Junéia Martins Batista, secretária nacional de Saúde do Trabalhador da CUT
O “28 de Abril – Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes do Trabalho” é um momento de reflexão dos mais importantes para os trabalhadores do mundo todo e em especial do Brasil.
Desde o início do processo histórico de industrialização a questão das condições de saúde do trabalhador esteve no centro dos embates entre capital e trabalho. As lutas que se travaram em diversos lugares do mundo por redução de jornada no século XIX e início do século XX, para citar um exemplo emblemático, tinham como pano de fundo a busca por melhores condições de vida e saúde física e psicossocial. No Brasil, a greve geral de 1917 teve como estopim o elevado número de mortes na construção civil.
O mundo evoluiu, o capitalismo se transformou com o desenvolvimento de novas tecnologias aumentando de forma astronômica a produtividade e por consequência os lucros das empresas, mas as condições de trabalho permanecem em seu estágio primitivo.
A exploração da força de trabalho pelo capital continua sendo feita sem considerar que o trabalhador é um indivíduo que precisa ser respeitado em suas necessidades básicas, que tem uma vida social para além dos portões da fábrica; e o resultado disso são as doenças físicas e psicológicas; acidentes de trabalho que levam à morte e à invalidez permanente.
A celebração dessa data foi iniciativa do movimento sindical canadense e foi escolhida porque em 28 de abril de 1969 ocorreu no estado da Virgínia, nos Estados Unidos, um acidente em uma mina que matou 78 trabalhadores. Sindicatos de diversos países hoje marcam esse dia com manifestações, protestos e reflexão.
No Brasil, já se tornou tradição a realização conjunta de atividades do “28 de Abril” pelas centrais sindicais CUT, FS, UGT, CTB, NCST e CGTB. Esse ano escolhemos o tema “PELO FIM DOS ACIDENTES GRAVES E FATAIS” e faremos uma caminhada pelo centro da cidade de São Paulo, conversando com a população e o trabalhador, chamando a atenção para esse fato alarmante. No ano de 2011, segundo o Anuário Estatístico da Previdência Social, ocorreram mais de 711 mil acidentes de trabalho, com 2.844 mortes e 14.811 aposentadorias por invalidez por acidente de trabalho.
É urgente que o trabalhador tome consciência dessa situação e perceba que as grandes responsáveis pelos acidentes e doenças do trabalho, são as empresas, que não investem em prevenção, impõem jornadas extenuantes a seus empregados e se utilizam de mecanismos altamente prejudiciais à saúde para cobrar o aumento frenético da produção. A raiz do problema está na organização do trabalho que inclui a má qualidade de ambientes físicos, a forma de organizar as rotinas de trabalho, os mecanismos psicológicos perversos para o atingimento de metas de produção cada vez mais desumanas, o excesso de jornada, entre outros itens.
Precisamos também cobrar do Estado maior rigor na fiscalização e autuação dessas empresas que além de provocar a morte e invalidez de milhares de trabalhadores, causam um grande prejuízo aos cofres públicos e um prejuízo social ainda maior, pois não raro as vítimas do descaso das empresas deixam suas famílias sem condições de subsistência.
Por isso a importância da celebração desse dia, não só como forma de homenagem aos trabalhadores que morreram ou ficaram incapazes para o trabalho, mas também para chamar a atenção da sociedade e das autoridades para essa verdadeira tragédia que representam os elevados índices de acidentes de trabalho a cada ano em nosso País.