Estamos assistindo uma disputa internacional que poderá alterar o eixo de poder mundial, hoje sustentado, principalmente, pelo controle financeiro e militar. Quando um país sinaliza que aumentará seu poder bélico ou ameaça comercializar petróleo e gás em uma moeda diferente do dólar, sofre sanções/intervenções do EUA, como no caso do Iraque e, atualmente, da Rússia. Vale lembrar que o petróleo se tornou o lastro informal da moeda norte-americana após a queda do padrão ouro, os chamados petrodólares.
O capitalismo entrou em uma das suas piores crises em 2008. E, em 2009, os países “em desenvolvimento” fizeram a primeira reunião do então chamado BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China) e passaram a reivindicar maior participação nas decisões mundiais.
Ainda em 2007, o Brasil anunciou a descoberta do pré-sal e o plano estratégico da Petrobras apontava o caminho para o país entrar na lista dos cinco maiores produtores de petróleo do mundo até 2020. Essa lista teria a Arábia Saudita e os Estados Unidos, de um lado, e Rússia, China e Brasil, do outro, no BRICS (os mesmos quatro países, mais África do Sul). Anos depois, em 2013, é oficializado o Fundo Comum e, em 2014, o Banco do BRICS.
Fica evidente o poder diferenciado deste novo “bloco” de ameaçar a moeda americana como padrão internacional. O que, somado ao poderio bélico da Rússia, China e Índia, é capaz de fragilizar os dois eixos de sustentação do poder norte-americano.
Em 2010, com a lei de partilha, o Brasil sinalizou ao mundo: descobrimos a maior reserva de petróleo do planeta das últimas décadas, vamos explorá-la por meio da nossa estatal, usaremos os investimentos para desenvolver a indústria nacional e destinar grande parte do lucro para o Fundo Soberano (educação e saúde) e para fortalecer o BRICS.
Alguém tem dúvida que isso geraria uma reação? O tamanho da crise que estamos vivendo é proporcional à briga que compramos. Estamos no meio do fogo-cruzado entre a disputa China x EUA.
Também em 2010, o Wikileaks já denunciava o acordo entre o atual senador José Serra (PSDB-SP) e as petrolíferas privadas para entregar o pré-sal às multinacionais. Reduzir os investimentos é sinalizar que a Petrobras não será mais impulsionadora da indústria nacional. Tirar a Petrobras da operação do pré-sal é abrir mão do controle estatal de exploração e da tecnologia. Além de fragilizar o Fundo Soberano e o conteúdo local, que, somado à diminuição da empresa através da venda de ativos, significa reduzir o poder do Estado brasileiro em intervir na economia de forma estrutural.
Entramos na briga de cachorro-grande, agora vamos latir e morder ou aceitaremos voltar a ser vira-lata?
Cibele Vieira é socióloga (Escola de Sociologia e Política de São Paulo) e diretora do Sindipetro Unificado de SP e da Confederação Nacional do Ramo Químico.