Quis a sorte que a capa do livro dos 20 anos do Sindipetro-NF, lançado em mesa do 13° Congrenf (Congresso Regional dos Petroleiras e Petroleiras do Norte Fluminense), tivesse em primeiro plano, em imagem de uma assembleia com centenas de participantes, o diretor Valter de Oliveira. Pois foi ele, que daqui a alguns dias se despede do mandato sindical após ter participado do movimento de fundação da entidade, quem recebeu a missão de contar na noite de hoje boa parte da história da categoria na Bacia de Campos.
Valter participou, junto ao também diretor do Sindipetro-NF, Marcelo Nunes, da mesa que reuniu ainda as responsáveis mais próximas pela produção do livro “20 anos do Sindipetro-NF – Uma história de lutas”, Luisa Santiago (edição e organização), Fernanda Viseu (supervisão), Beatriz Passarelli e Juliane Furno (ambas responsáveis por pesquisa e texto).
As memórias do sindicalista, que começou a trabalhar na Petrobrás em 1982, e se aposentou “após 34 anos e 10 meses de empresa”, emocionaram os delegados e delegadas do Congrenf e serviram para ilustrar as inúmeras lutas e conquistas destas duas décadas. Ele contou, por exemplo, que atuava em uma plataforma que não tinha telefone, a TV era apenas uma em área coletiva, e só pegava – quando pegava – sinal aberto de TVs locais, com um bombril na antena, e que a comunicação era feita por meio do rádio operado pela Base 60. E mais: “não tinha boletim sindical, mas mesmo assim a gente fazia a luta”.
E foi de luta em luta que a sua geração fundou o Sindipetro-NF, sindicato do qual, anos depois, viria a ser diretor, e conquistou avanços como a participação nas investigações de acidentes e melhorias na segurança de voo, destaques feitos por ele, que durante os anos na diretoria participou de inúmeras apurações de acidentes com mortos e feridos.
Para Valter, o livro produzido pelo sindicato, em parceria com o NPC (Núcleo Piratininga de Comunicação), tem “uma característica histórica e cultural, um legado que a gente deixa para os novos trabalhadores”.
Força da comunicação sindical
A editora Luisa Santiago, do NPC, também destacou o caráter de formação do livro. “É um material de formação, um livro que ensina, não só sobre a luta da categoria, mas a própria história do País”, disse.
Ela se disse agradecida pela oportunidade de conhecer, por meio desse trabalho, a história do Sindipetro-NF. “A gente trabalha há mais de 20 anos, quando o Vito Gianotti [fundador do Núcleo Piratininga] começou para fortalecer a comunicação e a luta dos trabalhadores. E é isso que vocês estão fazendo”, referindo-se à atuação dos petroleiros e petroleiras.
Luisa lembrou ainda a importância dos materiais produzidos pelo Departamento de Comunicação do Sindipetro-NF ao longo destes 20 anos, que foram fontes diretas da pesquisa para o livro, entre eles o boletim Nascente e a revista Imagem (atualmente Imagens). Na obra, a grande maioria das 244 páginas são ilustradas, contém trechos ou fazem referência a conteúdos destas duas publicações do sindicato.
Uma história de todos
Outra das responsáveis pela produção do livro, Juliane Furno explicou a organização da obra, uma tentativa de organizar uma história com milhares de acontecimentos e protagonistas: “É uma história construída pelo engajamento de vocês. Embora alguns não se enxerguem aqui, essa é uma história coletiva, é uma história da classe trabalhadora”.
O livro é dividido em quatro partes: uma primeira que descreve o cenário político, econômico e sindical do País antes da criação do Sindipetro-NF; outra que registra o ambiente da própria criação da entidade, fundada em 1996; uma terceira que aborda o período de 2003 a 2016; e a última que descreve as principais batalhas do sindicato, tanto em relação às bandeiras específicas da categoria, quanto em relação às lutas amplas da classe trabalhadora no campo e na cidade – com ênfase na relação histórica do NF com o MST.
Jornalista do Sindipetro-NF, Fernanda Viseu contou parte do percurso de estruturação da comunicação do sindicato ao longo destas duas décadas. Ela, que também tem 20 anos de NF, lembrou momentos especiais da batalhada informação na atuação da entidade, como no caso da tragédia da P-36 e na greve de cinco dias em 2001. Ela destacou a importância do investimento na preservação da memória da luta dos trabalhadores, causando muita emoção nos delegados e delegadas ao afirmar que “o livro não é de um diretor, não é de um funcionário, não é das meninas que o fizeram [referindo-se às pesquisadoras], é de todos vocês”.
Saúde, segurança e luta pela terra
Outro aspecto do livro foi observado por Beatriz Passarelli. É o que diz respeito à grande presença dos temas ligados à saúde e segurança na trajetória do sindicato, e consequentemente nas páginas da obra. “Ao longo do livro percebemos que essa é uma bandeira muito séria”, disse, lendo como exemplo, em seguida, trecho de editorial do boletim Nascente, reproduzido no livro, que fala em “jamais esquecer” os acidentes para que eles não se repitam.
O moderador da mesa, Marcelo Nunes, que ao longo das intervenções fez várias observações sobre o papel de diretores, funcionários e pesquisadores na produção da obra, foi também quem observou com sensibilidade a presença de Valter na capa do livro, assim como a necessidade de que, quebrando o protocolo, o primeiro coordenador do Sindipetro-NF, Luiz Carlos Mendonça, mais conhecido como Meio Quilo, fosse chamado ao palco do Teatro do NF para também contar parte dessa história.
Prometendo não chorar, o que cumpriu apenas parcialmente, Meio quilo começou por lembrar de 1997, quando “Chiquinho Lan me chamou para conversar. Era sobre uma ocupação em Campos, onde hoje há um assentamento com 500 famílias”. Para o sindicalista, reconhecido por sua atuação enérgica e relacionado a diversos movimentos sociais, “fazer uma ocupação é como parar uma plataforma, são lutas que se tocam”.
Em um gesto de reconhecimento por sua trajetória, Meio Quilo recebeu das mãos de Paulo Sérgio Aguiar Bastos, o funcionário mais antigo em atividade no Sindipetro-NF, um exemplar do livro. Era a história feita pelo próprio Mendonça, Valter de Oliveira, e milhares de outros protagonistas, retornando em forma de narrativa. Tudo para que continue a ser construída.
Via Sindipetro-NF