Por Fernando Brito, do Tijolaço
Interrompida por descumprimento dos ritos legais para alienação de patrimônio, a venda dos campos de Baúna e Golfinho, na Bacia de Santos, e de 50% do campo de Tartaruga Verde, na Bacia de Campos, a uma petroleira australiana – a Karoon Gas Australia Limited – contém uma fraude, que a direção da estatal brasileira ignorou, embora formalmente avisada.
O site do jornal Toda Palavra, do jornalista Luís Augusto Erthal, revela hoje, com farta documentação original, que a garantia para o negócio – que tem valor superior ao triplo do capital da Karoon, uma companhia de responsabilidade limitada – era um acordo entre esta e a maior petroleira da Austrália, a Woodside Energy, que comunicou formal e repetidamente que não participaria do negócio.
Com capital social de US$ 450 milhões, a Karoon não poderia bancar sozinha um negócio de US$ 1,6 bilhões. Precisaria do endosso de outra companhia financeiramente mais robusta e, para isso, teria se associado à Woodside Energy, maior petroleira australiana, na aquisição dos campos brasileiros, conforme comunicou à Petrobrás em proposta oficial (leia o documento original em inglês e a tradução juramentada em português) apresentada no dia 26 de setembro. No entanto, a Woodside contestou os termos da proposta da Karoon e exigiu que esta comunicasse oficialmente à Petrobras que estaria sozinha no negócio. Isso foi feito em carta enviada pela Karoon à empresa brasileira no dia 7 de outubro, um dia depois de a Petrobrás anunciar formalmente a venda dos campos petrolíferos à companhia australiana.
Representantes da Woodside também comunicaram diretamente à Petrobras, em teleconferência realizada em 22 de novembro, que não poderiam apoiar a oferta da Karoon. E, como se não bastasse, para evitar qualquer possibilidade de mal entendido, a Woodside enviou carta à Petrobras (leia o documento original em inglês e a tradução juramentada em português) no dia 15 de fevereiro, reafirmando que nunca esteve associada à Karoon. Mesmo assim, a Petrobras insistia na realização do negócio, omitindo de seus acionistas e do mercado a informação de que a pretendente não tinha condições financeiras de assumir a compra dos campos petrolíferos.
O Ministério Público, que demonstra tanto interesse nos negócios da Petrobras, está desafiado a investigar este.