José Maria Rangel é coordenador Geral do Sindipetro NF, diretor da FUP e, membro do Gupo Paritário de SMS da Petrobrás.
Em entrevista ao Portal da FUP, o sindicalista relata suas impressões sobre as práticas de segurança da Statoil. Em agosto, o diretor de SMS da FUP e outros membros do GT Paritário de SMS da Petrobrás, fizeram uma visita à petrolífera norueguesa para debater questões de saúde e segurança dos trabalhadores da empresa que tem se tornado referência neste quesito tão importante para a categoria petroleira.
“Além do querer fazer saúde e segurança, outro ponto importante na gestão de SMS dos noruegueses, é a participação dos trabalhadores em todas as fases do processo, desde a gestação até a execução. “, afirma José Maria.
Confira a íntegra da entrevista:
No mês passado, você, entre outros diretores da FUP, que participam do GT paritário de SMS da Petrobrás, estiveram na Noruega, junto a alguns representantes da empresa, para conhecer as práticas de segurança da Statoil. Conte um pouco desta experiência e ressalte o que mais chamou a atenção nas empresas de petróleo do país.
O GT paritário de SMS, foi instalado após o acidente aéreo que vitimou 4 trabalhadores na Bacia de Campos em 19-08-2011. Na época, o Sindipetro NF convocou uma greve pela vida, com apoio da FUP, para denunciar as condições de insegurança que estavam vivendo os trabalhadores do sistema PETROBRÁS (próprios e terceiros).
Alguns pontos foram levantados como importantes a serem discutidos no GT, tais como subnotificação de acidentes, CIPAS, Atestado de Saúde Ocupacional (ASO), registro de acidentes, efetivo, primeirização, entre outros. Também levantamos a possibilidade de conhecermos a realidade de outras operadoras no trato das questões de saúde e segurança, para ver se o que é praticado pela Petrobrás e contratadas, é de fato uma política que busca o trabalho seguro.
O nome da STATOIl, veio naturalmente, devido aos números e praticas que a empresa tem na área de saúde e segurança. Já estive lá em 2003, a convite dos sindicatos noruegueses e naquela época, já me chamou a atenção como eles faziam a segurança e saúde. Na visita atual, a delegação da FUP foi composta por mim (NF), Norton(NF), Dary(RS) e Itamar(SP).
O que mais me chamou a atenção, foi a cultura de saúde e segurança, o querer fazer e a vontade política de preservação da vida.
As práticas de segurança das empresas de petróleo da Noruega tem tornado o país uma referência em prevenção de acidentes. Neste intercâmbio, deu pra captar um pouco do segredo que proporciona este desenvolvimento?
Além do querer fazer saúde e segurança, outro ponto importante na gestão de SMS dos noruegueses, é a participação dos trabalhadores em todas as fases do processo, desde a gestação até a execução. Diferente da Petrobrás, os sindicalistas lá participam de tudo o que diz respeito à área de SMS. Chegar ao nível da Statoil, vai exigir por parte da Petrobrás, uma mudança de cultura profunda, que eu não sei se os dirigentes da empresa estão dispostos a fazer.
Cerca de quantos trabalhadores fazem parte da Statoil? Vocês tiveram contato com alguns deles?
A Statoil possui cerca de 21.000 trabalhadores, atua em 37 países (inclusive no Brasil), produz cerca de 3 milhões de barris de petróleo por dia e é a segunda maior exportadora de gás para Europa. Tem 37 plataformas e 8 áreas operacionais, entre refinarias e terminais. Como se vê, uma grande empresa.
O contato que tivemos nesta visita foi basicamente com o corpo gerencial da empresa, no entanto, como citei acima, na visita que fiz à Stavanger em 2003, a convite de sindicalistas, ouvi os mesmos relatos que nos foram feitos agora sobre práticas de segurança. Só para dar uma ideia, em 2003 eu embarquei na plataforma de GULFAKS A, para participar de uma reunião de CIPA. Aqui na Petrobrás, só conseguimos isso em 2011 e as duras penas.
O Conselho de Administração da empresa também tem a participação de trabalhadores?
O CA da Statoil tem 10 componentes, sendo que 3 são eleitos pelos trabalhadores que participam de todas as discussões de interesse dos empregados, tais como saúde e segurança, salários e vantagens e investimentos da empresa.
Há quantos anos eles adotaram esta prática?
Desde 1980, quando do acidente da plataforma AlexsanderKeillan, que naufragou no mar do norte, matou 123 trabalhadores. Como em todo segmento da indústria (no setor petróleo não é diferente), sempre que ocorre uma grande tragédia, alguma satisfação tem que ser dada à sociedade e ai, são criados programas e mais programas de prevenção de acidentes, só foto e não filme. Como não existe vontade política, estes programas são engolidos pela ganância da produção. Na Noruega, a preocupação com segurança foi algo perene e que tem apresentado resultados bastante significativos no quesito preservação da vida. O último acidente fatal ocorrido nas áreas operacionais da Statoil, segundo o relato deles, foi em 2009 com um trabalhador que caiu de um andaime.
Qual o nível de terceirização de trabalhadores nas empresas de petróleo da Noruega?
A terceirização na Statoil segue uma lógica inversa a do Brasil. Enquanto aqui na Petrobrás, para cada trabalhador próprio, existem 3 contratados, lá na Statoil, para cada próprio, você tem 0,33 contratados. Em 29 das 37 plataformas da Statoil, os trabalhadores de hotelaria são próprios, algo impensado na Petrobrás. A FUP e os sindicatos filiados têm questionado muito o nível de terceirização no setor, pois na nossa visão, a terceirização tem a ver com precarização. Das mais de 300 mortes ocorridas de 1995 para cá, na Petrobrás, 90% são de trabalhadores terceirizados. O baixo nível de terceirização na Statoil talvez explique o baixo número de mortes também.
Durante a visita, foi relatada a situação do caos aéreo na Bacia de Campos e o sério problema de subnotificação de acidentes?
Não tratamos diretamente do caos aéreo da Bacia de Campos. Buscamos saber como é a atuação deles no transporte aéreo e suas consequências, além da pesquisa sobre o serviço de busca e salvamento (SAR) para as plataformas deles. No quesito do transporte aéreo, eles tem uma opção clara por aeronaves de grande porte. Para se ter idéia, só de S-92 são 28. Eles transportam cerca de 750.000 passageiros por ano, voando à noite, na neve e na chuva. O último acidente com vítimas foi em 97, onde morreram 14 trabalhadores. No Brasil, transportamos cerca de 1 milhão de passageiros por ano, não voamos em condições adversas, como eles e, temos uma frota basicamente de aeronaves de médio porte. De 2003 para cá , temos um acidente a cada 20 meses. Precisamos melhorar e muito.
Quanto ao serviço de busca e salvamento, enquanto nós não temos nenhum eficiente ( a marinha diz que tem), eles possuem 5, com aeronaves do tipo EC-225 , espalhados na costa norueguesa. Apesar de não haver restrição para que o serviço seja feito por empresas privadas, o custo é da Statoil.
Qual o saldo deste intercâmbio? Algo já foi levado às reuniões do Grupo Paritário de SMS da Petrobrás?
Os dois lados (FUP e Petrobrás), ainda estão fazendo os seus balanços sobre a viagem, mas espero que fatos como a participação dos trabalhadores na elaboração, execução e análise das políticas de SMS, que existem na Noruega e se mostram eficazes com os números apresentados se confrontados com os nossos, possam fazer com que a nossa viagem tenha sido a trabalho e não um passeio.