Qual o lugar do trabalho na governança corporativa da Petrobras?







  “O Futuro não existe, realmente. Ele é criado por nós, no presente.”       Leon Tolstoi

Da gestão de Henri Philippe Reichstul à de José Sérgio Gabrielli, a Petrobras adota o mesmo modelo de gestão, a governança coorporativa ou o governo das sociedades, definido pelo IBGE como “um sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os acionistas e os cotistas, Conselho de Administração, Diretoria, Auditoria Independente e Conselho Fiscal”, cuja finalidade seria “aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua perenidade”.

O modelo foi implantado pela gestão neoliberal de Reichstul e permanece, conforme consta no sítio da empresa, com a seguinte afirmação: “nosso modelo de organização, aprovado pelo Conselho de Administração em outubro de 2000, adota as melhores práticas de governança corporativa”.

A construção da Petrobras resulta do sonho de autonomia e liberdade; da decisão política acolhedora da vontade popular; e da engenhosidade e trabalho de toda uma nação, o povo brasileiro. É apenas por essa e por nenhuma outra razão, que a Petrobras chegou ao patamar atual.

Uma empresa que em cinqüenta e oito anos alcançou a classificação, em 2009, de 4ª empresa mais respeitada no mundo, de 8ª maior empresa do mundo por valor de mercado e a maior do Brasil; em 2011 de 3ª maior empresa de energia do mundo e em uma das maiores empresas de petróleo.

Os números responsáveis por essa classificação são os dados divulgados em seu sítio, relativos a Investimentos da ordem de R$ 76 bilhões; com receita liquida de R$ 213 bilhões e lucro líquido de R$ 35 bilhões; presente em 28 países; com produção diária de 2.583.000 barris óleo/dia e 428.000 metros cúbicos de gás natural; com reservas de 16 bilhões de barris de óleo e gás equivalente.

A partir do ano de 2003, a empresa retomou o caminho original de impulsionadora do desenvolvimento nacional, capacitada para disputar o mercado no ramo de petróleo e se transformar em uma empresa de energia, como é atualmente.

O novo rumo rendeu ao Brasil a auto-suficiência em petróleo no ano de 2005; o desenvolvimento de novas energias em matriz limpa e renovável; além dos investimentos em novos projetos como hidrogênio combustível e energia solar; o que leva o país a se destacar entre os pises industrializados pela elevada participação das fontes renováveis em sua matriz energética.

Resulta ainda dessa nova diretriz o desenvolvimento de novas tecnologias, que posicionam o Brasil como gigante do petróleo e único detentor de tecnologia para explorar e produzir petróleo abaixo da camada de sal, a mais de 7.000 metros da superfície do mar.

A Petrobras também se destacou na esfera do mercado de capitais, como a empresa capaz de protagonizar a maior capitalização externa já realizada por uma única empresa, como foi o último processo de capitalização da estatal brasileira.

A trajetória vitoriosa desta empresa agiganta suas possibilidades e, dessa forma, agiganta e posiciona o Brasil como grande nação. Do ponto de vista econômico, leva o país a figurar como de economia emergente, listado entre as cinco maiores possibilidades de crescimento do globo.

Tamanho êxito, no entanto, não alcança o trabalho. A Petrobras ostenta a triste  marca de empresa com elevado índice de adoecimento e de acidentes, inclusive com mortes. Os elevados índices de investimento em tecnologia contrastam com a precarização do trabalho em suas instalações, que atingem aproximadamente 320 mil trabalhadores terceirizados e quarteirizados.

No Rio Grande do Norte não é diferente: o índice de trabalhadores terceirizados e quarterizados somados atingem a cifra de 81%, sendo que em algumas áreas, como Mossoró, o índice alcança 90%.

No ano de 2011, os trabalhadores petroleiros dos setores estatal e privado protestaram a morte de mais de 300 trabalhadores nos últimos 15 anos, sendo 18 somente em 2011, quase 2 óbitos por mês, o pior registro anual.

A luta por mais segurança no trabalho obrigou a Petrobrás a instalar, em 06 de setembro último, o Fórum Nacional ESMS (Estudo, Segurança, Meio Ambiente e Saúde). No entanto, a empresa continuou sem ouvir os trabalhadores, tanto que a segunda reunião do referido fórum somente ocorreu em 19 de dezembro, 103 dias após a instalação.

As razões dos acidentes não são pontuais, decorrem da contradição entre o investimento na produção e a falta de investimento e valorização do fator trabalho. No sítio da empresa, no orçamento de 2011, os itens relativos a ESMS dão conta apenas de manutenção, não constando nenhuma previsão de investimento em modernização, ampliação ou desenvolvimento da atividade

A segurança e a conservação das instalações não recebem a mesma prioridade que os projetos voltados à ampliação da produção. Na área marítima, a mais precarizada, a recuperação das instalações é objeto de cobrança dos trabalhadores e até mesmo da Marinha do Brasil. A resposta vem a passos de tartaruga.

Mas é no quesito do zelo com a vida que a Petrobras é mais displicente. Ou melhor, negligente. A garantia de transporte adequado para a área do Alto do Rodrigues só foi atendida depois da morte de familiares no transporte dos seus genitores, em 2009.

Na área marítima do Rio Grande do Norte, o transporte dos trabalhadores é feito em lancha inadequada e o transbordo da lancha para as plataformas e jaquetas ainda utiliza a obsoleta cesta, a mesma utilizada na movimentação de cargas em geral.

Na área de Ubarana, os guindastes que movimentam as tais cestas são os mesmos de quando a empresa se instalou na região, há mais de trinta anos. Os custos com a segurança são apenas de custeio, sem qualquer  investimento em novas tecnologias.

A empresa do pré-sal não pode ser a empresa das tragédias humanas como foi na gestão do francês naturalizado brasileiro Henri Philippe Reichstul, quando o êxito da produção em águas profundas foi acompanhado das tragédias ambientais.

Para ser grande, a Petrobras precisa incorporar como diretriz prioritária a garantia e a qualidade de vida dos seus trabalhadores. Não interessa aos petroleiros as saudações de que “morremos de forma exemplar”. Queremos que as instalações de trabalho sejam exemplares e a garantia da vida seja a marca mais valiosa da empresa.