Pedro Cardoso Lages*
Os primeiros registros de movimentos classistas no Brasil são do começo do século XIX. No ano de 1858, os Tipógrafos do Rio de Janeiro (80 funcionários de 3 grandes jornais cariocas) resolveram parar as máquinas, reivindicando melhores salários e pedindo o fim de injustiças patronais. Os proprietários dos diários, claro, conseguiram a substituição dos grevistas pelos trabalhadores da Tipografia Nacional, que cederam após muita pressão e ameaça aos seus empregos.
Em 1917, o Brasil contou com sua primeira grande greve, ocorrida em São Paulo. O movimento, guiado por ideologia anarquista, estourou por consequência do fim da Primeira Guerra Mundial. As exportações no país aumentaram muito, afetando o abastecimento interno de alimentos, elevando de forma abrupta o custo de vida. Estima-se que 70 mil pessoas aderiram ao movimento, que reivindicava aumento salarial entre 25% e 35%, condições dignas de trabalho, fim do trabalho noturno para menores de 18 anos e um dos pontos mais importantes: liberdade aos grevistas presos. Os patrões, desesperados com o campo de guerra em que havia se transformado São Paulo, concederam o aumento salarial e se comprometeram a estudar as demais causas.Foi a primeira grande vitória dos trabalhadores no país.
Em 1931, através do Decreto nº 19.770, temos o que podemos considerar a primeira Lei Sindical brasileira.
Em 1953, ocorre a greve dos 300 mil em pleno governo Getúlio Vargas. Além do aumento salarial de 32%, o companheirismo entre diversas categorias foi, na minha opinião, um dos maiores ganhos do movimento, com o sindicato dos médicos prestando ajuda gratuita aos grevistas parados e a criação de uma cozinha comunitária para todos aqueles envolvidos na luta, que durou quase 30 dias.
Em 1995, companheiros petroleiros, temos a nossa luta histórica. No dia 3 de Maio de 1995, a greve geral é deflagrada pela CUT, após a traição do então presidente entreguista neoliberal Fernando Henrique Cardoso, que simplesmente não quis cumprir o acordo fechado entre a FUP e Itamar Franco no ano anterior. FHC foi ainda autor de uma frase marcante à época, dizendo que “quebraria a espinha dorsal do movimento sindical”. Essa espinha dorsal manteve unida a categoria durante 32 dias de greve, um marco histórico no Brasil atual. Os ganhos econômicos e principais itens da pauta talvez não tenham sido significativos, porém os ganhos políticos e sociais são o maior legado. A classe conseguiu travar uma política neoliberal de tentativa de venda da empresa, e os petroleiros mostraram à toda sociedade o significado das palavras união, resistência e organização.
Com este histórico em mente, muito me preocupa o rumo que uma parte da categoria está tomando, preocupada apenas com ganhos econômicos e com uma falsa certeza de que seu emprego está garantido por ser “concursado”.
Os companheiros em dúvida, os colegas que hoje ocupam os chamados cargos de confiança e fazem parte da dissidente contingência que só prejudica a própria categoria, peço que coloquem a mão na consciência, que venham à luta, como tantos outros fizeram no passado, conseguindo ganhos históricos. Vamos fazer história, vamos reivindicar que nossa empresa continue tendo seu papel social no país, gerando capital com responsabilidade, pelo bem dos trabalhadores e trabalhadoras que são parte dessa empresa que tanto orgulha o povo brasileiro. Nenhum petroleiro quer o mal da Petrobras, porém a história nos mostra, e não mente, que sem luta, companheiros, a classe operária é esmagada, seus direitos suprimidos e o capitalista que deturpa os fatos com mentiras e sensacionalismo acaba detendo todo o ganho para si e uma minoria privilegiada. Não vamos deixar a minoria ganhar, somos a maioria.
* Técnico de Operação Pleno da P-56.