Ontem, 10/04/2017, a agência de risco Moody’s elevou a nota de crédito da Petrobrás. O fato foi bastante comemorado pela gestão da empresa e pelo governo golpista de Michel Temer.
Desde 2015, como consequência da operação Lava-Jato, as agências de risco, entre elas a Moody’s, têm rebaixado sistematicamente o rating da estatal. O curioso é que nesse período, a petrolífera brasileira tem apresentado bons resultados operacionais, que só não significaram lucros para a sociedade brasileira por conta dos recorrentes impairments realizados desde 2015.
A Petrobrás sempre se manteve como uma empresa que agrega valor a partir da sua atividade operacional, apesar de vir sendo gerida nos últimos dois anos com foco na redução do seu endividamento e, principalmente, na venda de ativos. Com a gestão Pedro Parente, eliminou-se qualquer seletividade dos processos de desinvestimento, iniciando uma política do tipo “quanto mais vender, melhor”. A partir daí, as agências de risco começaram a elevar as notas de crédito da Petrobrás.
Logo após o golpe, com a entrada do novo presidente da empresa, a Moody’s já havia elevado o rating da companhia de B3 para B2. Ontem, menos de dez meses depois, a mesma agência subiu novamente a nota para o nível B1. A justificativa foi uma melhora no perfil de liquidez e na eficiência de custos. Será que um período de apenas dez meses é razoável para se avaliar a gestão financeira de uma corporação? Na gestão Bendine, as agências tinham uma preocupação maior com o desempenho da Petrobrás. Por que agora o tratamento é diferenciado?
Em recente artigo publicado na revista Carta Capital, o economista e professor Luiz Gonzaga Belluzzo ajuda a esclarecer essas questões. Ele lembra que uma semana antes da quebra do Lehman Brothers, a Moody’s classificava o banco americano como A. E, logo depois da crise, rebaixou para o “lixo” cerca de 73% das instituições antes classificadas como AAA – a nota mais alta. Não por acaso, lembra ele, “as trapalhadas e malfeitorias [das agências] estão registradas no relatório do Congresso americano sobre a crise de 2008 e nas transcrições dos debates que levaram à promulgação da Lei Dodd-Frank”. Ou seja, o próprio governo americano reconheceu a incompetência das agências, criando uma nova lei que fortaleceu a regulação do sistema bancário ao submeter os bancos anualmente a testes que medem sua resistência a crises financeiras.
A avaliação atual da Petrobrás segue o mesmo roteiro do que aconteceu na crise de 2008. Ao seguir os interesses das agências de risco, a estatal de petróleo tem como “prêmio” a elevação de seu rating. E esse processo é ainda mais acelerado quando ocorre no escopo de um governo de direita, cujo projeto para o setor petróleo é cada vez mais privatizante. Pouco importa os resultados operacionais, a dimensão global adquirida pela Petrobrás ou a capacidade de expansão adquirida pelo Pré-Sal. O que as agências levam em consideração é apenas a gestão do “quanto mais vender, melhor” realizada pelos parceiros do mercado. O mesmo mercado que quebrou o mundo em 2008 e agora tenta quebrar a indústria brasileira em 2017.
Federação Única dos Petroleiros