Grito da Terra exige reforma agrária e fim da violência no campo

Vermelho

Vestidos com túnicas pretas e segurando bandeiras, cerca de cinco mil trabalhadores rurais de todo o Brasil participaram nesta quarta-feira (22) do 19º Grito da Terra Brasil, em passeata pela Esplanada dos Ministérios. Entre as principais reivindicações apresentadas pelos manifestantes estão a reforma agrária e o combate à violência no campo. Eles defendem também melhoria na saúde pública e na educação.

Durante a marcha, os manifestantes fizeram um ato em frente ao Ministério do Trabalho para cobrar a regularização de alguns sindicatos. Atualmente, existem mais de 250 processos de registro parados, aguardando liberação. Essa demanda está na pauta do Grito há várias edições. Estiveram presentes dirigentes sindicais e parlamentares. 

Segundo o vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Willian Clementino, sem o registro os sindicatos perdem o direito de fazer negociações e acordos coletivos de trabalho e não podem cadastrar os segurados especiais na Previdência. “Mais de mil sindicatos já solicitaram o registro”, disse.

Juraci Souto, secretário de Formação e Organização Sindical da Contag, enfatizou a importância do fortalecimento do movimento sindical.  “Para que possamos continuar fortalecendo a luta em nossos municípios e estados, precisamos ter sindicatos e federações cada vez mais fortes e representativos”, disse o sindicalista durante o ato. “Para isso, os sindicatos precisam estar inscritos no MTE. Nós estamos de acordo com nossas responsabilidades, mas há muitos anos os processos de enquadramento sindical estão parados nas gavetas do Ministério”, completou.

O presidente nacional da Contag, Alberto Broch, afirmou que a pauta de reivindicações entregue à presidenta Dilma Rouseff, no dia 24 de abril, diz respeito a 15 ministérios. “É uma pauta muito ampla. Tem muita coisa para ser vista pelo governo federal.” Ele lembrou que 80% das atuais políticas públicas do campo são resultado da mobilização dos trabalhadores.

“Mas isso não basta. Não é possível que um governo popular não avance na reforma agrária, na melhoria da qualidade de vida do nosso povo. Estamos aqui para exigir do governo o fim da violência, aquela que mata a liderança que luta pelo campo brasileiro”, afirmou o presidente da Contag.

Já o secretário de Comunicações da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Eduardo Navarro, também presente, lembrou que “nós, urbanos, temos muito a aprender com a forma como vocês lutam por este país. O grito de vocês ecoa em todos os cantos do Brasil, é a voz do campo que chega aos ministérios, no Congresso, no Senado e em todos os sindicatos do país”.

Navarro também frisou a importância de democratizar a sociedade brasileira. “Precisamos desenvolver outras reformas estruturantes e fundamentais para dar dignidade ao campo. O dirigente cetebista concluiu que somente “um conjunto de reformas vai tornar o Brasil um país avançado e desenvolvido”.

Em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), os manifestantes fizeram um minuto de silêncio, deitados em protesto, pelos trabalhadores rurais assassinados no campo. Vestidos com túnicas pretas e trazendo faixas que pediam o fim da impunidade no campo, os agricultores e agricultoras ocuparam a Praça dos Três Poderes. Eles reivindicam o julgamento imediato dos 289 processos de desapropriação para fins de reforma agrária e o fim da impunidade e da violência no campo.

A ideia do ato foi conscientizar os ministros de que só um posicionamento mais firme e ágil do Supremo, no que se refere ao julgamento das questões camponesas, pode minimizar a violência no campo.

Para o presidente da Contag, Alberto Broch, a impunidade potencializa a violência. “Parabenizo a organização do 19º GTB pelo ato no STF. A justiça precisa ser mais solidária com os trabalhadores e trabalhadoras rurais. Temos processos sérios de violência no campo que não são julgados. Isso precisa mudar, é preciso acabar com impunidade”, disse Broch.

Em sua fala o secretário de Política Agrária da Contag, Zenildo Pereira Xavier, reforçou a necessidade de o Supremo acelerar o julgamento dos processos de desapropriação pendentes – em alguns casos há mais de 10 anos.

À tarde, os líderes da manifestação vão se reunir com um grupo de ministros para discutir as reivindicações. “Devemos ser realistas. Há políticas que já estão caminhando e outras que estão longe de serem concretizadas, mas estamos otimistas”, disse Ercílio.

Cerca de 200 policiais trabalharam no controle do protesto. Para a Polícia Militar, o número de manifestantes não passou de 4 mil. A organização do 19º Grito da Terra Brasil, no entanto, informa que cerca de 5 mil trabalhadores participaram do movimento.

Grito da Terra Brasil 2013

O Grito da Terra Brasil deste ano, cujo lema é “50 Anos de Luta por: Reforma Agrária, Sustentabilidade, Trabalho e Dignidade no Campo”, apresentou ao governo uma pauta de reivindicações com 66 itens. Dentre eles, estão: desapropriar terras para fins de reforma agrária, possibilitando o assentamento de pelo menos 100 mil novas famílias em 2013; investir na regularização e no desenvolvimento social, produtivo e ambiental dos projetos de assentamento existentes; e disponibilizar recursos financeiros na ordem de R$ 42 bilhões para o Plano Safra da Agricultura Familiar 2013/2014, sendo R$ 30 bilhões para o crédito rural e R$ 12 bilhões para programas como ATER, PGPM/AF, PGPAF, SEAF.