É grave o que a Petrobrás está fazendo com as indústrias baianas e sergipanas.
Primeiro decidiu por conta própria fechar as fábricas de fertilizantes mais importantes do país e deu prazo até 31 de outubro de 2018 para isso. Agora, em total desrespeito aos seus clientes no Polo Petroquímico de Camaçari e aos trabalhadores e trabalhadoras, comunica às empresas clientes que parará suas plantas este mês por 30 dias alegando estoque alto devido a baixas vendas e que, no período, não vai fornecer amônia e CO2.
Mentira
A FAFEN-BA está realmente elevando seus estoques, mas de maneira proposital. A sede da Petrobras aumentou o preço do gás natural fornecido às FAFEN`s de US$ 8,5 para US$ 10/MMBTU sem nenhuma justificativa e determinou que as fábricas aumentassem o preço da amônia de US$ 387/ton para US$ 513/ton já este mês, um aumento de 32% no produto, PARA NÃO VENDER. Para se ter uma ideia, os EUA praticam preços em torno de US$ 3/MMBTU para o gás.
A sede no Rio de Janeiro já determinou a parada da FAFEN-SE que já parou a síntese de amônia e está mantendo a planta de ureia a 60% de capacidade pelo mesmo motivo. Pela primeira vez na história da FAFEN-BA, a Petrobrás se recusa a vender o excedente de amônia estocado no Porto de Aratu, o que sempre fez independente do preço no mercado externo justamente para não parar a produção e não afetar os consumidores intermediários como a CARBONOR que recebe CO2. Alega que o galpão de ureia na fábrica está com 70% de utilização, mas se recusa a transferir para o seu próprio Terminal de Ureia (TMU) no Porto de Aratu onde existe um galpão com capacidade para 30 mil toneladas de ureia e que está vazio,
Bom lembrar que a recuperação do TMU, após uma desastrosa sublocação a uma empresa privada proibida pela Companhia das Docas do Estado da Bahia, foi custosa e não há qualquer explicação para que a Petrobras, após a recuperação, não queira usar seu terminal para estocar a ureia.
Preço de paridade e a hibernação forçada
Nesse momento a Petrobrás muda a estratégia de saída do mercado de fertilizantes da maneira mais cruel e criminosa. Há mais de 15 anos, a Petrobrás pratica o chamado Preço de Paridade para os produtos da FAFEN. O sistema de paridade mantém o preço do produto sempre competitivo em relação a preço internacional. Esta política tem o objetivo de, por um lado não permitir vender o fertilizante acima do mercado internacional, mas também o de não vender a preços muito baixos dos praticados lá fora. Entram na composição do preço o valor do dólar, os custos de internalização do produto e o frete.
Lançando mão de um artifício ardiloso, a Petrobrás resolve sair da política de paridade e praticar preço acima do internacional a partir deste mês de julho (aumento de 32%) e isso tem um objetivo muito simples, apesar de desastroso para a economia brasileira e, em especial para o agronegócio nacional.
A partir de setembro começa o período de compras de fertilizantes para o plantio de grãos. Para comprar o fertilizante da Petrobrás não é preciso muita antecedência e pode ser feito entre agosto e setembro. A decisão de comprar da Petrobrás ou de importar o fertilizante deve ser feita em julho porque, caso precise importar, o consumidor deve buscar no mercado internacional, contratar navio, avaliar filas nos terminais de graneis sólidos, estimar tempo de frete, etc., o que leva tempo.
Deste modo, o agricultor ou o intermediário precisa decidir entre julho e agosto onde comprar o produto evitando atrasos na entrega, justamente quando a Petrobrás decide elevar o preço forçando-o a comprar no exterior.
Segundo especialista da INTL FCStone, Fábio Resende, “Em Paranaguá, destino de 46,1% de todo o fertilizante importado no país em 2018, o tempo médio de espera para a atracação dos navios de fertilizantes é estimado em 17 dias. No ano passado, por exemplo, as embarcações aguardaram cerca de 8 dias para desembarcar os fertilizantes na média do mês de julho”. Assim, a decisão de comprar fertilizante no exterior deve ser antecipada para não haver atraso no plantio.
Isso é duplamente prejudicial ao agronegócio brasileiro porque a Medida Provisória nº. 832, de 27 de maio de 2018 e a Resolução nº 5.820 da ANTT estabeleceram valores mínimos para frete no país, após a pressão feita pelos caminhoneiros, o que, por si só, elevou o preço final do fertilizante conforme a consultoria INTL FCStone. Com o aumento artificial do preço do fertilizante produzido pela FAFEN torna-se impossível vender o produto.
A decisão de elevar em 32% o preço dos fertilizantes este mês tem o objetivo, portanto, de fazer com que os naturais consumidores (agricultores/misturadores) da FAFEN decidam por importar o fertilizante ao invés de comprar na FAFEN elevando os estoques das fábricas. Deste modo, quando chegar a época de vendas do fertilizante da FAFEN, a partir de setembro, os consumidores já estarão abastecidos com o produto importado, o que fará com que a FAFEN mantenha seus galpões atolados do produto e não possam reiniciar a operação de suas plantas por falta de espaço para estocar. Brilhante se são fosse perverso.
Esta é a mesma estratégia que foi utilizada nas refinarias da Petrobrás e que provocou a greve dos caminhoneiros. Aumentou o preço do diesel e da gasolina para forçar a importação do produto.
Em resumo, a Petrobras força uma hibernação antecipada das fábricas de fertilizantes usando seu poder discricionário de elevar os preços dos produtos da FAFEN. Isso é auto-sabotagem a uma empresa estatal. Com essa iniciativa a Petrobrás também se exime de cumprir qualquer compromisso com as empresas clientes pois não haverá interesse nos produtos produzidos pela FAFEN.
A insensibilidade da Petrobrás e de seus diretores
É um crime o que estão fazendo com a indústria baiana, com o desenvolvimento agropecuário nacional e, principalmente, com os doentes renais que precisam de hemodiálise e usam no tratamento um produto muito especializado fabricado pela Carbonor. (Leia mais no link ao final da matéria).
O grupo de trabalho (GT FAFEN) criado pelo “falecido” Pedro Parente para estudar alternativas para as FAFEN`s não parece estar preocupado com a saúde dos seres humanos.
Sabem do risco de provocar câncer nos consumidores de carne e leite se a indústria pecuária passar a utilizar a ureia fertilizante (que contém formol) por falta da ureia animal isenta da substância. Suspeita-se que uma grande fabricante mundial já está importando ureia fertilizante e vendendo no mercado brasileiro como ureia pecuária!! Um crime do qual a Petrobrás tem ciência.
Sabem da importância da fábrica para os doentes renais do Brasil porque a única fábrica de insumos para o tratamento da hemodiálise no Brasil depende da FAFEN-BA para produzir. Sabem dos prejuízos ao maior complexo industrial integrado do hemisfério sul e à receita do estado da Bahia. Sabem das consequências negativas para a agricultura brasileira a interrupção no fornecimento de fertilizante. Mas não estão preocupados.
Determinaram aos gestores da FAFEN-BA uma missão ingrata: selar o destino da fábrica antes mesmo da data acordada com as empresas. Muitos desses gestores querem mostrar que a FAFEN-BA pode continuar produzindo bem, mas estão impedidos por uma determinação de um grupo que está alinhado com o desmonte da Petrobras custe o que custar. Estão surpresos com a decisão de elevar os preços dos produtos abandonando a política de paridade internacional depois de 15 anos.
Esses gestores locais estão sendo obrigados a dizer amém à sede mesmo sabendo que não cumprirão o prazo de 31 de outubro. E não cumprirão por um motivo simples: nada foi feito até agora para cumprir a promessa aos clientes. O Porto não ficará pronto para receber amônia, o CO2 não será mantido à Carbonor. Não há alternativa para o fornecimento de ureia pecuária. O projeto básico de importação já foi reprovado duas vezes por uma série de deficiências no tanque de armazenagem de amônia no Porto de Aratu.
É tudo mentira. E alguns gerentes sabem que podem e querem continuar no setor de fertilizantes, mas a hierarquia não os permite sequer opinar. Sabem que a unidade tem dificuldades de partida como ocorreu há algumas semanas onde a planta, prevista para parar 7 dias a pedido da UTE-RA, ficou 12 dias sem produzir amônia e 8 dias sem produzir CO2 numa série de problemas desde falta de água na caldeira até incêndio em flange. A falta de conhecimento de alguns “TO`s” que insistem em ser gerentes a todo custo também tem trazido dificuldades à operação das plantas e sido uma dor de cabeça ao Gerente Geral.
É perigoso e lamentável que a FAFEN pare de produzir este mês. Se o fizer, não será por estoque, já ficou claro. As iniciativas da Petrobrás têm a intenção de jogar na conta das empresas clientes a responsabilidade pela continuidade de suas unidades.
Mesmo a renúncia fiscal proposta pela Bahia e Sergipe não foi capaz de seduzir os diretores da Petrobrás, nas reuniões do grupo de trabalho no Rio. A insensibilidade é tamanha e a irresponsabilidade também. É impressionante essa sanha de querer parar a FAFEN.
Nesta segunda-feira, 16, o grupo se reúne novamente com os estados e organismos de defesa das indústrias baianas e sergipanas. Que a comitiva da Petrobrás repense tudo o que está fazendo e permitindo, de toda mentira que apresenta, de tudo que inventa porque as trabalhadoras, trabalhadores e a sociedade sabem que isso é a manifestação do mal, e o mal não vencerá.
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[Via Sindipetro-BA]