Os gregos decidiram neste domingo (05) rejeitar as propostas feitas pelos credores internacionais. O “não” a um acordo nos moldes da austeridade tradicional imposta pelas instituições financeiras internacionais venceu o referendo com 61% dos votos, contra 38% do “sim”, segundo dados divulgados pelo ministério do Interior do país. Após o resultado, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, declarou que a consulta popular “prova que a democracia não poder ser chantageada”. “Os gregos tomaram uma medida corajosa e é esta que irá mudar o debate na Europa”, afirmou.
Em pronunciamento em rede nacional, o chefe de Governo ainda disse que não há “soluções fáceis”, mas “soluções justas” , que devem ser buscadas e encontradas, se os dois lados quiserem isso. Tsipras também anunciou que a votação não significa que Atenas esteja saindo da zona do euro, como muitos temem. “Nós devemos tirar essa questão fora da mesa completamente”, insistiu o premiê.
Na manhã desta segunda-feira (06), o ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, renunciou ao cargo. Conhecido por suas desavenças com os sócios europeus, Varoufakis explicou em seu blog pessoal que, logo após o anúncio do resultado do referendo, ele ficou sabendo que alguns participantes do Eurogrupo tinham “certa preferência” de sua “ausência” nas reuniões. Seu dever seria, então, “facilitar” essas negociações.
“Esta foi uma ideia que o primeiro-ministro julgou ser potencialmente útil a ele para que se pudesse chegar a um acordo. Por esse motivo, estou deixando o ministério das Finanças hoje”, argumentou. “Considero que é meu dever ajudar Alexis Tsipras a explorar, como bem lhe aprouver, o capital que o povo grego nos concedeu através de referendo de ontem”, acrescentou.
Na postagem em seu blog, Varoufakis — que em outras ocasiões já se classificou como um “marxista errático” — ainda disse que “todos da esquerda sabem como agir coletivamente, sem se importar com os privilégios de seu posto”.
Após a saída de Varoufakis, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, comentou que a renúncia do ministro representa um alívio para o diálogo com Atenas, mas destacou que nem por isso as negociações serão mais fáceis. Para Schulz, que ontem alertou que uma vitória do “não” implicaria a implantação de uma nova moeda por parte dos gregos, “serão negociações difíceis”, mas se mostrou favorável a mantê-las.
Em declaração a jornalistas na Alemanha, o líder do Legislativo do bloco ainda acrescentou que o sucesso de um acordo não depende de “pessoas concretas”, mas de “disposição”. Segundo a Reuters, um substituto para Varoufakis deve ser anunciado após reunião de líderes políticos, prevista para acontecer nesta segunda, informou um porta-voz do governo grego.
As negociações para um novo resgate financeiro à Grécia tinham sido interrompidas na última semana, após Atenas dar calote no FMI e em meio à espera do resultado do referendo. Na terça (07), o Eurogrupo se reunirá às 13h de Bruxelas para voltar à mesa de diálogo com a delegação grega. Contudo, a troika (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional) já antecipou que espera “novas propostas concretas” da equipe de Tsipras.
Repercussão
Após o resultado, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, François Hollande, pediram a convocação de uma cúpula europeia extraordinária na próxima terça (07). A decisão foi feita depois que os dois líderes se telefonaram.
Com o fracasso do “sim”, o ex-primeiro-ministro e líder do partido Nova Democracia, Antonis Samaras, renunciou à presidência da legenda oposicionista conservadora. “O povo decidiu em um referendo de divisão. O governo tem agora a responsabilidade de trazer um acordo que evite que o país afunde. Com a vitória do ‘não’, alguns na Europa traduzirão como vontade de sair da zona do euro. Chamo os parceiros a ajudar a Grécia a permanecer no euro”, afirmou Samaras.
Para o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, a Grécia deve agora tomar a iniciativa. “As consequências são uma decisão que deve ser tomada na Grécia. Por isso, a bola agora está com Atenas”, disse.
Fonte: Brasil de Fato