10 livros e filmes para entender porque combater o fascismo é obrigação

[Matéria do Sindipetro Unificado]

Obras ajudam a compreender importância de resistir a modelos fascistas

A primeira grande reação nas ruas ao governo autoritário de Jair Bolsonaro (sem partido) veio por meio de mobilizações que levantaram a bandeira antifascista no dia 31 maio.

Como é de se esperar, o inimigo do inimigo é tratado como um criminoso e logo Bolsonaro e bolsonaristas buscaram criminalizar os movimentos de resistência ao totalitarismo e em defesa da democracia.

Para compreender melhor do que se trata a luta antifascista, o Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo traz uma *lista de indicações de livros e filmes sobre o tema.

FILMES


TRUMBO – LISTA NEGRA
Estados Unidos, 2015
2h4min
Direção: 
Jay Roach

Dalton Trumbo foi um dos melhores roteiristas que passou por Hollywood, mas por conta de sua filiação ao partido comunista e sua luta por direitos trabalhistas, tornou-se alvo da patrulha anticomunista macartista que mirou as artes e, em especial, a indústria cinematográfica.

Ao recusar-se a cooperar com o Comitê de Atividades Antiamericanas, nome pomposo para a central de contrainformação estadunidense, foi preso e proibido de trabalhar, além de ter familiares e amigos afetados pela perseguição conservadora.

Disponível em Amazon Prime

O OVO DA SERPENTE
EUA/ Alemanha, 1977
2h
Direção:
 Ingmar Bergman

Talvez o filme mais indigesto de Ingmar Bergman, essa obra lança luz sobre como a manipulação adequada da insatisfação pode levar ao caminho do totalitarismo. O filme conta a história de um trapezista judeu desempregado que investiga a morte do irmão na Alemanha pré-nazismo.

Num país em colapso após a primeira grande guerra, em que as crises sociais se sucedem, com fome, desemprego e insegurança sobre o futuro, o ‘ovo da serpente’ começa a ser chocado para abrir portas a um líder tirano e populista. Ao invés de chocar, porém, os métodos racistas e cruéis parecem o tempero perfeito para a vingança de um povo diante da vergonha causada pela derrota na guerra. Após 43 anos, o material de Bergman segue lamentavelmente atual.

Disponivel no YouTube

TERRA E LIBERDADE
Inglaterra, Espanha, Alemanha e Itália, 1995.
1h50min
Direção:
 De Ken Loach

Vencedor de dois prêmios no Festival de Cannes, em 1995, o filme mostra a união entre trabalhadores, camponeses, movimentos de esquerda e democratas em geral contra o totalitarismo do governo do general Francisco Franco, na Espanha.

A trama gira em torno de um adolescente que, diante da iminente morte do avô, descobre que ele foi um veterano da Guerra Civil espanhola. Em formato de flashback, a história contada por Ken Loach, além de ser uma ode à utopia, mostra as múltiplas faces de um movimento de resistência em defesa da democracia.

SALÒ OU OS 120 DIAS DE SODOMA
Itália, França, 1975
1h54min
Direção:
 Pier Paolo Pasolini

Um dos mais indigestos filmes da história do cinema, ‘Salò ou 120 dias de Sodoma’, livremente inspirado em ‘Os 120 dias de Sodoma’, do Marques de Sade, ganha um caráter ainda mais incômodo nas mãos de Paolo Pasolini como um instrumento de crítica às ditaduras.

Na história, quatro fascistas sequestram 16 jovens e os colocam em um castelo onde são torturados durantes 120 dias.  As fortes cenas parecem querer aproximar o expectador da dor sofrida pelo grupo e são conduzidas por um bispo, o presidente de um banco, um duque e um juiz. Figuras atualíssimas quando pensamos nos pilares de sustentação do fascismo no Brasil.

As sessões de tortura são acompanhadas por suaves canções tocadas ao piano, provavelmente, uma metáfora para a relação entre governos autoritários e o povo, que sofre enquanto ouve que está tudo sob controle.

LIVROS

M, O FILHO DO SÉCULO
Antônio Scurti
Editora Intrínseca, 816 páginas

Indicada pela presidente Dilma Rousseff no 10º Sindipapo, o romance ‘M, o filho do século’, biografia romanceada de Mussolini, explica o regime fascista a partir de uma primorosa pesquisa.

Com a mistura de ingredientes como a invocação da antipolítica, a falta de credibilidade dos políticos e muita propaganda para definir um inimigo a ser destruído (o comunismo), nasce a figura da Mussolini. História que nos mostra como a vida é cíclica e como é grande nossa dificuldade em aprender com nossos erros.

LIÇÕES SOBRE O FASCISMO
Palmiro Togliatti
Editora Ciências Humanas – SP – 160 páginas

Com a consolidação do nazismo, a esquerda teve de rever sua atuação em todo o mundo e um dos pontos de resistência e ressurreição foi um curso ministrado pelo dirigente comunista italiano Palmiro Togliatti, que deu origem a essa obra. Didática e essencial para compreender, inclusive, o processo de cooptação de instituições que deveriam servir à democracia.

SOB O SIGNO DO SIGMA
Odilon Caldeira Neto
EDUEM – 234 páginas

Entrevistado recentemente pelo Sindipetro, Odilon Caldeira Neto se debruça sobre o antissemitismo do movimento integralista, desde suas origens na Ação Integralista Brasileira até os grupos mais recentes. E ajuda a desvendar as veias do fascismo no Brasil.

O POVO CONTRA A DEMOCRACIA
Yascha Mounk

Companhia das Letras, 432 páginas

Professor da Universidade de John Hopkins, Yascha Mounk aponta nesta obra, que traz um prefácio com uma análise sobre a eleição de Bolsonaro, a era da “desconsolidação da democracia”.

Para o autor, as origens do problema estão nas transformações nos meios de comunicação, na estagnação econômica e nos dilemas identitários, que vão da resistência aos imigrantes até às políticas inclusivas.

A partir disso, ele aponta três saídas que podem ajudar no debate para encontrar caminhos, inclusive no Brasil.

RUPTURA – A CRISE DA DEMOCRACIA LIBERAL
Manuel Castells
Editora Zahar – 152 páginas

Neste ensaio, o sociólogo espanhol Manuel Castells analisa a crise enfrentada pela democracia liberal e o surgimento de líderes autoritários em todo o mundo. Segundo ele, as transformações trazidas pelos meios de comunicação, ao mesmo tempo em que ampliam o desejo pelo protagonismo, também geram um receio diante do processo de globalização. E, como efeito colateral, resultam na escolha de representantes aparentemente ‘fora do sistema’ e que se sustentam na valorização do patriotismo (ainda que de araque, ao menos no Brasil).

De acordo com Castells, a ideologia de consumo levou a democracia liberal para o fundo do poço, assim como a distanciou do povo e gerou indivíduos que pouco se importam com o coletivo e que são incapazes de lidar com desejos não atendidos.

O autor destaca ainda que a insatisfação dos jovens com a política tem relação com a ideia de que os membros do Executivo e Legislativo se preocupam em atender interesses de parcelas diminutas da população. Pessimista, mas real.

SOBRE LUTAS E LÁGRIMAS – UMA BIOGRAFIA DE 2018
Mário Magalhães
Editora Record – 330 páginas

Do mesmo autor de ‘Marighella: o guerrilheiro que incendiou o mundo’, ‘Sobre lutas e lágrimas’ traz uma ‘biografia’ do ano que não acabou, com a morte de Marielle Franco, a eleição de Jair Bolsonaro e a prisão do ex-presidente Lula.

O jornalista Mário Magalhães elenca uma série de acontecimentos que um dia, quando olharmos para trás, talvez sejam difíceis de acreditar que realmente existiram. E que foram responsáveis por fazer 2018 se prolongar por 2019, 2020…


Colaboraram com a elaboração desta lista os jornalista Isaías Dalle, Vitor Nuzzi e o assessor político da CUT Júlio Turra.