A Contraf-CUT criticou a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 11% ao ano anunciada nesta quarta-feira (28) pelo Comitê de Política Monetária (Copom), em Brasília. “O Copom deixou escapar uma boa oportunidade para baixar a Selic e estimular o crescimento econômico, além de forçar uma queda dos juros e dos spreads dos bancos, a fim de baratear o crédito e incentivar o emprego e a distribuição de renda, visando o desenvolvimento do país”, avalia o presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro.
“As altas taxas da Selic para controlar a inflação só têm beneficiado os bancos, os rentistas e grandes especuladores financeiros”, salienta. O dirigente sindical aponta que “é preciso aproveitar esse momento, em que o Copom pelo menos interrompe a elevação da taxa, para fazer um debate público sobre a utilização desse instrumento de política monetária como a única medida de controle de preços no país”.
Para Cordeiro, “o custo social e econômico da utilização da Selic no controle da inflação tem se mostrado muito elevado e é urgente acionar outras políticas voltadas para este fim, cujos efeitos sejam menos danosos. É necessário buscar outras variáveis, em especial o número e a qualidade dos empregos e a remuneração média dos trabalhadores”.
“Essa política de juros altos só tem aumentado o lucro dos bancos e a concentração da renda. Para o país crescer é necessário que haja desenvolvimento com geração de empregos e distribuição de renda”, ressalta o presidente da Contraf-CUT.
Análise do Dieese
Conforme estudo do Dieese, antes desse ciclo de elevações consecutivas, que demorou 12 meses, a Selic havia alcançado seu menor patamar histórico, de 7,5% ao ano. Em termos reais – ou seja, descontada a inflação prevista para 2013 -, a taxa básica de juros da economia estava abaixo de 2% ao ano, percentual este que, embora estivesse bem acima dos patamares internacionais, sinalizava uma possibilidade de mudança importante na política econômica do país.
A principal justificativa do Copom para elevar a taxa Selic nos últimos 12 meses foi a escalada da inflação que, de acordo com as atas divulgadas logo após as reuniões do comitê, ameaçava ultrapassar o teto da meta, fixado em 6,5% ao ano. A cada reunião, prescrevia-se mais uma dose do remédio amargo. Entretanto, segundo o Dieese, o que se nota depois desse ciclo de alta é que a inflação brasileira se manteve no mesmo patamar, o qual é preciso dizer, está rigorosamente dentro do sistema de metas, ainda que mais próxima da sua faixa superior. Ou seja, não existe descontrole inflacionário no país, tal como apregoa insistentemente a grande mídia.
Para o Dieese, os efeitos negativos do aumento da taxa básica de juros são vários, entre eles:
1. Provoca a valorização excessiva do câmbio e, com isso, prejudica a indústria e as exportações do país.
2. Ao valorizar o câmbio, promove a elevação indiscriminada de importações, desequilibra a balança comercial e aumenta a remessa de lucros das empresas multinacionais.
3. Encarece o crédito e desestimula as decisões de investimento e consumo e pode inibir a geração de empregos.
4. Aumenta os gastos do governo com a rolagem da dívida pública e, com isso, a transferência de renda para o setor financeiro, prejudicando investimentos em saúde, educação e outras políticas de interesse da sociedade.
Além disso, o Dieese aponta que é necessário analisar com cautela e profundidade as reais causas das recentes pressões inflacionárias no Brasil. Nos últimos anos, milhares de pessoas foram incorporadas ao mercado de consumo e isso modificou a estrutura de preços da economia. Foi um “problema bom”, pois essa parcela da população esteve à margem dos resultados do crescimento econômico.
Os institutos de pesquisa ainda estão se debruçando sobre os impactos desse fenômeno recente. Para o Dieese, os resultados desses estudos podem revelar que o Copom está usando o remédio errado para controlar a inflação e, com isso, sacrificando a sociedade.
Fonte: Contraf-CUT