O representante da extrema direita, Jair Bolsonaro (PSL), venceu a eleição presidencial de domingo, com 57,7 milhões de votos, que representam 39,3% dos eleitores, enquanto Fernando Haddad (PT) obteve 47 milhões de votos, que equivalem a 30,9% dos eleitores. O segundo turno registrou o maior número de votos nulos, brancos e abstenções da história da redemocratização: 30,8%, o que representa 42,1 milhões de eleitores. (Saiba mais aqui).
Com o país dividido, a democracia em risco, as ameaças às instituições e ao ativismo político feitas por Jair Bolsonaro e seus filhos, e um ultraliberal no comando da economia, os movimentos sindicais e sociais se organizam para somar forças em uma ampla frente democrática de resistência. “Esse é um momento triste, porém continuaremos de mãos dadas e seremos a resistência”, afirma o coordenador da FUP, José Maria Rangel. “Engana-se quem pensa que estamos fracos ou destruídos. Saímos deste momento histórico com a certeza de que estivemos do lado certo da luta e de que travamos o bom combate”, ressalta o petroleiro. A FUP e seus sindicatos se reúnem nas próximas semanas para debater os rumos do movimento sindical petroleiro diante deste novo cenário político.
As frentes Brasil Popular e Povo sem Medo fizeram um chamado aos movimentos sociais para que unifiquem e fortaleçam a luta pela democracia, pela soberania nacional e pelos direitos. “Orientemos que na próxima semana se organizem plenárias em todas as cidades, reunindo a militância e todos aqueles que se somaram nessa batalha. Onde for possível devemos também organizar manifestações, tal como já está marcado para terça-feira, 30 de outubro em São Paulo”, diz a nota conjunta das Frentes, mencionando ato político programado para o final da tarde, no Masp, Avenida Paulista. Além de São Paulo, já há confirmações de atos nesta terça no Rio de Janeiro, Fortaleza, Recife, Brasília e Porto Alegre.
Em nota divulgada após a confirmação da vitória do candidato do PSL, a CUT afirmou que, diante do resultado oficial das eleições presidenciais, a maioria dos eleitores brasileiros entregou a Presidência da República a alguém que “sempre votou contra os direitos da classe trabalhadora, se opôs às políticas sociais, votou a favor do congelamento dos investimentos em saúde e educação, da entrega do pré-sal e das reservas petrolíferas aos estrangeiros ofendeu e ameaçou militantes de esquerda, as mulheres, os negros e os LGBTs”.
A entidade, porém, lembra que quase a metade da população votou “contra o projeto que levará o Brasil ao retrocesso político e civilizatório”.
“Ao longo da campanha, os meios de comunicação foram utilizados diuturnamente para atacar a candidatura popular. Os empresários pressionaram seus funcionários com todo tipo de ameaças. O nome de Deus foi usado em vão. As redes sociais foram inundadas de mentiras, numa estratégia articulada e paga por empresas com o objetivo de difamar o PT e seu candidato, Fernando Haddad”, diz a nota.
A CUT afirma que manterá a classe trabalhadora unida, “preparando-a para a luta, nas ruas, nos locais de trabalho, nas fábricas e no campo contra a retirada de direitos e em defesa da democracia”.
O petroleiro Divanilton Pereira, vice-presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), e João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical declararam que a unidade e o fortalecimento da democracia são fundamentais neste momento. “A causa democrática deve ser a grande bandeira que possa aglutinar um movimento progressista, democrático, nacional e brasileiro”, afirmou Divanilton.
Segundo ele, surgiu na reta final da campanha de Fernando Haddad um movimento antifascista e a defesa da democracia se fortaleceu. “Essa frente precisa ser ampliada. É preciso dar mais passos para evitar que a agenda anti-trabalho, anti-povo ganhe corpo no Congresso Nacional”.
Na opinião de Divanilton, o movimento político de viés fascista chegou ao Brasil. “A dificuldade do capitalismo dar resposta para a sua própria crise criou falsos heróis. O pensamento direitista, fascista que estava escondido no armário hoje tem expressão política, alcançou resultado eleitoral e tem um presidente da República”.
De acordo com Juruna, “Reconhecer o resultado das urnas é tarefa de todo democrata. Valorizar a democracia, a Constituição e continuar nossas mobilizações para garantir e conquistar os direitos dos trabalhadores. A unidade de ação será fator preponderante nesse novo tempo”.
Em pronunciamento por rede social, o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) João Paulo Rodrigues afirmou que os movimentos populares e partidos de esquerda tiveram uma vitória política, apesar da derrota eleitoral. Segundo ele, este “talvez seja o momento mais importante da luta contra o golpe”.
“Para o Brasil, é uma aberração ter um presidente como este, uma vergonha a nível internacional, um autoritarismo com que possivelmente vamos conviver”, disse João Paulo, para quem o governo eleito terá “dificuldades para resolver as demandas urgentes que tem o povo brasileiro”. Ele reafirmou compromisso com a democracia, a defesa da reforma agrária, e por partidos e instituições fortes, além da liberdade de Lula.
Sobre possíveis perseguições a movimentos e militantes no próximo governo, o dirigente afirmou que “o MST não é raposa para ter medo de grito”. “Continuaremos nas trincheiras da luta, o nosso povo não vai se esconder debaixo da cama. Continuaremos acampados na beira da estrada, lutando por reforma agrária.” Mas lembrou que ninguém irá provocar o presidente eleito. E defendeu alianças “com os movimentos da cidade, cuidar dos nossos militantes, ambientalistas, indígenas, porque eles vão fazer muita provocação e a única forma de resistir é estar no meio do povo”.
“Quando for 2 de janeiro, eles vão ter de resolver os problemas da economia brasileira. Tem um monte de tarefa de casa que esse governo incompetente tem de responder”, acrescentou o representante do MST. Segundo ele, esta será uma semana “de reflexão”, para começar então a discutir, dentro da Frente Brasil Popular, a próxima edição de um congresso do povo, já em 2019.
[Com informações da CUT, CTB e Rede Brasil Atual]