Em artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo, os pesquisadores do INEEP, Rodrigo Leão e William Nozaki, alertam: A inexistência de uma articulação mais sólida entre os países produtores de petróleo que integram o chamado América+2 ((Estados Unidos, Canadá, Colômbia, Brasil, Noruega e Reino Unido) fará com que cada país realize ajustes nos níveis de produção segundo objetivos locais, tanto de suas empresas, como de seus governos.
Leia a íntegra:
O ano de 2020 promete entrar para a história do mundo do petróleo. A crise do coronavírus e o desequilíbrio entre demanda e oferta colocaram o setor diante de uma situação preocupante.
Do lado da demanda, segundo estimativas da consultoria Rystad Energy, o consumo de petróleo no mundo deve cair cerca de 27,5 milhões de barris por dia neste mês de abril. Do lado da oferta, o acordo feito no âmbito da Opep+ – grupo que reúne a Opep e mais onze grandes produtores liderados pela Rússia e México – levou a uma redução insuficiente da produção de curto prazo, em cerca de 9,7 milhões de barris. Ou seja, se nenhum outro esforço de ajuste da produção for realizado, o mundo será inundado de petróleo.
O tímido corte da Opep+ pressiona os grandes produtores da chamada America+2 (Estados Unidos, Canadá, Colômbia, Brasil, Noruega e Reino Unido), que extraíram 29,5 milhões de barris de petróleo e gás por dia em 2019, a realizar ajustes na oferta para equilibrar o mercado global.
No entanto, a inexistência de uma articulação e de uma institucionalidade mais sólida entre os países desse grupo, somada às dificuldades internas da política dos Estados Unidos, retardou a formação de uma resolução de corte da produção entre os países da América+2. Isso significa que, até o momento, cada país parece agir segundo os objetivos tanto de suas empresas, como de seus governos.
A abrupta redução dos preços do WTI no dia 20 de abril, por exemplo, ocorreu devido à resistência dos Estados Unidos de reduzir sua produção de petróleo (cerca de 12 milhões de barris) de maneira expressiva no curto prazo, a despeito da queda vertiginosa da sua demanda. De 13 de março a 10 de abril, o consumo de petróleo e derivados no país caiu de 21,5 milhões de barris por dia (bpd) para 13,8 milhões de bpd. Caso a oferta e a demanda continuem a se comportar dessa forma, em breve, a produção norte-americana será maior do que sua própria demanda e continuará pressionando a capacidade de armazenamento de petróleo do país.
Esse cenário indica que o gigantesco desequilíbrio no mercado global de petróleo continuará por um tempo. No caso do Brasil e da Petrobrás, haverá dificuldade para que seja mantido o ritmo de crescimento das exportações de petróleo cru tanto pelo aumento da competição, como pela queda da demanda. Além disso, a diminuição dos preços deve afetar significativamente as margens do setor de exploração e produção.
Por isso, o mercado de derivados, tanto pela capacidade de exportação de alguns produtos específicos como bunker (diesel marítimo), como pela menor pressão nas margens do setor de refino, será fundamental para que a petrolífera brasileira possa atenuar os impactos gigantescos aos quais será submetida nessa crise.
Rodrigo Leão é coordenador-técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) e pesquisador-visitante do NEC da Universidade Federal da Bahia.
William Nozaki é coordenador-técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
[Via Estadão]