Em um ambiente masculino e machista, trabalhadoras petroleiras precisam romper barreiras diárias para conquistar mais espaço. Veja a reportagem do Sindipetro MG
[Da imprensa do Sindipetro MG]
A admissão de mulheres em cargos de Técnico de Operação se iniciou na Petrobrás desde 1975. De lá para cá muita coisa mudou em termos de tecnologia, mas a redução das desigualdades entre homens e mulheres caminha a passos lentos. A representatividade feminina no Sistema Petrobrás estagnou em 17% desde 2012 e as petroleiras ainda recebem remunerações menores que os homens com a mesma escolaridade, segundo levantamento feito pelo Dieese para a Federação Nacional dos Petroleiros (FUP).
Dentro de um ambiente masculino e machista, as petroleiras precisam romper barreiras diárias para conquistar mais espaço. Mesmo com todos os entraves, desde 2002, a participação feminina em cargos de chefia no Sistema Petrobrás tem aumentado, chegando a 19,4% em 2022 (Dieese).
Engana-se quem supõe que os índices desiguais na empresa tenham a ver com a aptidão para o trabalho, muitas vezes pesado. Vanessa Serbate é Técnica de Operação na Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim, atuando no setor de craqueamento há 15 anos. Entrou na companhia aos 18 anos, num concurso onde nem 10% das mulheres foram chamadas. Vanessa diz que se força física fosse uma exigência, seria pedido prova de aptidão física como fazem nos concursos para policial. “Já aconteceu de duas mulheres não poderem ficar no mesmo grupo ‘para equilibrar’, mas esse paradigma foi quebrado quando um supervisor colocou três mulheres juntas na equipe e deu tudo certo”.
“As mulheres não ficam para trás não”, reforça Ilnara Ferreira dos Santos, Técnica de Operação na Usina Termelétrica de Ibirité (UTE-IBT). Há 13 anos na função, ela garante que as petroleiras fazem um excelente trabalho. Ela ressalta alguns problemas enfrentados por elas como “machismo incutido, assédio velado e o desafio para equilibrar o trabalho e a vida pessoal”.
Machismo velado
Tanto Vanessa, mãe de três crianças, quanto Ilnara, mãe de dois, sentem-se privilegiadas por contar com uma rede de apoio em casa, onde os maridos dividem as tarefas do lar. Mesmo assim, contam que não é fácil equilibrar a rotina familiar e do trabalho. A sobrecarga mental afeta as mulheres de modo geral e costuma ser um problema invisível. “Eu me sinto uma equilibrista de pratos com o trabalho de turno e as obrigações familiares. Tem dia que fico 15 horas fora de casa, pois moro em Itaúna e gasto três horas no deslocamento de ida e volta ao trabalho”, relata Ilnara.
Ilnara comenta sobre o machismo revelado nas pequenas críticas e comentários no trabalho. Ela explica que quando um homem não estende a jornada, alegando ter compromisso com a família, é considerado um bom pai, mas quando o mesmo ocorre com a trabalhadora, ela é vista como alguém inadequada para um cargo de chefia ou é dito que não está 100% comprometida com o trabalho. Por outro lado, ela acredita que os homens costumam topar mais as oportunidades de horas extras para ganhar pontos e ter maior remuneração com isso. “Normalmente, eles não se sentem obrigados com a divisão das tarefas em casa, focando em suas carreiras sem culpa”, avalia.
Vanessa também ressalta o machismo que se manifesta até nos elogios. “Todo o tempo acabamos agindo como se tivéssemos que justificar a nossa presença pelo fato de sermos mulher num ambiente masculino. Fora comentários como o de que se deixassem as mulheres juntas elas iam querer pintar a área de rosa”, lembra indignada. Segundo ela, a presença das mulheres no ambiente masculino não é vista como natural. Estão sempre mostrando as diferenças de forma a rebaixar a nossa capacidade”, enfatiza.
Ela observa que a maioria dos homens nem percebe o comportamento machista e o quanto algumas atitudes podem tornar o ambiente de trabalho degradante e ofensivo. “Dizer que uma mulher poderia ter uma liderança mais suave, no fundo é exigir que as mulheres ajam conforme um padrão pré-estabelecido pelo machismo estrutural”, diz. “A sensação é a de que não somos capazes ou confiáveis o suficiente e que sempre nos é dada uma chance. Assim, as mulheres acabam precisando mostrar que são melhores que todos para sobressair ou alcançar um cargo de chefia”, opina a petroleira.
A realidade expressa pelas petroleiras exige uma reflexão quanto à reprodução do machismo no cotidiano. “É preciso que nós, homens, façamos uma reflexão sobre os nossos atos, colaborando, na prática, com um ambiente de trabalho digno, respeitoso e igualitário para as mulheres petroleiras, sejam próprias ou terceirizadas”, afirma o diretor do Sindipetro/MG, Felipe Pinheiro.