[Foto: Marinha do Brasil]
Polícia Federal indiciou funcionários da BW, terceirizada da Petrobras, após realizar perícia sobre acidente
Após investigar as causas do acidente no navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus, que deixou nove mortos, a Polícia Federal decidiu indiciar funcionários da BW Offshore, terceirizada da Petrobras, por homicídio culposo e lesão corporal grave. Os crimes, juntos, podem render até quatro anos de prisão aos acusados.
Segundo a PF, a partir de diligências e exames periciais, foi possível verificar a prática criminosa. A explosão, que aconteceu no mar, na região de Aracruz, no dia 11 de fevereiro deste ano, é considerada a pior tragédia na história do Espírito Santo no setor de petróleo e gás e o mais grave do país nos últimos 14 anos.
Em relatório interno distribuído pela Petrobras a funcionários, a companhia afirmava que uma sucessão de erros provocou a explosão na casa de bombas da embarcação, conforme divulgado com exclusividade por A GAZETA no dia 11 de junho.
A polícia realiza nesta quarta-feira, às 10h30, uma entrevista coletiva para detalhar as apurações e esclarecer quem são os acusados e como vão responder pelo crime.
O navio Cidade de São Mateus pertence à norueguesa BW, mas era afretado pela Petrobras para a produção de óleo e gás nos campos de Camarupim e Camarupim Norte. A plataforma está posicionada a cerca de 40 quilômetros da costa, na altura de Aracruz, e não há informação sobre quando será enviada para um estaleiro.
Sucessão de erros levou ao acidente
De acordo com o relatório interno, enviado a funcionários da Petrobras, a instalação de uma peça fora dos padrões necessários para o sistema, a falta de planejamento e de análise de riscos durante a troca de linhas que faziam a transferência de fluidos de um tanque para o outro, o envio de equipes para a casa de bombas mesmo com o alarme acionado e a ausência de simulações anteriores que preparassem os profissionais para esse tipo de situação de risco comprometeram a realização de procedimentos usuais no FPSO.
Dos nove trabalhadores mortos, três corpos foram encontrados no mesmo dia em que ocorreu a explosão. Outros dois foram achados no dia seguinte, 12 de fevereiro. A sexta vítima só foi localizada cinco dias depois, no dia 17. Já o corpo da sétima vítima foi encontrado no dia 26. A oitava vítima foi localizada no dia 28 e a nona no dia 2 de março, 19 dias após a explosão. Segundo a ANP, 74 pessoas estavam embarcadas, 26 ficaram feridas.
Laudo pericial feito pela Comissão de Investigação de Acidente – formada por membros da Petrobras e da norueguesa BW Offshore – mostra que o vazamento de gás começou após uma mudança no alinhamento para a transferência de fluidos e condensado de um tanque para o outro. O contato desse gás com uma lâmpada teria sido o estopim da explosão.
A luminária localizada em cima do flange foi a provável fonte de ignição do acidente, segundo a estatal. Outros fatores chegaram a ser investigados como motivadores, entre eles uso de ferramentas e movimentos dos profissionais.
O relatório revela ainda que um minuto antes do estrondo funcionários que não estavam envolvidos nos procedimentos de segurança foram liberados para o almoço. O documento levou em consideração as informações de entrevistas com 50 pessoas, avaliação das 13 câmeras da embarcação, análise de materiais e gravação dos procedimentos.
Outro lado
Petrobras e BW foram procuradas, mas até o momento não apresentaram posicionamento das empresas sobre o indiciamento
Cronologia da tragédia
11h00
– Houve mudança no plano operacional durante o novo alinhamento para transferência dos fluídos de um tanque para o outro
11h23
– A válvula OP-084 é fechada de maneira imprópria antes da abertura da válvula OP -080, ainda com a bomba operando. Resultando no aumento de pressão
11h25
– Início de vazamento de condensado
11h26
– Início de mobilização da equipe para conter o vazamento de gás.
– O alarme de gás nível mais baixo é ligado
11h27
– Técnicos da sala de comando pararam a bomba e abriram a válvula OP-84
– Segundo alarme de gás nível mais baixo é tocado
11h30
– Equipe ligada a casa de bombas é avisada sobre vazamento
11h31
– Válvulas são fechadas e bomba são paradas
– Terceiro alarme de gás nível mais baixo é tocado
11h40
– Vazamento aumenta com gotejamento do fluído/condensado
11h46
– Três pessoas entram pela primeira vez na casa de bombas para investigar a fonte do vazamento
11h55
– Equipes são avisadas que vazamento é pelo flange da válvula e que há uma poça de condensado
11h53
– Alarme continua em nível mais baixo
12h02
– Envio de outra equipe para coletar mais detalhes sobre o vazamento
12h07
– Sala de comando é informada que vazamento é pelo flange próximo à válvula e a equipe na casa de bombas reforça que há pequena poça abaixo do equipamento
– Não houve comunicação sobre vazamento de gás
12h14
– Entrada de outra equipe a casa de bombas para limpeza e aperto dos parafusos dos flange
– Cinco pessoas vão ao local com mantas absorvedoras, escadas, chaves de boca, marreta de borracha. Alguns usavam roupas anti-chamas
– Alarme continua em nível mais baixo
12h32
– Tripulação, que não atuava no plano de segurança, é liberada para almoço
12h33
– Explosão na casa de bombas e onda de pressão na praça de máquinas
Fonte: Gazeta On Line