castello Branco, que segue à risca a irresponsabilidade do Governo Bolsonaro, com a subnotificação de casos de covid-19 na companhia, conforme comprovado pela própria ABIN e divulgado pelo Estadão”. Para ele “a direção da Petrobrás age de forma negligente e irresponsável ao anunciar um planejamento para retomada das atividades presenciais enquanto aumenta o número de petroleiros contaminados pela covid-19 em seus ambientes de trabalho em todo o Brasil, que já é o segundo país em casos e mortes no mundo”.

Para o Coordenador Geral do Sindipetro Bahia, Jairo Batista, “ao retomar as atividades presenciais em um momento que a curva de contaminação do vírus se encontra em um patamar ascendente, a direção da Petrobrás está assumindo o risco da morte de seus trabalhadores, o que, portanto, pode ser visto como um genocídio”.

As entidades sindicais têm feito a contagem de casos de covid-19 na Petrobrás a partir de informações que chegam através dos próprios trabalhadores. Veja abaixo casos de contaminação e morte pela covid-19 que chegaram ao conhecimento do Sindipetro

Infectados pelo novo coronavírus (covid-19), na Bahia

24 casos na RLAM

3 casos na Unidade de Araças (trabalhadores próprios)

1 na Unidade Taquipe (terceirizado)

1 na Estação Vandemir Ferreira (trabalhador próprio)

3 na Transpetro de Madre de Deus (três vigilantes – terceirizados)

1 na Transpetro Itabuna (terceirizado)

1 no Torre Pituba de um trabalhador lotado na RLAM (trabalhador próprio)

3 na termoelétrica Arembepe

1 na termoelétrica Muricy (assintomático)

1 na Plataforma de Manati (vigilante terceirizada)

1 na  Unidade OP-CAN

Morte

1 morte de um trabalhador da Halliburton. Johnny de Carvalho Mafort, 36 anos,  era do Rio de Janeiro e estava de passagem pela Bahia prestando serviço à Petrobrás na UO-BA, e faleceu no Hospital Aeroporto.

[Sindipetro Bahia]