Os operários responsáveis pela construção da hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia, resolveram suspender as atividades greve após assembleia na manhã desta segunda-feira (26). Poucas horas depois, um impasse na votação em Jirau, outra usina em construção no Estado, resultou na suspensão da assembleia e na continuidade da paralisação.
Antes mesmo de o sol raiar, cerca de 8 mil trabalhadores se reuniam no canteiro de Santo Antônio para avaliar a proposta do consórcio comandado pela Odebrecht. A oferta de 5% de antecipação de aumento salarial, válido já para o início de abril, o pagamento dos dias parados e a ampliação do vale alimentação para todo o território nacional foi considerada ruim e o resultado foi o início oficial do movimento paredista.
Desde a última quarta-feira (21) os operários estavam dispensados pela direção da empresa por medida de segurança, após o acirramento da greve em Jirau. Durante a assembleia, dirigentes da CUT, da Confederação dos Trabalhadores na Indústria da Construção e da Madeira (Conticom) e do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Rondônia (Sticcero) alertaram para o que poderia representar o primeiro passo na abertura de um diálogo com os patrões para iniciar a campanha salarial.
A categoria, cuja data-base é em maio, cobra 30% de aumento salarial, pagamento de 100% de todas as horas extras, baixada de 10 dias a cada 70 trabalhados, entre outros pontos.
Proposta rejeitada
Secretário de Relações do Trabalho da Central, Manoel Messias, destacou que no ano passado, a mobilização resultou em um plano nacional para a construção civil e que a luta novamente poderia culminar em outro grande avanço: a definição de um piso unificado para a categoria. “Porém, para isso precisamos de muita organização e inteligência”, ressaltou.
Apesar de praticamente todas as grandes empreiteiras terem assinado, inclusive Odebrecht e Camargo Correa, um dos pontos fundamentais, a instalação de uma comissão permanente de negociação com representantes eleitos pelos trabalhadores ainda não foram colocados em prática.
Presidente da Conticom, Cláudio Gomes, acrescentou ainda que a unidade arrancou um reajuste de 11%, índice superior à média nacional.
“Naquele momento soubemos usar nosso direito à greve e conseguimos aprovar uma proposta que foi levada praticamente a todas as obras do PAC, porque aqui temos organização”, acrescentou, pouco antes de convocar um grupo de cinco representantes da base, presentes na assembleia, para integrar o processo de negociação.
Por fim, a maioria decidiu manter os braços cruzados até que nova pauta seja apresentada pelo consórcio.
Definição nas urnas – Já em Jirau, a assembleia com cerca de 6 mil pessoas terminou de forma curiosa: um empate entre aqueles que desejam retornar às atividades e os que querem manter a paralisação fez com que os dirigentes decidissem levar a definição às urnas.
A revolta teve início nos canteiros da Enesa Engenharia, contatada pelo consórcio Energia Sustentável do Brasil – por sua vez, comandado pela multinacional francesa Suez e pela Camargo Corrêa –, diante da falta de estrutura dos alojamentos e acabou por tomar conta de todos os setores da obra.
Criminalização do movimento- Além da greve, outro fator iguala os operários de Santo Antônio e Jirau: a criminalização por parte do Judiciário. Ambas as manifestações foram consideradas ilegais pela Justiça do Trabalho e impuseram ao Sticcero uma multa de R$ 200 mil por dia parado. No caso de Santo Antônio, a sentença saiu antes mesmo de a mobilização iniciar.
“A solução para o conflito é negociar, porque “judicializar” a greve é mero complicador”, avaliou Gomes, para quem, o principal empecilho à volta para o trabalho está na resistência das empreiteiras em negociar a ampliação do vale alimentação.
A novela terá um novo capítulo na manha desta terça, no Tribunal Regional do Trabalho, onde haverá uma audiência de conciliação do dissídio proposta pela Odebrecht. Claro, com proposta de retorno imediato às atividades e mais uma punição ao sindicato.