No rastro da privatização dos campos petrolíferos em águas rasas, a gestão Pedro Parente coloca em ação também a venda dos campos terrestres. Em comunicado ao mercado na noite de segunda-feira, 28, a direção da Petrobrás anunciou o início da “etapa de divulgação das oportunidades (Teasers)”, referentes “à cessão da totalidade de seus direitos de exploração, desenvolvimento e produção em três conjuntos de campos terrestres” que equivalem a 50 concessões no Rio Grande do Norte e na Bahia.Segundo a Petrobrás, sua parcela “na produção média de petróleo e gás natural desses campos, no ano de 2016, foi de 20,4 mil barris de óleo equivalente por dia”.
O coordenador da FUP, José Maria Rangel, alerta para os impactos que a venda dos campos terrestres terá para os trabalhadores e a economia dos municípios afetados. “É falsa a afirmação de que o setor privado vai investir nessas áreas. Quem faz o investimento na área de óleo e gás é a Petrobras. Essa venda vai trazer o caos nessas cidades que dependem da receita do petróleo. É mais uma medida equivocada”, ressalta.
Há um mês, a gestão da empresa já havia anunciado a venda de 30 concessões em águas rasas em cinco estados do país, o que significará a entrega de 74 plataformas de exploração e produção de petróleo no Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe, Rio de Janeiro e São Paulo.
Na manhã desta terça-feira, 29, os petroleiros de áreas produtoras da Bahia responderam à ofensiva privatista da empresa com uma grande paralisação do campo de Miranga, no município de Pojuca, onde estão localizadas nove concessões que serão vendidas: Miranga, Fazenda Onça, Riacho São Pedro, Jacuípe, Rio Pipiri, Biriba,Miranga Norte, Apariús e Sussuarana. Segundo o Sindipetro-BA, esse é um dos polos mais lucrativos da Petrobrás no estado, com baixo custo de extração por barril, em função da sua grande atividade na exploração e produção de gás natural. Os trabalhadores aprovaram novas paralisações para barrar a privatização.
Outro polo de produção terrestre da Bahia que foi posto à venda é Buracica, no município de Alagoinhas, que tem quase 70 anos de atividade e continua dando lucro operacional, nas sete concessões: Buracica, fazenda Panelas, Fazenda Matinha, Conceição, Quererá, Fazenda santa Rosa e Lagoa Branca.
No Rio Grande do Norte, onde estão sendo ofertadas 34 concessões no Polo Riacho da Forquilha, próximio a Mossoró, a produção também tem sido lucrativa para a Petrobrás, com uma média de 8.748 barris de óleo e 332 mil metros cúbicos de gás por dia, segundo dados apurados entre janeiro e junho de 2016.
Em nota publicada em seu site, o Sindipetro-RN conclama a reação da população do estado ao desmonte da Petrobrás: “A sociedade norte-rio-grandense, com destaque para os agentes políticos, precisa reagir. A saída da Petrobrás das atividades de exploração e produção acarretará redução de investimentos no setor, diminuição da produção, queda na arrecadação de royalties e impostos, riscos à segurança e ao meio-ambiente, precarização do trabalho e mais desemprego”.
O diretor da FUP e do Sindipetro Bahia, Leonardo Urpia ressalta os efeitos que o desmonte da Petrobrás vem provocando para a economia das cidades que abrigam os polos produtores que estão sendo vendidos. “Dos 100 trabalhadores próprios lotados em Miranga (Bahia), hoje restam apenas 26 e dos 400 terceirizados, ficaram menos de 200. No último ano, dezenas de funcionários foram transferidos para outras unidades e muitos saíram através do PIDV”. Para ele o objetivo é claro, “terceirizar as atividades da operação e enxugar o quadro de funcionários para entregar os campos à iniciativa privada”, afirmou.
Ele destaca que, na ânsia de vender tudo, “a direção da empresa passou por cima da lei, terceirizando as atividades fins em Buracica e Miranga e ainda descumpriu o ACT e as normas de segurança e meio ambiente do trabalho, ao não realizar estudos prévios de efetivo e transferir os trabalhadores para outras unidades de forma indiscriminada”, denuncia, Urpia.
Para os dirigentes sindicais petroleiros, o fato da Petrobrás retomar as vendas dos campos terrestres no Nordeste deixou os trabalhadores ainda mais apreensivos, principalmente neste momento em que o governo Temer intensifica a privatização do Estado, anunciando a venda da Eletrobrás, da Casa da Moeda e de outras empresas públicas.
A FUP e seus sindicatos continuarão lutando para barrar a venda dos ativos do Sistema Petrobrás, através de mobilizações e ações políticas e jurídicas, contestando a legalidade dessas privatizações, pois atentam claramente contra os interesses do povo brasileiro.
FUP, com informações dos Sindipetros Bahia e Rio Grande do Norte