Provas mostram que Lava Jato de Curitiba nunca deixou investigar Temer e Aécio

Segundo o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos coordenadores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, a investigação legitima o seu trabalho e é uma demonstração de que não são seletivos. “Enquanto diziam que éramos contra um partido ou outro, a Procuradoria da República se manteve firme na sua tarefa de revelar a corrupção político-partidária sistêmica”, escreveu Lima em sua página no Facebook.

Para Gilberto Bercovici, advogado e professor titular da Faculdade de Direito da USP, a declaração dos procuradores é uma falácia. “Eles nunca deixaram investigar o Aécio. O Eduardo Cunha fez as perguntas para Michel Temer e Moro [juiz responsável pela Lava Jato em primeira instância] recusou as perguntas. Moro vive se encontrando com Aécio e Temer nesses eventos do Dória [João Dória, prefeito de São Paulo pelo PSDB]. O cara da mala do Temer está com Dória em Nova York. Está tudo relacionado”, afirmou.

“É claro que é seletivo”, reforça o jurista. “E não foi surpresa que não foram eles que revelaram”, disse Bercovici, afirmando que “agora os procuradores estão querendo faturar em cima”, assim como a grande mídia, que buscam legitimar a Lava Jato. “Até porque se houver alguma arbitrariedade vão dizer que é uma operação contra todo mundo”, destacou.

Para o professor da USP, diferentemente de outras delações, as revelações trouxeram provas que sustentam a denúncia. Ele citou as investigações que envolvem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que há mais de dois anos “enfrenta uma verdadeira devassa”.

“Os jornais todos os dias divulgam uma coisa nova. Lula roubou o carrinho de pipoca, Lula matou a velhinha, mas até agora não acharam nenhum elemento comprobatório que diga que ele tem envolvimento ou recebido dinheiro de algum ato de corrupção. Já contra Aécio, na primeira operação surge uma prova de que ele pediu dinheiro”, destaca Bercovici.

Provas contra Temer

Sobre as provas apresentadas contra Michel Temer, flagrado em gravação em que teria endossado a compra do silêncio de seu principal aliado no golpe, o deputado cassado e preso Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Bercovici afirma que, indiscutivelmente, é uma prova válida.

“A gravação é valida, pois foi feita numa investigação da Polícia Federal, com autorização judicial. Não foi como a feita pelo Moro, que não tinha autorização do Supremo de investigar a presidenta da República”, explicou.

Segundo ele, a conduta de Temer seria, no mínimo, de prevaricação, porque ele estava sabendo de uma atitude criminosa e não fez nada para impedir, pelo contrário, incentivou. “Mas o mais importante não é a tipificação do crime, mas o escândalo em que temos o presidente da República envolvido num esquema de corrupção que foi gravado. Ele foi pego em flagrante”, enfatiza.

Gravação de Jucá

Questionado sobre a gravação divulgada nesta quarta e o que foi divulgado no ano passado, em que o senador Romero Jucá (PMDB-RR) demonstrava a articulação para derrubar o governo da presidenta Dilma Rousseff e colocar Temer no poder, Bercovici afirmou: “O que a gravação do Jucá ficou a dever foi a entrega [o pagamento], o que na gravação de agora ficou evidente”.

Joesley Batista, que é dono da JBS, a maior produtora de carnes do mundo, gravou a conversa com Temer na qual o empresário contou que estava pagando mesadas a Cunha e Funaro para que eles não o delatassem, segundo O Globo. Nessa hora, o presidente aprovou os pagamentos, e disse: “Tem que manter isso, viu?”. A reunião, segundo Joesley, aconteceu no dia 7 de março deste ano.

Mídia

O jurista também falou sobre o comportamento da grande mídia. Ele afirma que a Rede Globo, uma das principais apoiadoras do golpe, “foi obrigada a divulgar, mas outros veículos ainda tentam abafar defendendo uma tese de acordo nacional, de que os fatos ainda precisam ser investigados”.

Sobre a afirmação de que é preciso manter o governo como forma de garantir a estabilidade política e preservar as instituições, Bercovici indaga: “Que estabilidade? Eles destruíram a estabilidade do país no ano passado. O regime político que temos hoje é uma farsa com um governo ilegítimo”, disse ele, destacando que o governo perdeu a sua sustentação.

Para o professor da USP, Temer não vai renunciar. “Só vai renunciar de tiver manifestação popular na porta do Palácio”, disse. E completa: “Acredito que Temer não vai renunciar porque pode ser preso. Ele não é uma pessoa que está ligando para o país. Liga para o bolso dele, como está provado na gravação. O gesto mais correto seria renunciar, pois resolveria a crise mais rápido”.

O jurista acredita que a saída que Temer vai trilhar é a do Tribunal do Superior Tribunal Eleitoral (TSE). “O que pode acontecer no TSE é que na tese de dividir chapa, uma manobra de quinta, para cassar e tentar se ver livre dele. Seria um caminho para tentar botar ele para fora o mais rápido e ainda culpar a Dilma, como sempre”.

Via Portal Vermelho