Alex Sandra Maranho, integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), está em Mariana para apoiar as vítimas do rompimento da barragem em Bento Rodrigues. Em entrevista ao Brasil de Fato MG, a militante dá mais detalhes sobre a situação alarmante vivenciada pelos moradores do distrito e acusa a Samarco e Vale de omissão de informações, além de responsabilizá-las pela tragédia. Leia a íntegra da entrevista que a militante do MAB concedeu à jornalista Rafaella Dotta, do jornal Brasil de Fato.
Muitos falam em abalo sísmico, como se fosse esse o motivo do rompimento da barragem. Qual a posição do MAB em relação à informação?
Nós ouvimos isso na imprensa. Não acreditamos nessa hipótese. Para o movimento, essa é uma forma de a empresa não se responsabilizar pelo que está acontecendo. A gente sabe que esse abalo que existi foi muito fraco, de 2 a 2.6 e que tremores dessa intensidade são normais em barragens. Eles não podem ser responsáveis por essa tragédia.
Então, qual a melhor hipótese?
A barragem estava sendo aumentada cada vez mais. Já havia um muro, uma extensão de altura, e estavam construindo mais uma. Então, ela se tornou maior do que poderia ter suportado. E existe também a questão que os dejetos que estavam dentro da barragem são líquidos e poderiam causar infiltrações na edificação.
Quais eram os resíduos que ficavam na barragem?
Resíduos provenientes do processo de mineração. Quando se processa a mineração, ela passa pela água para separar algumas substâncias. Essa água se armazena na barragem.
São tóxicos?
Conversamos com a equipe médica no primeiro dia que chegamos, quando as pessoas ainda estavam procurando ajuda em alojamentos. As vítimas apresentavam muito enjoo, além de confusão mental. O cheiro do local onde ocorreu a tragédia era muito forte, de produtos químicos. Quem passou por lá saiu com ardência nos olhos e garganta.
Qual a opinião do MAB sobre a postura que a Samarco está tendo em relação ao atendimento às famílias atingidas e responsabilidade da empresa?
Tanto a Vale quanto a Samarco estão encobrindo informações. Pelos dados oficiais, são 25 desaparecidos, mas existem boatos de que vários corpos já foram encontrados e isso não está sendo divulgado. As empresas estão, de alguma forma, pressionando para que esse número não seja revelado. Acreditamos que os mortos já foram retirados e não foram publicados.
Alex Sandra Maranho, do MAB | Foto: Reprodução |
Como a Vale trata as pessoas atingidas por barragens?
Sabemos que quando existe uma empresa mineradora em um local, a economia gira em torno da mineração, e existe uma certa dependência dos podres locais com as empresas. Só que essas empresas têm um único objetivo, elas não querem desenvolver a cidade, apenas explorar e ter lucro. Não estão preocupadas com a população. O povoado de Bento Rodrigues poderia ter sido um modelo, com estrutura e trabalho para as pessoas e não era. As famílias, inclusive, tinham medo de ficar no local. Tentavam contato com a empresa e ela se negava a discutir o perigo e qualquer possibilidade de negociação. A Vale e a BHP Billiton PLC são responsáveis pela tragédia.
Quem são os atingidos pela barragem?
São pessoas pobres, que se tivessem acesso a uma maior renda, não estariam morando nesses lugares perigosos. São extremamente carentes e, nesse momento, se encontram perdidas por não saber o que vai ser do futuro delas.
Qual o tratamento utilizado pelas empresas após o rompimento das barragens (sejam hidrelétricas ou de resíduos)? Os direitos das famílias são garantidos?
Normalmente, pela história e experiência do movimento, sabemos que a primeira coisa que a empresa faz é procurar negociar individualmente com as famílias. Pressionar para que as pessoas aceitem uma pequena indenização. Elas não vão a fundo para entender o que essas pessoas perderam e tentam ter o menor custo econômico possível na hora de repor esses direitos.
Para evitar isso, o que é importante que a comunidade de Bento Rodrigues faça nesse momento?
A comunidade deve se manter organizada, atenta, e cobrar para que a negociação seja sempre coletiva, até mesmo se tratando de individualidades. É nisso que o MAB tem condições de intervir, mediar com o poder público, Estado, Justiça. Qual a opinião que o MAB tem, acumulada, sobre a Vale? A Vale e a BHP Billiton PLC são duas grandes mineradoras e são elas as responsáveis pela barragem que estourou. A Vale é a segunda maior empresa de mineração do mundo e, em 2012, foi eleita também a pior empresa do mundo em tratamento dos trabalhadores, questão social e ambiental. Esses são dados oficiais que já trazem muitos elementos. É uma empresa que foi privatizada e não está preocupada com as pessoas, com os seres humanos. Quer apenas gerar mais lucro e levar a riqueza do Brasil para fora.
Como está sendo a atuação do MAB em Mariana desde o rompimento das barragens?
O MAB tem ficado perto dos atingidos, tem se sensibilizado também com toda essa situação e prestado solidariedade. Em um segundo momento, a preocupação é que os atingidos decidam o que vai ser da vida deles. Vamos lutar para que não haja terceiros decidindo o que vai ser do futuro dos moradores, da construção da comunidade. Para isso, já estamos atuando com a arquidiocese aqui de Mariana para organizar as famílias, entender o que elas querem e construir uma pauta de trabalho. Fizemos reunião com lideranças e estamos realizando várias assembleias nos hotéis onde as famílias estão hospedadas.
Acompanhe aqui a cobertura do Brasil de Fato sobre o acidente ambiental em Mariana
Fonte: Brasil de Fato