Na tarde desta quarta (20), mais de 50 mil pessoas de organizações que compõem a Cúpula dos Povos, evento paralelo à conferência oficial, deixaram a frente da igreja da Candelária e seguiram em marcha até o Largo do Carioca, na Cinelândia, região central do Rio de Janeiro.
A delegação CUTista compareceu com cerca de 10 mil trabalhadores, do campo e da cidade, e transformaram as ruas em um grande corredor vermelho. Lideranças como a recém-eleita secretária de Juventude da CUT-SC, Jucimara Araújo, que destacou a importância de conscientizar os jovens agricultores para que sejam multiplicadores de ideias tal como a necessidade de manter as áreas de preservação permanente nas pequenas propriedades.
Ela também apontou que a educação tem um papel fundamental no desenvolvimento sustentável. “Os jovens precisam sair de casa para estudar e o campo fica abandonado. A permanência da juventude na agricultura familiar está diretamente ligada à educação no meio rural. Não tem como continuar produzindo, e somos nós que cultivamos de maneira sustentável, sem educação de qualidade voltada à nossa realidade”, refletiu
Financiamento seletivo
Presidente da CUT, Artur Henrique, avaliou que a marcha refletiu um momento de indignação. “Foi um absurdo o que aconteceu ontem na Rio+20, onde os embaixadores disseram que não tem US$ 30 bilhões para o desenvolvimento sustentável, mas tem US$ 400 bilhões para colocar nos bancos com a finalidade de ajudar a crise do capitalismo nos maiores centros econômicos do mundo. Precisamos deste dinheiro para erradicar a miséria através da inclusão social.”
Segundo ele, porém, não há motivos para esmorecer. “É necessário continuar lutando contra a privatização da água, pela implementação das convenções da OIT (Organização Internacional do Trabalho), pela reforma agrária, pelo estabelecimento de metas para o desenvolvimento sustentável, contra a terceirização, pela redução da jornada e pelo fim do fator previdenciário”, citou como pautas do próximo semestre.
Secretária da Mulher Trabalhadora, Rosane Silva, destacou que outro modelo só é possível com novo foco. “Hoje é dia de os movimentos sociais, em sua diversidade, irem as ruas e mostrarem ao mundo que nós queremos um modelo de desenvolvimento centrado na vida humana com sustentabilidade do planeta”, disse.
A secretária de comunicação da CUT, Rosane Bertotti, ressaltou que é preciso colocar em prática as reivindicações da marcha. “A cúpula não acaba aqui. Esse não é o fim, mas apenas o começo para as mudanças que queremos que aconteçam.”
Também presente na manifestação, o coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antônio de Moraes, aponta que a categoria trabalha com um produto que suja o meio ambiente, mas afirma que, sob a ótica política da entidade, o recurso seria explorado de outra maneira. “Se a energia for gerada a partir de um planejamento e um controle rígido da sociedade, certamente não haverá os grandes acidentes ambientais no mundo.”
Ao comentar que a decisão dos governos na Rio+20 não sintetiza os desejos da maior parte da população do mundo, o secretário de Administração e Finanças da CUT, Vagner Freitas, também lembrou que a marcha deixa claro o papel dos movimentos sociais, colocar a reivindicação na rua para pressionar os chefes de Estado, a adotarem uma postura responsável.
Ele citou ainda a manifestação que a Central organizou no início desta semana pela taxação das transações financeiras e lembrou que a parte das propostas defendidas pelo sistema financeiro para acabar com a crise são exatamente aquelas que levaram a Europa e a América do Norte ao buraco. “Temos que ter a taxação, o retorno desse investimento para financiar políticas de transformação do atual modelo para um sustentável e o sistema financeiro deve estar voltado ao crédito e ao investimento com o controle da sociedade. Não pode estar restrito aos burocratas”, disse.
Momento de unidade
A secretária CUTista de Combate ao Racismo, Maria Júlia, defende que o combate à pobreza, um dos pilares do desenvolvimento sustentável, deve ter um recorte racial. “Não é possível que, numa nova sociedade, se perpetue a desigualdade de gênero e de raça.”
Dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra João Pedro Stédile sugeriu que, mais do que para falar mal dos governos, a manifestação deveria servir para iniciar um compromisso conjunto. “Devemos nos comprometer a voltar para nossos locais de trabalho e moradia e lá lutar todos os dias contra uma multinacional, contra um banco, contra aqueles que depredam o meio ambiente e exploram o povo.”
Não adianta anta o boicote midiático – No ato que encerrou a marcha, o presidente da CUT, Artur Henrique, enfatizou que o novo modelo de desenvolvimento tem que garantir trabalho decente, proteção social e direitos dos trabalhadores de todos os setores. Ainda alertou para a importância de a unidade dos movimentos sociais permanecer para chamar a atenção dos governos. “Queremos garantias dos nossos direitos e não adianta os grandes veículos de comunicação não divulgarem nossas reivindicações porque estamos nas ruas e nas ruas iremos continuar.”
O dirigente cutista afirmou que está previsto um debate sobre a agenda internacional para dar visibilidade e colocar em prática as negociações feitas aqui. “Infelizmente, os governos não querem pensar a médio e longo prazo, mas sim resolver imediatamente o problema da crise financeira mundial. Há pouca ousadia dos governos por conta da crise”, finalizou.