CUT, por Leonardo Severo
A Cúpula dos Povos, realizada entre os dias 25, 26 e 27 de janeiro em Santiago do Chile, reuniu dezenas de organizações e movimentos sociais e políticos da América Latina, Caribe e União Europeia “contra a hegemonia do capital financeiro, que se manifesta, entre outras formas, na privatização e mercantilização de serviços públicos, no desmantelamento do Estado de bem-estar e na precarização do trabalho”.
O diretor executivo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Shakespeare Martins de Jesus, foi um dos debatedores da mesa “Modelos de desenvolvimento e alternativas”, ao lado da presidenta da CUT-Chile, Bárbara Figueroa, e do dirigente da Internacional dos Serviços Públicos (ISP), Jocélio Drummond, e de outros líderes sindicais internacionais. Na oportunidade, Shakespeare defendeu “o enfrentamento à lógica excludente ditada pelo sistema financeiro e pelas transnacionais, que sangram os recursos de nossos países e povos, agravando a desigualdade”.
Shakespeare ressaltou o papel da unidade entre os movimentos sindical e social para que retomem o protagonismo, exercendo pressão pela ampliação dos investimentos públicos, valorizando o trabalho e redistribuindo renda. O contrário disso, alertou, é o descaminho que vem sendo trilhado pelos países europeus submetidos à irracionalidade da troika – Comissão Europeia (CE), Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI). “Vimos o que aconteceu na Europa com apolítica de arrocho de salários, aposentadorias e pensões, aumento de impostos e supressão de direitos. Com desemprego recorde, que chega a mais de 50% entre a juventude espanhola, e desgraça a vida dos trabalhadores gregos e portugueses, a economia europeia afunda. Na América Latina vários governos como o do Brasil, Argentina, Bolívia, Equador e Venezuela estão demonstrando que há outro caminho além da submissão. Até porque este receituário está falido”, declarou.
INCLUSÃO SOCIAL -Como parte da estratégia de impulsionar mudanças que fortaleçam a inclusão social, enfatizou o dirigente cutista, as centrais sindicais brasileiras, com apoio de movimentos sociais como a União Nacional dos Estudantes (UNE), realizarão no dia 6 de março uma Marcha a Brasília para levar a pauta dos trabalhadores ao governo e ao Congresso Nacional. Entre as bandeiras do movimento, apontou, encontram-se a redução da jornada para 40 horas semanais, a reforma agrária e a ampliação dos recursos orçamentários para a saúde e a educação. “É desta forma que buscamos construir um novo modelo, alternativo à cartilha neoliberal”.
Conforme Shakespeare, este posicionamento está em consonância com a Cúpula que, em sua declaração final, alertou para a necessidade de romper com tamanha irracionalidade: “As relações existentes entre a União Europeia, a América Latina e o Caribe, que priorizam os privilégios e os lucros dos investidores frente aos direitos dos povos, através de acordos comerciais e acordos bilaterais de investimentos, aprofundam este modelo que prejudica os povos de ambas as regiões. É assim que estes Estados mercantilistas, as transnacionais e as grandes corporações continuam administrando e aprofundando a pobreza e a desigualdade social no mundo”.
BASES PARA UM NOVO MODELO-Deste modo, frisa o documento, “surge a necessidade de construir as bases para um novo modelo de sociedade que transforme as atuais lógicas e coordenadas políticas, econômicas, sociais e culturais em todas nossas nações e povos de ambos os lados do continente, as lutas dos diferentes atores e organizações do campo popular”. E para alcançar estes objetivos, os movimentos sociais propõem que “os direitos e bens naturais arrebatados de nossos povos devem ser recuperados, por meio da nacionalização”, uma vez que o neoliberalismo, via privatização, usurpou bens públicos e os transferiu para os cartéis transnacionais.
SOLIDARIEDADE ANTI-IMPERIALISTA – A Cúpula também manifestou sua “mais ampla solidariedade com o povo palestino e todos os povos e nações oprimidos pelo poder colonizador e o imperialismo, assim como o repúdio às intervenções militares em Honduras, Haiti e Paraguai”. “Apoiamos o processo de paz com a participação dos atores sociais e políticos na Colômbia e nos solidarizamos com o povo cubano contra o bloqueio, com a Argentina no processo de recuperação das Malvinas, com a Bolívia em sua demanda pela saída ao mar, com o povo venezuelano no processo bolivariano e com os movimentos sociais na Grécia e na Espanha. No caso do Chile, solidariedade com o movimento estudantil em defesa da educação pública e gratuita e com o povo e a nação mapuche contra a repressão realizada pelo Estado”, conclui o documento.