A geopolítica do petróleo e a importância da Petrobras e do Pré-Sal no mercado mundial de óleo e gás foram temas centrais na palestra realizada ontem à noite (20/07) pelo ex-presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, no Clube de Engenharia. A exposição do ex-dirigente da estatal lotou o auditório da entidade, reunindo na mesa de debate o senador Lindbergh Farias; o 1º vice-presidente do Clube de Engenharia, Sebastião Soares; o ex-presidente Raymundo de Oliveira; e o chefe da Divisão Técnica de Energia, Mariano Moreira.
Economista e professor aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Gabrielli esteve à frente da estatal durante sete anos, de 2005 a 2011, período em que a empresa aumentou a sua produção de petróleo em 33% e os investimentos em 285%: subiram de R$ 18 bilhões para R$ 73 bilhões. Foi também na gestão de Gabrielli que a Petrobras buscou redefinir o seu papel na economia, tendo como estratégia se tornar uma gigante mundial de energia.
Em sua exposição, Gabrielli procurou abordar apenas os aspectos técnicos do mercado mundial de petróleo e a trajetória da Petrobras nesse contexto, mas não se furtou a comentar os assuntos políticos que envolvem a estatal. Assinalou, por exemplo, que a solução da crise vivida hoje pela empresa é política e, portanto, passa por uma decisão do responsável e controlador da empresa, o governo federal.
No entanto, na avaliação do economista, a perspectiva futura da estatal é de desintegração, com o desmonte da cadeia de fornecedores, desemprego crescente, falências e paralisação dos investimentos. “A perspectiva futura da Petrobras é só o Pré-Sal, com a saída dos campos petrolíferos em terra, a venda de alguns campos da Bacia de Campos e da BR Distribuidora”.
Desmonte dos fornecedores
José Sérgio Gabrielli salientou que a Operação Lava Jato foi particularmente cruel no desmonte da cadeia de fornecedores da Petrobras, que antes disputavam em pé de igualdade o mercado internacional e hoje estão quebrados. “A Lava Jato provocou a destruição da engenharia brasileira”, disse o economista, para quem a estatal ainda tem fôlego o bastante para sair da crise financeira em que se encontra. Ele aponta que 55% da dívida da empresa vencem até 2021 e o restante depois dessa data, o que torna possível a Petrobras quitar com sobra os seus compromissos.
Pelas contas do seu ex-presidente, a Petrobras precisa pagar nos próximos dois anos R$ 196,3 bilhões de juros e amortizações da dívida, mas as projeções de crescimento indicam que ela tem condições estruturais de faturar algo em torno de R$ 848 bilhões até 2021.
O balanço da conjuntura internacional feita pelo ex-presidente da Petrobras mostra um aumento crescente da demanda por petróleo nos países da Ásia e mesmo nos Estados Unidos e da importância do Brasil nesse mercado. Gabrielli está convicto de que o país é quem mais vai contribuir adicionalmente com a oferta de mais 300 mil barris de óleo em 2017. Já o preço do produto no mercado internacional deve subir de U$ 50 para U$ 60. Ele frisou, no entanto, que “o corte atual nos investimentos da empresa vai reduzir a sua produção futura”.
Em sua intervenção, o senador Lindbergh Farias lembrou que nos primeiros 15 dias de agosto será votado o Projeto de Lei 4567/16, de autoria do senador licenciado, e atual ministro das Relações Exteriores, José Serra, que retira da Petrobras o direito de ser a operadora única do Pré-Sal. Depois de também criticar as mudanças que estão sendo discutidas nas leis trabalhistas, o senador desabafou: “Eles querem colocar o negociado na frente do legislado, acabando com o legado não só dos governos Lula, mas também de todos os anteriores, desde Getúlio Vargas”, afirmou.
Pré-Sal imbatível
Para Gabrielli, o Pré-Sal é um mercado atraente para as empresas estrangeiras, particularmente as norte-americanas. “O Pré-Sal é imbatível tanto no volume de recursos identificáveis quanto no baixo custo de exploração e consequente produtividade”, disse.
Para se ter uma ideia da produtividade do Pré-Sal “falam alto” os números registrados nas planilhas apresentadas por Gabrielli: em terra e águas rasas, a Petrobras perfurou por 36 anos 5.748 poços para extrair 110 barris em cada um deles. Em águas profundas levou 23 anos para extrair 1600 barris em cada um dos 392 poços perfurados. No Pré-Sal, em 9 anos, já extrai 26 mil barris por dia em cada um dos 25 poços perfurados.
Os Estados Unidos, que hoje importam apenas 7% do petróleo que consomem, estimam para 2020 o declínio de sua produção, de acordo com dados da própria agência de energia daquele país. “O Brasil é estratégico pós 2020 por ter a produção disponível. Essa é a motivação estrutural do mercado para acelerar a exploração do Pré-Sal”, afirmou Gabrielli, acrescentando que uma produção em menor escala do óleo e gás daria fôlego à Petrobras para enfrentar o problema financeiro que está vivenciando e voltar a investir. “As importações de petróleo em valor muito acima do preço de venda no mercado brasileiro tiveram um impacto muito grande no caixa da Petrobras”.
O encontro foi aberto pelo 1º vice-presidente do Clube de Engenharia, Sebastião Soares, para quem Gabrielli é um dos artífices da Petrobras, um vetor decisivo do projeto de soberania defendido há muitos anos pelo Clube de Engenharia. “Gabrielli tem papel importante na história da Petrobras, empresa que acumula vitórias e sucessos assegurados pelos seus colaboradores, apoiadores e pelo povo brasileiro”, afirmou Soares.
A organização do evento coube à diretoria de Atividades Técnicas (DAT) e à divisão técnica especializada de Energia (DEN).
Para ter acesso ao Power Point apresentado, clique aqui.
Fonte: Portal Clube de Engenharia, fotos Fernando Alvim