Carros velhos e casas mal pintadas. Quando se chega a Havana, em Cuba, tem-se a impressão de uma volta no tempo. A cidade lembra muito alguns subúrbios e os bairros próximos ao Centro do Rio de Janeiro das décadas de 60 e 70 do século passado. As pessoas também em nada diferem dos cariocas. Seja na aparência ou no vestuário. São mulatas, brancas, negras e mestiças, tal e qual as que se veem nas ruas da cidade maravilhosa.
Em Cuba nada se joga fora. Tudo se aproveita. É por isso que se vê rodando por todo o país, automóveis que não se encontram mais em nenhuma outra parte do mundo. Portas, janelas, torneiras, chuveiros, móveis da casa de qualquer cubano são antigos, reaproveitados e adaptados para servir até o mais completo desgaste. E é exatamente aí que reside uma das principais diferenças entre o socialismo de Cuba e o capitalismo do Brasil e do restante do mundo. O sistema capitalista exige, para manutenção da sua lógica e engrenagem econômica, o consumo cada vez maior de bens e serviços. O capitalismo se autoalimenta do consumo da sociedade. Nada se conserta. Tudo se descarta ao menor defeito ou mesmo sem ele. A propaganda cuida de criar novas necessidades. Mas até quando o mundo capitalista vai poder manter o seu consumo desenfreado? Por quanto tempo há recursos naturais e energia para se manter o atual nível de consumo no mundo? Há que se questionar.
Cuba é um país pobre. Mas de uma pobreza digna. Enfrenta problemas com a sua produção agrícola. O jovem prefere as grandes cidades para estudar nas faculdades ou trabalhar ao invés de se fixar no campo. Há pouca comida na mesa. Sempre houve. O cubano se alimenta da história, da pátria, da revolução. No desfile do dia internacional do trabalhador, em 1º de maio, e a cada oportunidade demonstra estar certo de que o melhor para o mundo é o modo de vida socialista, em que todos trabalham por um objetivo e a produção é partilhada por todo o povo. O entusiasmo da juventude cubana é a maior certeza de que o socialismo está cada vez mais vivo na ilha.
Não é possível entender Cuba utilizando-se de um olhar capitalista. O objetivo das empresas e dos cidadãos cubanos não é a obtenção de lucro. O que importa é suprir as necessidades da população. Não há concorrência de preços, pois tudo pertence ao governo cubano. Em todos os lugares os bens e serviços custam o mesmo preço para os estrangeiros. Sim, para os estrangeiros, porque para os nacionais os preços são bem menores. Não é justo que as pessoas oriundas de países capitalistas adquiram bens em Cuba a preço de custo, sem impostos ou subsidiados pelo governo. Esse direito é dado apenas aos cidadãos cubanos, que pagam preços bem menores por bens e serviços do que os estrangeiros em visita ao país.
E há muitos estrangeiros em Cuba. O turismo é uma de suas maiores fontes de receita. A população foi consultada sobre a abertura do país aos turistas e concordou. Mas junto com as divisas vieram os problemas decorrentes dessa indústria. O capitalismo corrompe. E os cubanos autorizados pelo governo para trabalhar com o turismo aprenderam rapidamente a lógica do sistema capitalista. Agora há uma espécie de classe média emergente em Cuba, pois muitos não estão limitados aos salários pagos pelo governo. Resultado da abertura gradual do país levada a cabo pelo Comandante Raul Castro a partir de 1996. Como se observa, o sistema econômico cubano pode ser socialista, mas os seres humanos são os mesmos em qualquer lugar do planeta.