O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva relatou ontem (7) o sucesso das políticas implementadas no país a partir de seu primeiro mandato, em 2003, e que são mantidas até agora, a participantes de evento preparatório para a Expo 2015, em Milão, sobre combate à fome no mundo. Por videoconferência, ele destacou o fato de o Brasil ter saído, no final de 2014, do mapa da fome, elaborado pelo Organização das Nações Unidas (ONU). Ao reconhecer que este é apenas passo, reafirmou o compromisso de colaborar no processo que pode levar ao fim da fome nos países africanos até 2025: “Nada pode mudar o que nós conseguimos vencer. Mas é uma batalha que ainda não está resolvida, o pobre subiu um degrau na escada de ascensão social, mas precisa mais”. A proposta do ex-presidente é socializar as políticas com os países pobres da América Latina e África. “É preciso levar financiamento para esses países.”
Depois de ser apresentado à plateia com referências positivas às suas conquistas como presidente, Lula iniciou sua fala destacando a importância de o tema ‘fome’ estar em discussão em um país tão desenvolvido quanto a Itália. “Não são todos que querem discutir esse tema, porque as pessoas pobres não participam de sindicatos, de partidos, muitos não têm como se movimentar para se manifestar e lutar por seus direitos, e isso fica só por conta da sociedade organizada.”
Lula, que teve uma vida muito pobre em Garanhuns, em Pernambuco, mostrou sua afinidade com o tema. “Eu tinha dito minha vida inteira que era possível acabar com a fome no Brasil, mas que isso só seria possível se tivéssemos um governante que tivesse passado fome. Quando eu tomei posse me perguntaram qual legado eu queria deixar e respondi que, se ao terminar meu mandato, cada brasileiro estivesse tomando café da manhã, almoçando e jantando todos os dias, eu já teria realizado a obra da minha vida.”
O ex-presidente fez um rápido relato do Programa fome zero, “um guarda-chuva que acopla uma série de políticas públicas de transferência de renda, inclusive o Bolsa Família” . Destacou que houve preconceito em relação à proposta: “Fomos muito atacados. Diziam que estaríamos dando dinheiro para as pessoas ficarem em casa sem trabalhar. Eu mesmo achei que pudesse não dar certo”, admitiu.
Com esse programa, Lula disse que pôde ver que o problema da fome não é falta de alimento: “O mundo produz mais alimento do que é preciso, mas uma parte não tem dinheiro para comprar, e quem mais sofre são as crianças”.
Ele destacou a estratégia adotada para garantir que o dinheiro chegasse às mãos das mães. “Definimos que as mães teriam mais responsabilidade do que os pais, e por isso fizemos questão que o dinheiro fosse entregue a elas, que elas recebessem o dinheiro no caixa eletrônico sem dever favor a ninguém”, contou.
Para que desse certo, foram feitas parcerias com prefeituras: “Tinha quem não quisesse que a gente fizesse transferência de renda, alguns queriam distribuição de alimento. Mas a gente sabia que existia uma política de distribuição de cesta básica que não dava resultado”.
Lula disse que seu governo foi criticado também porque o programa Fome Zero exigia condicionantes: “A pessoa tinha três obrigações: garantir os filhos em idade escolar na escola, que as crianças tomassem todas as vacinas, e que as grávidas fizessem todos os exames necessários”. No entanto, o ex-presidente disse que essa medida resultou em um sucesso extraordinário, “porque as pessoas passaram a ter mais responsabilidade para poder receber o dinheiro”.
O ex-presidente destacou dentre as medidas para combate à fome o investimento em política de crédito para agricultura familiar e a política de valorização do salário mínimo, “que subiu 74% entre 2003 e 2014”. Exaltou os resultados: o índice de desemprego, “que caiu de 12,5% em 2003, para 4,8% em 2014”, a entrada de 40 milhões de pessoas para a classe média e o fato de 36 milhões terem saído da miséria.
Também destacou a criação de 22 milhões de empregos formais. Lula disse que foi uma espécie de milagre que o fez aprender uma lição: “Não existe política de proselitismo para acabar com a fome, é preciso transformar o combate à fome em política pública”.
Ele defendeu que em todo o mundo os países do mundo unam esforços para promover a inclusão da população mais pobre, incluindo o combate à pobreza como política de estado nos orçamentos nacionais e aumentando a cooperação internacional, especialmente com a África, para atingir a meta estabelecida pela União Africana de erradicar a fome no continente até 2025.
O presidente afirmou ainda que foram os pobres que salvaram a economia brasileira na crise que começou em 2008. “O pobre com acesso ao mínimo de renda é o grande salvador dos problemas crônicos dos países. Para resolver a crise, temos de transformar os pobres em cidadãos plenos de direitos.”
O evento na cidade italiana contou com a presença do primeiro-ministro do país, Matteo Renzi, e do Papa Francisco, que enviou uma mensagem em vídeo. A Expo 2015 será realizada entre maio e outubro.
Assista ao vídeo com a mensagem do ex-presidente na página do Instituto Lula