Pelo menos 150 mil mulheres do campo e da cidade foram às ruas nesta quarta (8) em cidades de todo Brasil, de acordo com levantamento do Brasil de Fato, com base nos dados fornecidos pelas organizações participantes. Ocupações, atos, debates e outras atividades de enfrentamento discutiram pautas como a reforma da Previdência, o direito ao aborto e a luta contra o feminicídio.
A Jornada de Lutas começou ainda na terça (7), quando mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizaram uma ação de denúncia na unidade da Vale Fertilizantes, em Cubatão (SP). Com pichações e palavras de ordem, elas deixaram claro que se existe um “rombo” na Previdência, ele está relacionado ao calote de grandes companhias como a Vale, que, sozinha, deve R$ 27 milhões.
Em Cascavel (PR), cerca de 300 camponesas do Oeste do Paraná participaram, também na terça, de mesas de debates e protestos contra a reforma da Previdência. Elas prestam solidariedade a Fabiana Braga, militante do MST de 22 anos que foi presa em novembro do ano passado, durante a operação Castra, da Polícia Civil.
Entre as mulheres urbanas, os maiores atos aconteceram em São Paulo (SP) e no Rio de Janeiro (RJ). Na capital paulista, estima-se que mais de 30 mil mulheres ocuparam as ruas do centro, após manifestações chamadas por diferentes grupos políticos, em dois pontos de concentração: um no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, e outro na Praça da Sé.
As duas multidões femininas se acumularam entre 16h e 18h. Na Praça da Sé, a pauta principal era a luta contra a reforma da Previdência, que prejudicará mais as mulheres do que os homens.
Na Avenida Paulista, cartazes e bandeiras bradavam pelo direito ao aborto e contra o feminicídio, e professoras da rede municipal e estadual, organizadas pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), também protestavam contra as reformas da Previdência, trabalhista e do Ensino Médio.
Sem conflitos ou disputas de pautas, as duas marchas seguiram paralelamente e se encontraram em frente à prefeitura, no início da Brigadeiro Luís Antonio, onde ambas foram encerradas.
No Rio, o ato unificado também começou às 16h e reuniu mais de 20 mil pessoas no centro da cidade. A concentração foi realizada na Candelária, palco histórico de luta social, e terminou em frente à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), com a leitura de um manifesto em defesa dos direitos das mulheres.
Estavam presentes seis centrais sindicais, entre elas a CUT, CTB, Nova Central Sindical, Força Sindical, UGT, CSB, Intersindical e CSP-Conlutas, e mais de 60 organizações feministas, como a Marcha Mundial da Mulheres, a Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), Unegro, Nem Uma a Menos, entre outras.
“Esse é um ato unificado contra a violência, por isso temos como lema ‘Nem uma a menos’, somos contra a reforma da Previdência e a reforma trabalhista. Também estamos fazendo um chamado para a Greve Internacional de Mulheres. No Brasil, a gente vê a reforma da Previdência como um retrocesso, que tira direitos dos trabalhadores, mas ataca principalmente às mulheres”, afirma Míriam Starosky, da Marcha Mundial das Mulheres.
A atriz e fabricante de pão artesanal, Karla Belfort também foi no ato manifestar-se. Ela não pertence a nenhuma organização, mas justamente por já ter sofrido violência doméstica quis dar sua contribuição nesse Dia das Mulheres. “Reunimos as amigas para vir a essa manifestação hoje, algumas passaram por violência doméstica e eu sou uma delas. E como mulher negra, provedora da minha família tenho a obrigação de denunciar o crescimento desumano da violência cometida por supostos companheiros. A gente resolveu se unir hoje para lutar contra os homens machistas”, afirma Belfort.
Em Brasília (DF), a Esplanada dos Ministérios foi ocupada por mais de 10 mil pessoas, entre elas mulheres parlamentares, servidoras públicas e militantes de diversos segmentos na luta pela igualdade de gênero. Entre as pautas, estavam o combate à lesbofobia, a legalização do aborto, a democratização da comunicação, o acesso aos espaços de poder e, em especial, o combate à reforma da Previdência.
Ocupações
Com atos contra a reforma da Previdência proposta pelo governo de Michel Temer, a principal ação das mulheres do MST foram as ocupações e protestos em frente a prédios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Os protestos mobilizaram 40 mil mulheres em 22 estados e no Distrito Federal, segundo o MST. No total, pelo menos 35 cidades tiveram as sedes do INSS ocupadas ou alvo de protestos.
A Jornada de Lutas também contou com a ocupação da fazenda Santa Terezinha, em Itatuaiuçu (MG), de propriedade do empresário Eike Batista, preso desde o final de janeiro no Complexo Penitenciário de Bangu, na Zona Oeste do Rio. Na virada de terça para quarta (8), cerca de 200 mulheres entraram no terreno do milionário.
“Assim como as empresas sonegam ou são isentas do INSS, apenas se elas pagassem o que devem, já não teria ‘rombo’ na Previdência. Essa área está relacionada a quem são os verdadeiros devedores e corruptos, mas quem paga a conta da crise são trabalhadores com a retirada de direitos”, argumenta Esther Hoffmann, da direção do MST.
Mães da USP
Com o mote principal na luta pelas creches da universidade, trabalhadoras da Universidade de São Paulo (USP) realizaram uma manifestação no campus principal da instituição, localizado no Butantã. Desde janeiro, uma das creches da USP está ocupada por funcionárias, mães e crianças contra a ordem de fechamento da unidade pelo reitor Marco Antonio Zago.
Elas também pautaram o fim da violência sexual e de gênero na USP, o fim do assédio moral e da impunidade de alunos acusados de estuprarem outras estudantes, e a efetivação imediata das trabalhadoras e trabalhadores terceirizados.
A essas questões, as mulheres uniram falas em repúdio à violenta repressão da Polícia Militar, na terça-feira (7), contra estudantes e trabalhadores, que realizavam um ato pacífico na frente da Reitoria da Universidade. O protesto ocorreu contra a votação, no Conselho Universitário da USP, da proposta intitulada “Parâmetros de Sustentabilidade da Universidade de São Paulo”, que proíbe o reajuste de salários, a contratação de novos funcionários e permite a exoneração de funcionários concursados.
Não foram apenas temas particulares que marcaram presença na manifestação. As trabalhadoras da USP também enfatizaram a relevância da luta contra a reforma da Previdência e a reforma trabalhista, temas centrais da luta das mulheres neste 8 de março no Brasil. Gritos de “Fora Temer” foram acompanhados de “Fora, Zago” — atual reitor da universidade.
VIA Brasil de Fato
Edição: Camila Rodrigues da Silva