Depois de um julgamento rigoroso do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 2ª Região, que decidiu neste domingo (8) pelo cumprimento à risca da oferta do Metrô aos trabalhadores, pela abusividade da greve e pelo desconto dos dias parados, além de não garantir estabilidade no emprego aos grevistas, os metroviários aprovaram em assembleia com mais de 2 mil trabalhadores, no Tatuapé, zona leste de São Paulo, a continuidade da greve até amanhã às 13h. Uma nova assembleia será realizada nesse horário para rediscutir as condições de continuidade da greve; o presidente do sindicato, Altino Melo dos Prazeres, que defendeu a continuidade da greve durante a assembleia, afirma que “é possível sair um pouco melhor desta negociação sindical”. “O mundo inteiro está de olho, e o Alckmin [Geraldo, governador de São Paulo pelo PSDB] não vai querer sair dessa história como o grosseiro, o que não negocia”, afirmou.
O dirigente negou que tenha pretensão de tumultuar a abertura da Copa do Mundo de futebol, que será realizada na próxima quinta-feira (12), em Itaquera, na zona leste de São Paulo, mas insistiu na continuidade da paralisação e chamou a atenção para o momento em que “o mundo inteiro” olha para o Brasil. “O sindicato não quer acabar com a Copa. Também sou torcedor, gosto de futebol, gosto do Neymar, mas tem de ter dinheiro para o trabalhador. O governador tem de ter uma inflexão”, apontou. Ele voltou a dizer que Geraldo Alckmin age como “bombeiro louco”, ao reprimir em vez de negociar. O tucano diria mais tarde que os grevistas podem ser demitidos por justa causa, já que a Justiça determinou o fim da paralisação. “Se o governador demitir metroviários, em vez de diminuir (o movimento), vai aumentar”, disse o presidente do sindicato.
Durante a votação, Altino falou em defesa da continuidade da greve, proposta apresentada pela diretoria do sindicato e apoiada pela militância sindical ligada à CSP-Conlutas e ao PSTU. Ex-presidente do sindicato, Wagner Gomes, secretário-geral da CTB e dirigente do PCdoB, foi um dos defensores da suspensão da greve, para a retomada das negociações. Uma terceira alternativa apresentada à categoria foi o fim do movimento de greve. A vitória da continuação da greve foi aprovada por maioria em votação com os crachás de funcionário do Metrô.
Dirigentes sindicais confirmaram, após a votação, que um protesto em solidariedade à luta dos metroviários, com a participação do Movimento Passe Livre (MPL) e do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), está convocado para amanhã, a partir das 7h, na estação Ana Rosa, na Vila Mariana, zona sul. Eles esperam conseguir garantias contra represálias aos grevistas e a retomada da negociação pelo reajuste de 12,2% solicitado pela categoria, ante os 8,7% oferecidos pelo Metrô e decretados pela Justiça do Trabalho. O sindicato vai ainda recorrer ao TRT contra a multa de R$ 500 mil por dia fixada hoje em caso de manutenção da greve, além dos R$ 100 mil diários pelo descumprimento de liminar sobre efetivo mínimo.
Com 104 itens, a pauta original dos metroviários, apresentada em 15 de abril, incluía reajuste salarial de 7,95% mais aumento real (acima da inflação) de 25,5%, totalizando 35,47%. Posteriormente, a reivindicação ficou em 12,2%. O Metrô ofereceu inicialmente 5,2% (variação do IPC-Fipe em 12 meses, até abril, véspera da data-base) e elevou a oferta a 8,7%. Os trabalhadores reivindicam ainda piso de R$ 2.778,63 (valor correspondente ao salário mínimo calculado pelo Dieese em fevereiro) – o atual é de R$ 1.323,55. O vale-alimentação, de R$ 247,69 no atual acordo coletivo, passaria a R$ 379,80. O Metrô propôs R$ 290. E o vale-refeição (R$ 25,65) seria corrigido em 13,25%, enquanto a empresa ofereceu 8,7% mais retirada da parte cobrada dos funcionários, que varia conforme o salário.
A paralisação atual entra no quinto dia nesta segunda-feira (9) e se aproxima de empatar a duração da maior greve que a categoria já realizou, em 1982, que durou seis dias.
Fonte: Rede Brasil Atual