Nesta sexta-feira (20), cerca de 150 países estão recebendo manifestações da greve global pelo clima. Milhares de pessoas exigem medidas concretas para frear as emissões de gases do efeito estufa e por atenção às mudanças climáticas provocadas pelo homem. As manifestações acontecem um dia antes da abertura da Cúpula pelo Clima, que vai até dia 23 de setembro na sede da Organização Mundial das Nações Unidas (ONU), em Nova York.
As crescentes pressões pelo uso de energias mais limpas têm feito as grandes empresas petrolíferas olharem com maior atenção para fontes alternativas aos combustíveis fósseis como petróleo e o gás natural.
A transição da matriz energética para fontes mais limpas tem sido objeto de preocupação das petrolíferas. E a motivação para essa renovação não vem somente das pressões ambientais. Aspectos relacionados ao preço e até mesmo questões geoestratégicas têm seu papel nessa mudança, como aponta o diretor-técnico do Ineep Rodrigo Leão em texto sobre a ascensão dos renováveis e a estratégia da British Petroleum (BP).
No caso da British Petroleum, interessa notar que a empresa ingressou no mercado de energias renováveis já nos anos 1980. No final dos anos 1990, a BP definiu um plano de ação a fim de ampliar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e em operações de renováveis, principalmente de energia solar, além de construir projetos de transição energética juntamente com instituições globais.
Ou seja, como mostraram os especialistas Minjia Zhong e Morgan Bazilian, em texto publicado em 2018 no The Electricity Journal, a BP seguiu o caminho das petrolíferas globais, que passaram a adotar novas estratégias de atuação neste segmento, para além da criação de filiais ou subsidiárias próprias. Entre as mais importantes estratégias estavam: (i) disseminar a expertise operacional do setor de exploração e produção offshore e de refino, respectivamente, para o segmento de eólica e de biorrefinarias; (ii) prover financiamento (venture capital) para startups com alta intensidade tecnológica em renováveis; (iii) construção de negócios integrados com o setor de renováveis, principalmente nas operações de exploração e produção.
Enquanto isso, o atual presidente da Petrobras aponta que a empresa descarta investir em energia renovável. Seguindo a sua política de desinvestimentos, a Petrobras se desfez de diversos ativos nesse tipo de energia nos últimos anos. Como exemplo, já em 2016, a Petrobras vendeu para o grupo francês Tereos a sua participação na sucroalcooleira Guarani por US$ 202 milhões, bem como anunciou o fim das atividades da PBio e reduziu os investimentos em P&D nesse segmento.
A decisão da Petrobras de se desfazer dos ativos em energia renováveis caminha em trajetória oposta àquela percorrida pela Europa nos últimos anos. Entre várias estratégias, os europeus têm colocado foco na promoção do desenvolvimento e uso de biocombustíveis. Nesse sentido, não é por acaso que, além da Tereos, outras empresas europeias ingressaram recentemente no mercado de energias renováveis no Brasil.
A Shell divulgou recentemente que planeja investir US$ 3 bilhões todo ano, a partir de 2020, em energias renováveis, sendo o orçamento destinado a um conjunto de países onde atua, com o Brasil se destacando entre as prioridades.
A trajetória de algumas grandes empresas petrolíferas mostra que a inevitável transição da matriz energética forçará a adoção de novas estratégias para que elas não fiquem fora do processo. Evidente que a velocidade da transição e o grau de envolvimento dependerá de muitas outras variáveis, como a geopolítica e a evolução da própria indústria do petróleo. Contudo, é importante reconhecer que esse é um caminho sem volta para o desenvolvimento de uma matriz energética mais sustentável no longo prazo.
[Via Blog do Ineep]