Plenária Estatutária da CNM/CUT e os caminhos para nossa ação sindical

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Paulo Cayres é presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT)

Esta semana (dias 19 e 20), a Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT realiza a sua Plenária Estatutária. Ela acontece num período muito peculiar da vida do país, que assiste a uma disputa de dois projetos antagônicos: aquele que defendemos e estamos ajudando a construir – o do desenvolvimento sustentável com qualidade de vida para todos e toda, com crescimento do emprego e distribuição de renda –, hoje personificado na presidenta Dilma Rousseff; e o outro que traz a velha receita do neoliberalismo, com desmonte do Estado, privatizações e perda da soberania nacional, com a candidatura demo-tucana.

Estes dois projetos serão colocados na balança da jovem democracia brasileira no ano que vem. Entretanto, os que não se conformam com os avanços obtidos nestes quase 11 anos de governo do PT, anteciparam o debate eleitoral e desde o final de 2012 vêm tentando desestabilizar esse governo. E é nesse ponto que deveremos estar atentos para traçar a nossa atuação junto às nossas bases e à sociedade.

Desde 2002, há eleições distintas em importância. A daquele ano ficou marcada para sempre em nossa história como a eleição de um metalúrgico nordestino e pobre como tantos milhões, corajoso e obstinado como poucos, resultante de um processo de ascensão da classe trabalhadora, traduzida na construção de um partido e de uma Central que aglutinam a luta do povo por liberdade e autonomia. A eleição de 2006 reafirmou o compromisso desse povo com seu líder.

A de 2010 foi marcante, por ser a primeira vez que disputamos uma eleição presidencial sem Lula como candidato. Dilma se elegeu sob o legado de seu antecessor. Em 2014, a presidenta concorrerá sob seu próprio legado, com sua própria bagagem, que traz o avanço das lutas de todas as mulheres deste país, de todas as ‘Marias’ que ousaram sonhar e tiveram a ousadia de tornar o sonho em realidade.  Acima de tudo, a próxima eleição será a oportunidade de consolidação de nosso projeto.

Como já pudemos perceber nesta antecipação do debate eleitoral, o pano de fundo da campanha de 2014 será a economia. A atual crise mundial trará mudanças e o papel dos movimentos sociais, especialmente o sindical, é vital para que não tenhamos que pagar novamente essa conta.

Os países, de forma isolada, não terão condições de passar ilesos pela crise. No Brasil, as medidas adotadas nestes 11 anos de governo Lula e Dilma criaram as condições para que os impactos da crise não abalassem os fundamentos da economia nacional. A despeito dela, continuamos com crescimento econômico, com geração de empregos e com distribuição de renda.

Entretanto a mídia conservadora e a oposição apostam suas fichas na desestabilização do governo, criando o fantasma do descontrole da inflação e tentando cooptar a opinião pública para solapar os alicerces do atual governo.

Diante dessa disputa de modelo econômico, não podemos ficar quietos. Não contamos com grandes veículos de comunicação – que estão “do outro lado” – e, assim, mais uma vez devemos investir na capacidade de mobilização e organização de nossos sindicatos. Vale lembrar ainda que a base parlamentar governista ainda é heterogênea e não está, em sua maioria, alinhada com o projeto classista que representamos. Além disso, o parlamento também está em disputa e, se não formos às ruas defender nossas propostas, ele continuará sendo um amplo espectro de representação das elites desse país.

Assim, precisamos avançar em nossa representação no parlamento e garantir no Executivo a continuidade do projeto que ajudamos a construir, fortalecendo-o junto a esta nova classe trabalhadora.

Nos últimos 10 anos, vivenciamos um cenário de aumentos reais de salários, de crescimento do nível de emprego e de melhoria nas condições de trabalho. Um cenário bem diferente dos anos de FHC, quando a pauta da classe trabalhadora era de resistência contra demissões e redução dos direitos.

Há toda uma geração de jovens trabalhadores que não vivenciaram esse cenário caótico do neoliberalismo, ao contrário do que está acontecendo na Europa, onde a juventude sofre os efeitos da crise deflagrada por esse modelo que havia sido adotado por FHC. Em Portugal, 42% dos jovens estão desempregados; na Espanha, o índice beira os 56%. Ou seja, o ônus do modelo econômico adotado para combater a crise naquele continente está recaindo especialmente sobre a juventude trabalhadora.

No Brasil, nossos sindicatos devem também calibrar sua ação sindical na interlocução com esse segmento da classe trabalhadora, aprofundando os programas de formação sindical, adequando sua comunicação e estabelecendo, nas negociações coletivas, cláusulas de proteção e de qualificação para a juventude operária.

É preciso estreitar o relacionamento com a juventude e criar vínculos que possibilitem que ela entenda o seu papel dentro da luta de classe, como importante parcela no enfrentamento do individualismo e da competitividade apregoada pelo capitalismo.

Precisamos afinar a nossa atuação para atender essas novas demandas, envolvendo as questões econômicas, de trabalho decente e de defesa do meio ambiente, da sustentabilidade e da autonomia da classe trabalhadora.

Devemos ser os interlocutores dessa nova classe trabalhadora e este é o principal desafio a ser detalhado nesta Plenária Estatutária da CNM/CUT, para cumprir o nosso papel: o de debater e propor, mobilizar e organizar e ter a ousadia de fazer de nosso sonho o caminho que nos levará a mais vitórias e conquistas.