A tendência mundial de alta no preço dos combustíveis não afetou o bolso dos consumidores da Rússia. Segundo a agência Bloomberg, o litro de gasolina no país da Copa custa em média R$ 2,32.
A reportagem do Brasil de Fato está na capital Moscou, onde o custo de vida costuma ser mais alto que no restante do país. Mesmo nos postos de combustível da região central, o preço da gasolina não ultrapassa os R$ 2,50. O litro do diesel custa menos de R$ 2,65.
Paralelos
A greve dos caminhoneiros no Brasil estimulou uma reflexão sobre a gestão e o controle do petróleo. Na Rússia, quem comanda a produção de petróleo e gás é a empresa pública Gazprom, fundada em 1989, que tem 50,002% de capital estatal.
A Gazprom é a maior empresa de capital aberto da Rússia. Apesar das denúncias de corrupção e falta de transparência, as receitas da companhia superaram há dois anos a casa dos US$ 100 bilhões.
No aniversário de 25 anos da Gazprom, em fevereiro, o presidente Vladimir Putin discursou diante de milhares de trabalhadores e atribuiu o sucesso da empresa ao fortalecimento do seu caráter estatal.
Trajetória
“Houve um tempo em que o Estado praticamente perdeu o controle sobre a companhia”, disse Putin, em referência ao processo de privatizações ocorrido após a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). No início da década de 1990, a população apoiou a venda de ativos das estatais e a entrada de empresas multinacionais no país.
O fracasso do modelo neoliberal, evidenciado pelos índices socioeconômicos, mudaram em poucos anos a opinião pública. Na virada do século, mais de 77% dos russos eram favoráveis a uma revisão parcial ou total das privatizações realizadas nos primeiros meses de abertura para o capitalismo.
Com respaldo popular, e de olho no aumento dos preços do petróleo no mercado internacional, o governo reverteu a onda privatizante e apostou na gestão pública dos recursos naturais. A mesma tendência se verificou na Argentina, durante o governo Néstor Kirchner, e no vizinho Azerbaijão.
O modelo russo permite concessões e partilha, como no Brasil. Ou seja, o governo pode conceder a terceiros o direito de explorar petróleo em uma área durante determinado período. Mas, como o próprio Putin insiste em dizer, é o Estado, e não as empresas privadas, quem “dita as regras do jogo”. Ao contrário do que propôs Pedro Parente, presidente da Petrobras, na Rússia o preço do combustível não é atrelado às flutuações diárias do valor de mercado internacional do petróleo.
Modais de transporte
O protesto dos caminhoneiros no Brasil também suscitou debate sobre a dependência do sistema rodoviário para o transporte de mercadorias.
Na Rússia, a categoria se mobilizou, em junho de 2017, contra o aumento de 25% no imposto referente ao Sistema de Cobrança Eletrônica de Pedágios (ETC) em rodovias administradas pelo Estado.
Houve paralisações de caminhoneiros em 80 distritos russos, mas a greve não levou a um cenário de desabastecimento como no Brasil. Cerca de 88% do transporte de cargas na Rússia utiliza o sistema ferroviário. Devido às variações climáticas, a manutenção de rodovias é considerada muito custosa, e a construção de novas pistas é inviável durante o inverno nas regiões mais frias do país.
Acompanhe a cobertura completa da Copa do Mundo e conheça mais sobre a Rússia, país-sede da edição 2018.
[Brasil de Fato |Edição: Nina Fideles]