Em pleno século XXI, passados 119 anos da chamada abolição, negras e negros de nosso país continuam oprimidos. Pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e OEI (Organização dos Estados Ibero-americanos. Para a Educação, Ciência e a Cultura) demonstram que a população negra ainda enfrenta problemas de desigualdade social, como o desemprego, dificuldade no acesso à escola, renda inferior e violência. Segundo os estudos, o grau de escolaridade é menor e o rendimento médio é equivalente à metade do recebido pela parcela da população considerada branca. Nos dois estudos foi constatado que mais da metade dos desempregados são negros. Há ainda um triste destaque para mulheres negras ocupando os piores empregos, situação que está diretamente ligada ao racismo e preconceito no processo de seleção.
A baixa renda das famílias negras obriga boa parte dos jovens a abandonar precocemente a escola para o ingresso no mercado de trabalho. Segundo o “Mapa da Violência de 2006 – Os Jovens do Brasil”, divulgado pela OEI, é alto o índice de violência sofrida pelos negros. O estudo aponta que o jovem negro é o principal alvo: com 72,1% das mortes.
Outra forma de violência que podemos citar é a forma como os meios de comunicação e livros escolares retratam negros e negras – estereotipados como subalternos, escravos, sem família e como trabalhadores sem qualificação.
Por tudo isso, no dia 20 de novembro as organizações do Movimento Negro estarão unidas nas ruas clamando por:
· inclusão no mercado de trabalho dos trabalhadores negros e negras;
· titulação das terras das Comunidades Quilombolas;
· democratização do acesso da juventude negra à universidade pública;
· aprovação do Estatuto da Igualdade Racial;
· melhor distribuição de renda; acesso à saúde e educação com qualidade;
· cultura e lazer; habitação;
· respeito às religiões de matrizes africanas;
· contra o racismo, o machismo e a homofobia.
A história do dia 20 de novembro!
Em 1971, retomando uma longa e rica trajetória de participação política, o Movimento Negro sai às ruas para denunciar o racismo e lutar pela melhoria da condição de vida da população negra brasileira.
Em 20 de novembro 1971, há trinta e seis anos atrás, o Grupo Palmares de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, realizou o primeiro ato publico da historia do Brasil em homenagem a Zumbi.
Zumbi foi apresentado como herói nacional e o 13 de maio foi apresentado como farsa da abolição. Segundo o Jornal Versus, na seção do Afro-Latino América, a imprensa negra daquela época liderada pelo Jornalista Hamilton Cardoso havia uma polêmica em relação às comemorações do 13 de Maio.
O Núcleo Negro Socialista propunha sair às ruas nesta data porque avaliava que o 13 de Maio era uma data simbólica para população negra que ainda acreditava na “generosidade” da princesa Isabel e no mito democracia racial, e exatamente por estes motivos era necessário reconstruir essa história através de uma visão crítica sobre o que fora a Abolição da Escravatura.
Foi assim que o dia 13 de maio entrou no calendário de luta como o Dia Nacional de denúncia contra o Racismo. Enquanto o 20 de novembro foi instituído como o Dia Nacional da Consciência Negra. A data foi assumida pelo Movimento Negro Unificado em 1978 e a partir daí passou a ser comemorada por todas as organizações negras como a data mais importante da população brasileira.
Estava lançada a base para definição das duas principais bandeiras de luta do Movimento Negro Brasileiro uma representando a consciência social contra o racismo e a outra valorizando a memória de Zumbi dos Palmares.
Quem foi Zumbi dos Palmares?
Líder do Quilombo de Palmares e símbolo da resistência contra a escravidão que foi assassinado em 20 de novembro de 1695.
O Quilombo dos Palmares foi fundado no ano de 1597, nas terras da Serra da Barriga, atual estado de Alagoas. Em pouco tempo, o seu ideal de liberdade e competente organização fez com que o quilombo se tornasse uma verdadeira cidade.
Ate que em 1695, a expedição de Domingos Jorge Velho destruiu o Quilombo dos Palmares e assassinou Zumbi. Destruiu um território livre símbolo da resistência ao regime escravista e da consciência negra de homens e mulheres em busca da liberdade e da construção de uma nação.
Em 1995, depois de 300 anos de seu assassinato, foi realizada no dia 20 de Novembro, a Marcha Zumbi dos Palmares – contra o Racismo pela Igualdade e a Vida reunindo em Brasília cerca de 30.000 pessoas.
Zumbi dos Palmares foi oficialmente reconhecido pelo governo brasileiro como herói nacional.
Recuperar o ideário de Zumbi não é apenas rememorar Palmares, mas resgatar um importante exemplo de luta e organização pela emancipação do povo brasileiro.
Viva Zumbi dos Palmares!
Marcos Benedito
Coordenador da CNCDR/CUT
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