INEEP: Venda de ativos e exportação de óleo cru do pré-sal devem elevar lucro da Petrobras em mais de 40% no ano de 2019

 

Via INEEP

A Petrobras divulga nesta quarta (19/02) o resultado anual de 2019. Segundo estimativas do Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), a expectativa é de que a empresa registre um expressivo aumento nos lucros, que devem alcançar cerca de R$ 38 bilhões. Esse montante é cerca de 42% superior em relação ao ano de 2018.

Todavia, esse resultado somente será alcançado se os gastos realizados (bônus de assinatura e despesas com a aquisição da cessão onerosa) pela Petrobras na aquisição de novos blocos exploratórios de cerca de R$ 35 bilhões não impactarem as despesas da companhia (tabela 1).

Na avaliação do Ineep, por conta de as despesas com bônus de assinatura serem lançadas como ativos e depreciadas ao longo do tempo, a partir da comprovação da viabilidade técnica e comercial da produção de óleo e gás nas áreas leiloadas, estas não afetarão os gastos da companhia.

Cabe observar que esse expressivo resultado nos lucros e na geração de caixa (EBITDA estimando em R$ 122 bilhões – Tabela 1) da Petrobras em 2019 foi, em boa medida, influenciado por receitas não recorrentes de venda de ativos que totalizaram R$ 44,5 bilhões. Entre os ativos vendidos, destacaram-se a TAG, a BR Distribuidora e os campos maduros na Bacia de Campos.

Tabela 1 – Estimativas do Balanço da Petrobras

Além das receitas não recorrentes, o provável resultado positivo da Petrobras se deve ao aumento de 6,4% na produção de petróleo e gás em 2019, na comparação com 2018, registrando uma média 2,77 milhões de barris equivalentes de petróleo. A produção no pré-sal, que se expandiu em 28%, foi a área que mais impulsionou esse resultado, já representando cerca de 59% da produção de petróleo no Brasil.

Esse aumento da produção ocorreu em virtude de novas unidades de produção e, principalmente, devido ao ramp-up dos 8 novos sistemas que entraram em produção em 2018 e 2019. Cabe observar que as decisões de investimentos para que essas unidades produtivas entrassem em operação ocorreram há pelo menos cinco ou seis anos atrás.

A plataforma P-68, por exemplo, que iniciou sua produção em novembro de 2019, foi contratada pelo consórcio Petrobras e Galp, em 2012, junto à subsidiária da Sembcorp Marine, Jurong do Brasil Prestação de Serviços Ltda (JDB). Na época, o estaleiro fechou um contrato de US$ 674 milhões “para a construção de um total de oito módulos e integração do módulo funciona para dois Navios Plataformas de Produção, Armazenamento e Transferência (FPSO)”, entre estes a P-68. Ou seja, a entrada da P-68 para produzir os campos de Berbigão e Sururu, em 2019, somente foi possível em razão de uma decisão de investimento tomada em 2012.

Os resultados positivos da produção de petróleo e gás são, portanto, o resultado de decisões de investimento iniciados em períodos anteriores que requerem um elevado montante de recursos que, após a produção, irá gerar retornos e geração de caixa por longos períodos.

Com o avanço da produção de petróleo e a estagnação no nível de utilização das refinarias, as estimativas do Ineep mostram que a Petrobras tem aumentado de forma expressiva suas receitas oriundas da exportação de petróleo cru. Entre 2018 e 2019, as exportações cresceram cerca de 25,2% (de 428 para 536 mil barris/dia), sendo que a receita com a exportação de petróleo já representa mais de 15% da receita total da Petrobras.

Por outro lado, a utilização da capacidade das refinarias da Petrobras em 2019 ficou em 77%, praticamente igual ao nível do ano anterior, mesmo com o aumento da demanda de derivados no mercado consumidor brasileiro. Segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o consumo de combustíveis cresceu 2,9%, entre 2018 e 2019, saltando de 2,35 milhões de barris/dia para 2,41 milhões de barris/dia. Todavia, a queda de 2,7% do volume total de vendas dos derivados fez com que a Petrobras perdesse ainda mais participação no abastecimento para o mercado interno. Tal participação caiu de 76,2% em 2018 para 72,0% em 2019, uma expressiva queda de quatro pontos percentuais em apenas um ano.

Considerando a segunda metade dos anos 2010, a perda de participação foi ainda maior (cerca de dez pontos percentuais), saindo de 82,9% em 2015 para os mesmos 72,0% de 2019. Nesse período, a produção de derivados se reduziu de 2,03 milhões de barris/dia para 1,74 milhões de barris/dia (uma queda de 14,2%).

Isso evidencia que a redução do market share da Petrobras no mercado de derivados, fruto de sua política de preços alinhada com o preço paridade internacional (PPI) e da estratégia de subutilização das refinarias, possibilita a entrada de novos competidores (importadores) sem que essa concorrência tenha significado uma diminuição dos preços dos derivados. Isso é explicado pelo fato de todo o mercado estar “alinhado” ao preço de importação.

Pelo lado do endividamento, os resultados do balanço devem reforçar a política em curso de acelerada desalavancagem (trajetória de redução da relação dívida líquida/LTM EBITDA). Com as receitas oriundas das vendas de ativos, a Petrobras deve adiantar o pagamento de dívidas junto aos seus credores, reduzindo o seu nível de endividamento, mas num montante menor do que nos trimestres passados em virtude dos gastos com bônus de assinatura de novas áreas de exploração.

Os resultados operacionais e financeiros do balanço anual 2019 da Petrobras devem evidenciar a estratégia de desinvestimentos, que gera caixa no curto prazo, mas pode afetar as condições produtivas da empresa no médio e longo prazo. Todavia, cabe ressaltar que, para além da venda de ativos, os resultados positivos estão ancorados na descoberta do pré-sal e nos investimentos passados que visaram acelerar o desenvolvimento da produção dessa fronteira.

Por isso, não há dúvidas de que as perspectivas na produção de petróleo devem garantir um futuro promissor à empresa, principalmente por conta do pré-sal, desde que permaneçam os investimentos na exploração e produção (E&P). Todavia, a concentração das atividades da estatal somente neste segmento traz riscos de longo prazo, principalmente numa eventual turbulência no mercado internacional que reduza bruscamente o preço do barril do petróleo. A atual desverticalização da empresa – que tende a se aprofundar em 2020 – pode comprometer a capacidade futura de geração de receitas tendo em vista a eliminação de várias atividades que poderiam “atenuar” eventuais dificuldades no setor de E&P.