Rede Brasil Atual
A elaboração de uma política industrial não pode se limitar a desonerações, avaliam os metalúrgicos ligados à CUT, reunidos nesta quarta-feira, (19), e hoje em plenária. “Estamos falando de desenvolvimento tecnológico, criação de emprego, organização no local de trabalho. Não adianta só desonerar. Queremos que o governo aumente o seu investimento. Os empresários também precisam fazer a parte deles”, afirma o presidente da confederação da categoria (CNM-CUT), Paulo Cayres.
Ele cita o programa Inovar-Auto como exemplo da participação dos trabalhadores na formulação de propostas para o setor, no caso especificamente o automobilístico. “É uma política de governo. Mas queremos que seja uma política de Estado. Temos de aproveitar este momento para sermos propositivos.”
Investimento foi a palavra que permeou os debates no primeiro dia da plenária. “O Brasil não pode bater recorde de vendas, atingir 90% de sua capacidade de produção (no segmento automobilístico) e investir tão pouco”, afirma o diretor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Fernando Sarti. Ele defende uma mudança no padrão de crescimento brasileiro, com investimentos pesados em infraestrutura, urbanização, construção civil. “Só vamos ter desenvolvimento se tivermos uma indústria, com o Estado coordenando a política industrial.”
O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Mauro Borges Lemos, acredita que as taxas mundiais de crescimento deverão continuar relativamente baixas ainda durante algum tempo. “Nesse sentido, vamos ter de contar com as próprias pernas.” Para ele, o país passa por um período de transição, que irá pelo menos até 2017, com algumas dificuldades no caminho. Lemos avalia que houve alguma demora na formulação de uma política industrial efetiva, o que só teria acontecido após o “sinal amarelo” da crise mundial de 2008.
Agora, é preciso estimular o investimento, embora o consumo continue sendo “um vetor relevante” para o crescimento. Politicamente, o presidente da ABDI vê dois caminhos para o país: um com investimento e consumo que garanta inclusão e outro de “controle” salarial para acúmulo de capital. “Está em jogo uma transição, com um novo padrão de crescimento”, afirma.
A plenária tem 130 delegados e 21 observadores. A CNM-CUT reúne 80 sindicatos, com 800 mil trabalhadores na base, espalhados em seis setores: siderúrgico, automobilístico, bens de capital, eletroeletrônico, naval e aeroespacial. No encontro que termina amanhã, aproximadamente dois terços dos participantes são dos setores siderúrgico e automotivo. Entre as delegações, as maiores são as de São Paulo (38%), Rio Grande do Sul (15%) e Minas Gerais (14%).